Quando era miúdo ficava entusiasmado - porque todos os miúdos gostam de circo. Ou, pelo menos, assume-se que gostam. Pensando no assunto agora, acho que era mais a vontade de querer gostar do que, de facto, gostar. Ia assistir sobretudo a reboque da escola primária. Havia sempre uma altura do ano em que surgia um agrupamento ambulante e a tenda era colocada num terreno baldio perto do liceu de São João. Chen, Cardinali, não passava muito disso.
Eram o momento alto da noite, mas eu nem com essa idade conseguia achar graça aos palhaços. Gostava que alguém me explicasse que graça tem ver uns tipos com fardamentas coloridas e sapatos compridos a falar terrivelmente alto e de forma infantil, a estatelarem-se ao comprido na pista e a espetarem com bolos e tartes na fronha uns dos outros? Mesmo com dez anos.
Tornei-me ainda mais crítico. Detesto números com animais. Acho deprimente que se ponham os cãezinhos aos saltos por cima do lombo uns dos outros, chimpanzés a pedalar bicicletas, elefantes a evitar pisar os domadores, cavalos a correr às voltas, tigres a saltar por arcos em chamas. Deixem os animais em paz. Fico sentado a assistir a rezar para que o tigre morda o tipo do chicote, da mesma forma que torço sempre para que o touro enfie os cornos no toureiro.
Depois há os ilusionistas. O único problema que tenho com estes caramelos é o simples e singelo facto de que me irritam. Eu até acho que há uns que são óptimos artistas e fazem truques porreiros. Mas sinto-me sempre enganado. Tenho sempre a sensação de que estou a ser levado à certa. De que estou a levar um grande baile.
Hoje em dia, acho interessantes números de destreza física, salvam a honra do convento. Por isso, as correntes de circo asiáticas são os que mais me aprazem. Como os russos e os chineses, excelentes ginastas. Abro uma excepção neste tipo de performances às contorcionistas. Se aquelas tipas que se viram todas do avesso soubessem o mal que estão a fazer aos seus corpos e a maravilha que fazem aos bolsos dos seus futuros ortopedistas, pensariam duas vezes antes de coçar as orelhas com os calcanhares.
O maior espectáculo do mundo comigo não pega. O mundo de fantasia e diversão e riso e espanto e emoção não me diz praticamente nada.
Eram o momento alto da noite, mas eu nem com essa idade conseguia achar graça aos palhaços. Gostava que alguém me explicasse que graça tem ver uns tipos com fardamentas coloridas e sapatos compridos a falar terrivelmente alto e de forma infantil, a estatelarem-se ao comprido na pista e a espetarem com bolos e tartes na fronha uns dos outros? Mesmo com dez anos.
Tornei-me ainda mais crítico. Detesto números com animais. Acho deprimente que se ponham os cãezinhos aos saltos por cima do lombo uns dos outros, chimpanzés a pedalar bicicletas, elefantes a evitar pisar os domadores, cavalos a correr às voltas, tigres a saltar por arcos em chamas. Deixem os animais em paz. Fico sentado a assistir a rezar para que o tigre morda o tipo do chicote, da mesma forma que torço sempre para que o touro enfie os cornos no toureiro.
Depois há os ilusionistas. O único problema que tenho com estes caramelos é o simples e singelo facto de que me irritam. Eu até acho que há uns que são óptimos artistas e fazem truques porreiros. Mas sinto-me sempre enganado. Tenho sempre a sensação de que estou a ser levado à certa. De que estou a levar um grande baile.
Hoje em dia, acho interessantes números de destreza física, salvam a honra do convento. Por isso, as correntes de circo asiáticas são os que mais me aprazem. Como os russos e os chineses, excelentes ginastas. Abro uma excepção neste tipo de performances às contorcionistas. Se aquelas tipas que se viram todas do avesso soubessem o mal que estão a fazer aos seus corpos e a maravilha que fazem aos bolsos dos seus futuros ortopedistas, pensariam duas vezes antes de coçar as orelhas com os calcanhares.
O maior espectáculo do mundo comigo não pega. O mundo de fantasia e diversão e riso e espanto e emoção não me diz praticamente nada.
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