quarta-feira, abril 12, 2006

O mail – com o excerto do Diário da República que noticia a contratação de uma licenciada para gerir o site do Ministério da Justiça a troco de mais de três mil euros já me tinha passado pela vista. Mas, hoje foi a primeira vez que vi algo escrito no corpo do texto da própria mensagem. Corpo esse que afirma em título que se trata da filha do Ministro.

Eu não sei se o ficheiro com a imagem do Diário da República em anexo é verdade. Honestamente, se fosse, tendo em conta o país onde vivemos, não estranharia muito. Agora aquilo que eu sei é que duvido muito (e uma dúvida que entretanto posso confirmar) que essa pessoa não é a filha dele. Lá porque partilham o mesmo apelido, tal não significa que haja um grau de parentesco envolvido. Ainda para mais um como “Costa”, que não é propriamente invulgar. Quem conta um conto não resiste a acrescentar-lhe um ponto.

Parece que estive à espera de me deparar com uma coisa destas incorrecta para desbaratar. No entanto, o que vou escrever agora é perfeitamente independente da minha suspeita de incongruência na mensagem.

Utopicamente falando, a Internet é um meio altamente eficaz para desmascarar injustiças, pôr a nu escândalos, contribuir de alguma forma para uma população mais alerta e consciente. Utopias aparte, a Internet é também um mundo que não conhece fronteiras e, sobretudo, que não precisa de identificação e, por isso, extremamente querido à cobardia que se quer de rápida propagação. É demasiado fácil lançar um rumor e esperar pela infecção fulminante.

Um jornal também publica notícias erradas. Mas um jornal tem a cara dos seus jornalistas, editores e demais profissionais. Pode igualmente agir sem escrúpulos, mas os pouco escrupulosos são identificáveis ao ponto de, mesmo que com forças desproporcionais, responderem perante a lei. E não só, perante a própria opinião pública: o jornal tem um nome que pode cair no descrédito. E acho que não sou o único a dar muito mais crédito a uma notícia num jornal chamado “de referência” do que ao “Correio da Manhã” ou ao “24 Horas”.

Por tudo isto, acho piada às pessoas que se julgam feiticeiros de capa e espada e resolvem bombardear inboxs alheios com as “notícias” que receberam sabe-se lá de onde, como se estivessem a contribuir de uma forma decisiva para a reviravolta democrática do seu país. Isto, claro está, sem pararem um pouco para pensar na eventualidade de estarem a ser usados para denegrir a imagem de alguém ou alguma entidade. No limite, contribuir para aumentar o spam e o flooding de servidores e utentes.

Quem diz em relação a mails destes, diz em relações a qualquer hoax estilo “novo vírus ultra destrutivo” ou pedidos de sangue ou medula óssea urgentes para pessoas de que estão em risco de vida. Há também os ataques a empresas, dos quais o feito à MacDonalds será talvez o mais célebre, passando por grandes cadeias de pronto-a-vestir como a Ralph Lauren, se não estou em erro, vítima de acusações há uns meses atrás. E isto, é claro, já para não falar nos grandes clássicos das criancinhas de África sem quinze braços e oito pernas, exactamente como vamos ficar se não reenviarmos o mail a vinte e sete pobres amigos que nos tenham confiando os seus endereços.

No limite, nem tudo o que veiculam será mentira nem eu tenho a pretensão de o afirmar. Mas tenho a pretensão de dizer que a verificação é complexa, a credibilidade é muito baixa (mesmo quando assinada em baixo por professores de faculdades e médicos) e que a probabilidade de acertar é reduzida. Ou seja, a eventualidade de acertar não compensa os erros.


Caros heróis da divulgação virtual de novas bombásticas: a vossa quimera a espalhar a “palavra” alimenta a criação de mais tretas porque potencia o impacto. Lembrem-se que de uma coisa inventada há muito tempo chamada capacidade crítica e outra subsequente que se chama triagem.

Por favor, apliquem ambas criteriosamente antes de me enviarem as vossas mensagens electrónicas.