Dois anos e meio depois - atravessei o centro da cidade novamente. Primeiro de táxi, acabado de chegar do aeroporto. Parou do outro lado da rua da paragem do autocarro e disse “c’est ici”. Instalado no hotel, disse não ao jantar que o funcionário me perguntou se queria que ele me providenciasse.
Merci, ça va, je vais me balader un peu.
Saímos os cinco naquele sábado. Os outros haviam de ir mais tarde. Fomos buscar o carro à Avis no dia anterior e aproveitámos a viatura para não ter de carregar as compras nas mochilas. Saímos cedo. Fizemos os cerca de duzentos quilómetros relativamente rápido.
Talvez porque foi apenas um dia, de pouco me conseguia lembrar a semana passada quando me falaram no Luxemburgo. À minha frente, via o edifício da estação de comboios, onde parámos assim que chegámos para pedir ajuda com direcções. Depois, lembrava-me do anjo lá no alto do pedestal, com a coroa nas mãos. De costas para o vale verde.
Não tinha frio mas devia estar algum. Não havia quase ninguém na rua. Atravessei a ponte rapidamente, evitei os adolescentes que tentavam sacar trocos aos turistas. Nem sequer podia usar a minha língua como escudo de defesa, em boa hora me ocorreu que aquela terra foi co-colonizada por conterrâneos.
Français…? Deutsch…? English…? Portugais…?
Achei piada, quase sintomático ter dito “português” em francês. Ao fundo já via a estátua lá no alto, à direita a igreja, um pouco tapada pelos andaimes de umas obras. Sabia que bastava chegar mais um pouco mais à frente e enveredar pelas ruas, estaria seguramente no centro da cidade, nem seria necessário tirar o mapa de papel que o tipo do hotel assinalou do bolso de trás das calças.
A praça. Eu sabia que assim que virasse a cabeça para a direita, ia encontrar aquele “i”. E lá estava ele. Senti-me parvo a tirar fotografias a um posto de turismo, é estranho o que nos pode marcar em viagem. O “Quick”, a cadeia que não sai dos países francófonos. O coreto, mesmo no meio. As esplanadas. Vazias.
Depois percebi porquê. Em direcção à praça do Guilherme, a passagem do hotel que me encheu o olho assim que a revi porque não a antecipei. Do outro lado, tudo cheio. Uma feira. Gente. Confusão. Misturei-me, atravessei de um lado ao outro. E vi, lá ao fundo, na rua de peões, o palácio. Parei ao pé e deixei-me relembrar.
Voltei à feira. Com um intuito. Descobrir a banca das wurst que via nas mãos de algumas pessoas. Aquelas tão compridas que não cabem no pão. O salsichame. O homem perguntou-me que “sauce” queria, respondi maionnaise rápido e, possivelmente afectado, comecei a afastar-me sem pagar. Soltei uma exclamação enquanto me virei e levei a mão à carteira. O homem riu-se.
No dia seguinte, segui as indicações divididas entre os experientes de Lisboa e os locais. Apanhei o 18 na gare. Com um mapa na mão para acompanhar o trajecto e voltar a sentir a cidade. C’est jusqu’aprés le pont. E assim que o veículo se afastou da estrada principal e enveredou pela de sentido único, quase senti um baque.
Já ali tinha estado. A dica do Sofitel fez-me despertar e relembrar que tinha que sair. Segui os demais engravatados em direcção à entrada principal, aquela onde tirámos esta fotografia. Tudo estava deserto naquele dia de Outono porque era fim-de-semana. Desta vez, a azáfama era mais que muita. A entrada principal lá ao fundo.
Foi a primeira vez que viajei totalmente sozinho. Sempre achei que não ia gostar. Ainda não sei se tinha razão. Mesmo quando em cada esquina fui bombardeado com nostalgia. Sobretudo aquela, perto da qual estava o restaurante patrício, aquele do caldo verde e da bica. Aquele das fotografias com os óculos escuros da F.
Dois anos e meio depois, atravessei a entrada principal do edifício Jean Monnet. Com mais cabelo, outros óculos. Os cerca de cinco quilos a mais poderiam ser a justificação para outras calças. Mas foi o intuito não turístico a pôr-me a gravata.
Dois anos e meio depois, é por aqui que eu ando. E vocês…?
Merci, ça va, je vais me balader un peu.
Saímos os cinco naquele sábado. Os outros haviam de ir mais tarde. Fomos buscar o carro à Avis no dia anterior e aproveitámos a viatura para não ter de carregar as compras nas mochilas. Saímos cedo. Fizemos os cerca de duzentos quilómetros relativamente rápido.
Talvez porque foi apenas um dia, de pouco me conseguia lembrar a semana passada quando me falaram no Luxemburgo. À minha frente, via o edifício da estação de comboios, onde parámos assim que chegámos para pedir ajuda com direcções. Depois, lembrava-me do anjo lá no alto do pedestal, com a coroa nas mãos. De costas para o vale verde.
Não tinha frio mas devia estar algum. Não havia quase ninguém na rua. Atravessei a ponte rapidamente, evitei os adolescentes que tentavam sacar trocos aos turistas. Nem sequer podia usar a minha língua como escudo de defesa, em boa hora me ocorreu que aquela terra foi co-colonizada por conterrâneos.
Français…? Deutsch…? English…? Portugais…?
Achei piada, quase sintomático ter dito “português” em francês. Ao fundo já via a estátua lá no alto, à direita a igreja, um pouco tapada pelos andaimes de umas obras. Sabia que bastava chegar mais um pouco mais à frente e enveredar pelas ruas, estaria seguramente no centro da cidade, nem seria necessário tirar o mapa de papel que o tipo do hotel assinalou do bolso de trás das calças.
A praça. Eu sabia que assim que virasse a cabeça para a direita, ia encontrar aquele “i”. E lá estava ele. Senti-me parvo a tirar fotografias a um posto de turismo, é estranho o que nos pode marcar em viagem. O “Quick”, a cadeia que não sai dos países francófonos. O coreto, mesmo no meio. As esplanadas. Vazias.
Depois percebi porquê. Em direcção à praça do Guilherme, a passagem do hotel que me encheu o olho assim que a revi porque não a antecipei. Do outro lado, tudo cheio. Uma feira. Gente. Confusão. Misturei-me, atravessei de um lado ao outro. E vi, lá ao fundo, na rua de peões, o palácio. Parei ao pé e deixei-me relembrar.
Voltei à feira. Com um intuito. Descobrir a banca das wurst que via nas mãos de algumas pessoas. Aquelas tão compridas que não cabem no pão. O salsichame. O homem perguntou-me que “sauce” queria, respondi maionnaise rápido e, possivelmente afectado, comecei a afastar-me sem pagar. Soltei uma exclamação enquanto me virei e levei a mão à carteira. O homem riu-se.
No dia seguinte, segui as indicações divididas entre os experientes de Lisboa e os locais. Apanhei o 18 na gare. Com um mapa na mão para acompanhar o trajecto e voltar a sentir a cidade. C’est jusqu’aprés le pont. E assim que o veículo se afastou da estrada principal e enveredou pela de sentido único, quase senti um baque.
Já ali tinha estado. A dica do Sofitel fez-me despertar e relembrar que tinha que sair. Segui os demais engravatados em direcção à entrada principal, aquela onde tirámos esta fotografia. Tudo estava deserto naquele dia de Outono porque era fim-de-semana. Desta vez, a azáfama era mais que muita. A entrada principal lá ao fundo.
Foi a primeira vez que viajei totalmente sozinho. Sempre achei que não ia gostar. Ainda não sei se tinha razão. Mesmo quando em cada esquina fui bombardeado com nostalgia. Sobretudo aquela, perto da qual estava o restaurante patrício, aquele do caldo verde e da bica. Aquele das fotografias com os óculos escuros da F.
Dois anos e meio depois, atravessei a entrada principal do edifício Jean Monnet. Com mais cabelo, outros óculos. Os cerca de cinco quilos a mais poderiam ser a justificação para outras calças. Mas foi o intuito não turístico a pôr-me a gravata.
Dois anos e meio depois, é por aqui que eu ando. E vocês…?
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