segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O efeito - é completamente adulterado num avião comercial. Embora perfeitamente ciente da manobra, mesmo quem viaja à janela não tem nem pode ter a noção de tudo. Numa avioneta, tudo muda de perspectiva.

O dia era de Inverno, daqueles em que a cautela recomenda que se fique em terra. Chuva que se despenhava contra a estrutura metálica com um ruído ainda mais ensurdecedor que o do motor. Vento que abanava e impedia um voo suave.

Primeiro ao longe, as torres brancas. Amontoadas, como que dispostas por alguém que constrói degraus para atingir o azul muito escuro e vivo do céu revoltado. Voámos aos ziguezagues, contornámos, evitámos. Vislumbrámos e eu aproveitei para pôr o dedo no botão da máquina e ir disparando a eito.

Até que o nariz do aparelho começou lentamente a furar aquela cor esbranquiçada. O aspecto fibroso lembra algodão doce ou esponja de encher almofadas. De repente, qualquer que seja a janela, não vejo nada à minha volta senão àquela textura suave e inebriante.

Um nervoso miudinho instala-se, mais do que nas manobras mirabolantes. Embora saiba que atravesso condensação, a limitação do sentido da visão entra pela racionalidade adentro e leva-me a imaginar o pior dos cenários que é uma colisão.

À luz ao fundo do túnel. A nuvem acabou. Saímos. Inteiros, ilesos, sãos e salvos. Lá em baixo continua a lezíria, o rio corre com pouco caudal, os campos continuam verdes. A ponte é o meu marco. Ao lado está a pista onde, dentro de pouco, aterraremos.