sexta-feira, dezembro 02, 2005

Era naquela cave forrada a cortiça – ao fundo do corredor da escola em São João, que o Vasco nos dava aulas de formação musical. Na altura, ele estava na Escola Superior de Música e tentava transmitir algum do entusiasmo dele com o que ele próprio ia aprendendo.

Foi ele que me explicou a genialidade do Wagner: tocou os acordes iniciais do Tristão e Isolda e comparou-os com as cadências que tradicionalmente se faziam na época para iniciar óperas. Foi ele que apresentou ao Mahler. Foi ele que um dia nos fez um ditado melódico com o terceiro andamento, o Poco Allegretto, da terceira sinfonia do Brahms.

Esta semana chegou a minha casa um álbum da Deutsche Grammophon com o integral das sinfonias do Brahms, tocadas pela Berliner Philharmoniker, dirigida pelo Karajan. Comprado na Amazon, um preço fantástico para um duplo CD. Passei o dia de hoje todo deliciado a ouvi-lo.

Depois, senti necessidade de remexer na estante. Na minha mão está agora o Supernatural, o álbum do Santana que arrecadou uma série de Grammies e foi um grande sucesso. Não, não vou aqui discutir o que eu acho do Santana nem porque acho que ele é um bocado azeiteiro.

Dou todas as voltas possíveis e imaginárias ao panfleto do CD. Estão cá as menções a todos os artistas que participaram, convidados especiais como Eric Clapton, Rob Thomas, Eagle-Eye Cherry e Lauryn Hill. Mas não está uma menção incrivelmente importante.

Concretamente, falo da terceira faixa, aquela que conta com a presença do Dave Matthews. A música chama-se Love of my life e é, à excepção de algumas figuras rítmicas, um plágio do andamento do Poco Allegretto do Brahms. Nem uma referência a esse facto.

Eu sei que não há direitos de autor envolvidos, o Brahms bateu a caçoleta há tempo suficiente para os direitos estarem mais do que caídos no domínio público. Penso que têm uma duração na casa dos cinquenta anos.

De qualquer das formas, num CD repleto de dedicatórias de gosto discutível, não custava nada acrescentar uma mais do que merecida