O cansaço - uniu-nos na parca vontade de fazer seja o que for de produtivo. Os dois dentro da sala, na ausência das prováveis testemunhas inquisitórias, não teríamos qualquer hipótese de um futuro peso de consciência. Automática e diligentemente, afastámos os livros para o lado, deslizaram no tampo escuro da pesada mesa oval. E começámos a falar.
Poderia ter sido um concurso de cansaço, uma medição de olheiras, uma contabilização de pontapés nas horas de sono supostamente sãs. Terias também um ardor constante à volta dos olhos como eu? Sentirias a cabeça feita em água, relutante em começar qualquer espécie de raciocínio?
Os pontos de contacto existem mesmo em pessoas com percursos de vida e actividades profissionais tão díspares. Admiro o teu desenrascanço, o teu caminho que é sempre para a frente. A total ausência de papas na língua. O manifesto interesse em culturas alheias. Invariavelmente, a conversa segue esse rumo. A somar ao da crítica dos respectivos países de berço.
Nem é só nos instrumentos propriamente ditos que são os códigos linguísticos. É também nos assuntos. Esquivar-me a perceber minimamente de futebol seria auto-excluir-me de grande parte das conversas das segundas de manhã, depois dos resultados de mais uma jornada. Os assuntos são, portanto, uma espécie de pedra basilar, a água do cimento das conversas.
Gosto de sentir que me estou a esforçar para não bloquear na ausência de vocabulário. Para não vacilar quando sei que uma palavra de pronúncia mais exigente está para chegar. Aqui e ali, corriges-me com uma tal naturalidade que a secura com que o fazes deixa de existir. E, por isso, sinto que te posso responder na mesma moeda quando o erro é teu na minha língua.
Com tudo isto, és daquelas pessoas que me fazem solidificar a ideia de que tudo é comunicação. É o propósito derradeiro. Nada disto faz sentido se não for para podermos estar aqui uma hora (que só não foi mais porque tínhamos onde estar depois) no parlapié. Também deve haver alguma curiosidade e algum interesse ou masoquismo, dependendo do ponto de vista, em dominar as regras. Mas, no limite, tudo se resume a limpar as distracções e poder soltar as amarras da língua.
É como música. Não são as notas que interessam. Qual dó qual ré qual carapuça. Não são as pautas. Não são as claves, as linhas e os espaços. As semínimas, as mínimas, as breves, as colcheias. Nem sequer a cifra da harmonia. Nenhuma dessas componentes que não passa da gramática de outro tipo de língua. São os sons. O objectivo único.
Porque são esses que deveras comunicam.
Poderia ter sido um concurso de cansaço, uma medição de olheiras, uma contabilização de pontapés nas horas de sono supostamente sãs. Terias também um ardor constante à volta dos olhos como eu? Sentirias a cabeça feita em água, relutante em começar qualquer espécie de raciocínio?
Os pontos de contacto existem mesmo em pessoas com percursos de vida e actividades profissionais tão díspares. Admiro o teu desenrascanço, o teu caminho que é sempre para a frente. A total ausência de papas na língua. O manifesto interesse em culturas alheias. Invariavelmente, a conversa segue esse rumo. A somar ao da crítica dos respectivos países de berço.
Nem é só nos instrumentos propriamente ditos que são os códigos linguísticos. É também nos assuntos. Esquivar-me a perceber minimamente de futebol seria auto-excluir-me de grande parte das conversas das segundas de manhã, depois dos resultados de mais uma jornada. Os assuntos são, portanto, uma espécie de pedra basilar, a água do cimento das conversas.
Gosto de sentir que me estou a esforçar para não bloquear na ausência de vocabulário. Para não vacilar quando sei que uma palavra de pronúncia mais exigente está para chegar. Aqui e ali, corriges-me com uma tal naturalidade que a secura com que o fazes deixa de existir. E, por isso, sinto que te posso responder na mesma moeda quando o erro é teu na minha língua.
Com tudo isto, és daquelas pessoas que me fazem solidificar a ideia de que tudo é comunicação. É o propósito derradeiro. Nada disto faz sentido se não for para podermos estar aqui uma hora (que só não foi mais porque tínhamos onde estar depois) no parlapié. Também deve haver alguma curiosidade e algum interesse ou masoquismo, dependendo do ponto de vista, em dominar as regras. Mas, no limite, tudo se resume a limpar as distracções e poder soltar as amarras da língua.
É como música. Não são as notas que interessam. Qual dó qual ré qual carapuça. Não são as pautas. Não são as claves, as linhas e os espaços. As semínimas, as mínimas, as breves, as colcheias. Nem sequer a cifra da harmonia. Nenhuma dessas componentes que não passa da gramática de outro tipo de língua. São os sons. O objectivo único.
Porque são esses que deveras comunicam.
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