No final do mês passado, fui ver uma das óperas mais brilhantes que existem, escrita por um dos tipos mais brilhantes que já existiu. O Anel de Nibelungo, a primeira parte de Das Rheingold, o Ouro do Reno.
À partida, uma ópera diferente, fora do clássico. Não há amores proibidos, tragédias de faca e alguidar, tipos mortos, suicídios e o espectáculo não acaba com uma gorda a cantar desalmadamente e a morrer de desgosto. Deixo o recado para quem acha que o J.R.R.Tolkien era um génio, muito imaginativo, original e criativo, deveria prestar mais atenção às obras do Wagner para descer um bocadinho à terra.
Esta breve introdução, embora tenha tergiversado para mandar a farpa aos amantes da trilogia do Senhor dos Anéis, serve apenas, como qualquer boa introdução que se preze, para introduzir o que verdadeiramente interessa: lembrei-me que me esqueci de refilar. Com o São Carlos.
As óperas à séria são no São Carlos. Quais mega operações no Pavilhão Atlântico, Traviatas e Flautas Mágicas, Coliseus, ou mesmo a célebre Aida no Estádio Nacional. É o mesmo que ver futebol num autódromo. E não é só pela sala em si e acústica, é também pela qualidade das produções, dos encenadores, dos músicos. Ou seja, também é o mesmo que ver Fórmula 1 disputada em triciclos.
Há uma ideia generalizada, com a qual os responsáveis da sala devem estar de acordo, de que não vale a pena fazer temporadas muito grandes, ter muito tempo em cartaz uma dada produção, muitas récitas. Isto porque não há público que justifique. O que faz todo o sentido, tendo em conta que os bilhetes esgotam num ápice assim que são postos à venda.
Não é o desfilar das figuras públicas e das elites em si que me irrita, também têm direito. E sempre vou achando graça ao provincianismo: é vê-los chegar todos engalanados, parece que estão à porta de uma igreja onde se vai celebrar um casamento. Tipos de smoking e tudo. A certa altura não contive o meu sorriso quando olhava para eles do alto da minha t-shirt e das minhas calças de ganga: estavam a morrer de calor de gravata, usavam o programa do espectáculo como leque improvisado.
O que me irrita é o facto de poucos comuns mortais terem o direito a passear nesse circuito muito fechado. Irrita-me esta deliberada vontade de manter o espectáculo da ópera encarcerado, voltado apenas para os umbigos das pessoas do jet set. O São Carlos não quer ser divulgador, pretende manter o status quo e ter na sua sala apenas a fina-flor da sociedade portuguesa.
Finalmente, o que me irrita até ao limite é ficar com a impressão que há muito tio e muita tia que vai à ópera só pelo happening social. Tenho sérias dúvidas que saibam apreciar minimamente a maravilha que estão a ver. Burros e pão-de-ló, pérolas e porcos. E até devem ter convites e bilhetes à borla, uma forma de garantir um bom ambiente dentro da sala.
À partida, uma ópera diferente, fora do clássico. Não há amores proibidos, tragédias de faca e alguidar, tipos mortos, suicídios e o espectáculo não acaba com uma gorda a cantar desalmadamente e a morrer de desgosto. Deixo o recado para quem acha que o J.R.R.Tolkien era um génio, muito imaginativo, original e criativo, deveria prestar mais atenção às obras do Wagner para descer um bocadinho à terra.
Esta breve introdução, embora tenha tergiversado para mandar a farpa aos amantes da trilogia do Senhor dos Anéis, serve apenas, como qualquer boa introdução que se preze, para introduzir o que verdadeiramente interessa: lembrei-me que me esqueci de refilar. Com o São Carlos.
As óperas à séria são no São Carlos. Quais mega operações no Pavilhão Atlântico, Traviatas e Flautas Mágicas, Coliseus, ou mesmo a célebre Aida no Estádio Nacional. É o mesmo que ver futebol num autódromo. E não é só pela sala em si e acústica, é também pela qualidade das produções, dos encenadores, dos músicos. Ou seja, também é o mesmo que ver Fórmula 1 disputada em triciclos.
Há uma ideia generalizada, com a qual os responsáveis da sala devem estar de acordo, de que não vale a pena fazer temporadas muito grandes, ter muito tempo em cartaz uma dada produção, muitas récitas. Isto porque não há público que justifique. O que faz todo o sentido, tendo em conta que os bilhetes esgotam num ápice assim que são postos à venda.
Não é o desfilar das figuras públicas e das elites em si que me irrita, também têm direito. E sempre vou achando graça ao provincianismo: é vê-los chegar todos engalanados, parece que estão à porta de uma igreja onde se vai celebrar um casamento. Tipos de smoking e tudo. A certa altura não contive o meu sorriso quando olhava para eles do alto da minha t-shirt e das minhas calças de ganga: estavam a morrer de calor de gravata, usavam o programa do espectáculo como leque improvisado.
O que me irrita é o facto de poucos comuns mortais terem o direito a passear nesse circuito muito fechado. Irrita-me esta deliberada vontade de manter o espectáculo da ópera encarcerado, voltado apenas para os umbigos das pessoas do jet set. O São Carlos não quer ser divulgador, pretende manter o status quo e ter na sua sala apenas a fina-flor da sociedade portuguesa.
Finalmente, o que me irrita até ao limite é ficar com a impressão que há muito tio e muita tia que vai à ópera só pelo happening social. Tenho sérias dúvidas que saibam apreciar minimamente a maravilha que estão a ver. Burros e pão-de-ló, pérolas e porcos. E até devem ter convites e bilhetes à borla, uma forma de garantir um bom ambiente dentro da sala.
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