quarta-feira, abril 26, 2006

Não admira - que a questão da imparcialidade surja várias vezes ao longo do filme. O jornalista da CBS que se despede com o “good night and good luck” que se estende ao título, faz questão de vincar, em determinados momentos, que aquela é a sua opinião ou da sua equipa.

A grande questão é a demarcação dos verdadeiros objectivos e natureza do programa. Mas confesso que saí da sala de cinema sem perceber se as águas estavam correctamente demarcadas, se se tratava de um programa de opinião ou simplesmente informativo.

Onde começa e acaba o dever de um jornalista só pode ser delimitado por uma fronteira ténue. Conseguir mover-se ao longo dela sem a cruzar exige uma capacidade de crítica e de análise que nem todos conseguem levar a cabo. Fingir-se apático é difícil.

É claro que há outros que nem sequer o querem fazer. Não suporto ver a Manuela Moura Guedes apresentar um suposto telejornal. Não contente com tomar partido nas notícias, solta comentários sarcásticos e insinuações populistas. Não há opiniões num telejornal senão as veiculadas por outros.

Não significa que não existam linhas que os jornalistas seguem. A atribuição de tempo de antena a determinada notícia, em si, já pode ser a emissão de uma opinião. Mas é uma orientação geral de uma dada publicação, aquela que toda a gente consegue identificar.

Este facto, por si só, não é forçosamente mau. É mais fácil interpretar aquilo que me relatam se eu souber qual é o posicionamente ideológico de quem o conta. Basta pensar na descrição que um adepto do Benfica faz do árbitro no jogo contra o Sporting e a versão do sportinguista.

É com esta finalidade que existe o editorial de um jornal. Para ser a sua voz, a identificação precisa da forma como pretende relatar a realidade. Para fornecer ao leitor uma espécie de chave de interpretação daquilo que publica

É essa também a razão pela qual O Público deveria reconsiderar a a sua política de assinar editoriais.