O clarão repentino - do fósforo riscado na pequena e tosca caixa que se amachucava progressivamente no bolso dos jeans apertados. Era uma cena digna do genérico da Missão Impossível, quase juro ter-te ouvido ensaiar as notas iniciais enquanto o ritual de acender o cigarro se desenrolava à minha frente.
Comecei a fumar com treze anos.
Chegámos aqui a propósito de bóias. Começaste a fumar ainda de fraldas e, no entanto, eras totalmente contra drogas leves, a legalização não faz sentido nenhum. Eu, sem tentar esticar a corda, tentava argumentar que, para alguém que fumava pouco menos de um maço por dia, não tinhas um manancial de moral no qual descansar ou apoiar essa opinião.
Eu sei que é horrível, era muito nova
Mas não tinhas os dentes, os dedos, a pele dos verdadeiros fumadores daqueles que se percebe ser fumadores a milhas de distância. Nem sequer o cheiro. Talvez o escondesses por detrás do odor fresco do perfume que ficava o nariz. Aliás, se não te tivesse visto a aspirar o filtro amarelado descontraidamente não iria perceber. Pelo menos às primeiras apanhas.
Um mar de copos vazios erguia-se à nossa frente e eu começava a questionar a minha própria congruência. Podia sempre desculpar-me: são eles a falar por mim. De repente, olhos no vazio do copo esvaziado, pensava Camel? Rothmans? Mas depois o vermelho e o branco, coroados por um daqueles quadrados com letras grandes “Fumar mata”. Marlboro. Pela cor.
Não. Gosto mais de Lucky Strike.
Que também é vermelho e branco. Aproveitou para pedir ao empregado um maço que o que tinha estava praticamente a acabar. Estava a chegar a hora. Não tardaria para que tivéssemos que sair. Mais uma rodada para acabar? Claro, esta pago eu, a última foste tu.
Detestavas fósforos mas tinhas deixado o isqueiro dar as últimas sem o substituir. Detestavas o fumo dos cigarros alheios e impregnavas a minha roupa do teu fumo. Detestavas que te chateassem com a questão do tabaco mas acabavas sempre por falar seriamente sobre isso comigo. Sentias-te confortável comigo.
Ou seriam os copos a falar?
Comecei a fumar com treze anos.
Chegámos aqui a propósito de bóias. Começaste a fumar ainda de fraldas e, no entanto, eras totalmente contra drogas leves, a legalização não faz sentido nenhum. Eu, sem tentar esticar a corda, tentava argumentar que, para alguém que fumava pouco menos de um maço por dia, não tinhas um manancial de moral no qual descansar ou apoiar essa opinião.
Eu sei que é horrível, era muito nova
Mas não tinhas os dentes, os dedos, a pele dos verdadeiros fumadores daqueles que se percebe ser fumadores a milhas de distância. Nem sequer o cheiro. Talvez o escondesses por detrás do odor fresco do perfume que ficava o nariz. Aliás, se não te tivesse visto a aspirar o filtro amarelado descontraidamente não iria perceber. Pelo menos às primeiras apanhas.
Um mar de copos vazios erguia-se à nossa frente e eu começava a questionar a minha própria congruência. Podia sempre desculpar-me: são eles a falar por mim. De repente, olhos no vazio do copo esvaziado, pensava Camel? Rothmans? Mas depois o vermelho e o branco, coroados por um daqueles quadrados com letras grandes “Fumar mata”. Marlboro. Pela cor.
Não. Gosto mais de Lucky Strike.
Que também é vermelho e branco. Aproveitou para pedir ao empregado um maço que o que tinha estava praticamente a acabar. Estava a chegar a hora. Não tardaria para que tivéssemos que sair. Mais uma rodada para acabar? Claro, esta pago eu, a última foste tu.
Detestavas fósforos mas tinhas deixado o isqueiro dar as últimas sem o substituir. Detestavas o fumo dos cigarros alheios e impregnavas a minha roupa do teu fumo. Detestavas que te chateassem com a questão do tabaco mas acabavas sempre por falar seriamente sobre isso comigo. Sentias-te confortável comigo.
Ou seriam os copos a falar?
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