domingo, junho 11, 2006

Há dois tipos de grandes jogadores: os que só ganham em Roland Garros; os que ganham tudo o que há para ganhar excepto Roland Garros. Pronto, há mais um grupo, que é o dos que ganham em tudo, incluindo Roland Garros mas é tão pequeno (Roy Emerson, Rod Laver, Fred Perry, André Agassi e Don Budge) que por pouco nem dava para poderem jogar à sueca.

A imprensa e os críticos desportivos sempre atacaram e colocaram pressão sobre o Pistol Pete por este nunca ter levantado o troféu em Paris. Não foi por isso que deixaram de lhe chamar o melhor. E não um melhor qualquer. O de todos os tempos. Pudera. Quem se atreveria a mandar a primeira pedra ao maior coleccionador de taças de Grand Slam da história do desporto? Ele respondia apenas que não tinha nada a provar a ninguém.

Pessoalmente, acho que o Federer é ainda melhor que o americano de ascendência grega. Para além daquela capacidade inata de tirar o coelho da cartola quando é preciso, o suíço tem a técnica, a elegância, a souplesse que o tipo das sobrancelhas farfalhudas nunca teve. Talvez por isso, acho que ainda tem alguma coisa a provar.

Porque o resto, ele já o fez. Enfim, é certo que ainda “só” possui metade dos títulos do Sampras. Mas isso deve ser apenas uma questão de tempo, facilmente contornável para quem ainda vai a caminho do quarto de século. Para além de que isso é menos relevante, quem ganhou Wimbledon três vezes consecutivas não tem grande dificuldade em dizer que sabe jogar em relva.

E é aqui que entra a importância da final de hoje. Se Federer é de facto o jogador por excelência, terá que passar por cima do Nadal. Não tem outra hipótese. Se não o fizer, não será um Boris Becker que nunca ganhou nada em terra batida, é um facto. Mas arrisca-se seriamente a ser outro Sampras. Daqueles que, supostamente, não têm nada a provar.

O resto não interessa. Todos os outros records de que se fala são redundantes. Marcar presença na oitava meia-final de Slam consecutiva e chegar até ao Ivan Lendl, igualar Rod Laver com uma limpeza dos Slams de um ano inteiro, embora sem ser pela ordem do calendário, soa-me mais a prova de circo ou record do Guiness, imediamente a seguir ao da maior feijoada do mundo na Ponte Vasco da Gama.

A proeza em si mesmo de vencer em todas as superfícies é a vitória da polivalência, da capacidade de adaptação às circunstâncias adversas. É aprender a lidar com a superfície menos imediata. É reconhecer um adversário à altura e saber encontrar a resposta adequada. É vencer as dificuldades. E pelo caminho, destronar Sampras e tornar-se o melhor tenista de todos os tempos.


Nadal leva 59 jogos em terra batida sem perder. Nadal lidera no frente-a-frente, cinco vitórias e uma derrota. Embora nas últimas duas vezes que se defrontaram, o equilíbrio tenha sido a nota predominante. Aliás, no masters de Roma, o suíço chegou inclusivamente a ter matchpoint e não conseguiu fechar. Federer chegou sete vezes a uma final de Grand Slam e nunca perdeu nenhuma.

Poderá haver melhor envolvente para um jogo de ténis?