terça-feira, junho 13, 2006

Olhou escandalizada - para a caneta que eu tinha mão, com a publicidade de uma marca de que já não me lembro estampada no corpo branco. Achava-a indigna, não merecedora do nobre acto da escrita. Não transmite carisma, não permite personalizar a caligrafia. Só usava tinta permanente.
Detesto esferográficas.
Tirou-me o livro da frente. Virou-o para si, ajeitou-o. Abriu o estojo. Rodou a tampa preta, segurou delicadamente, o verniz das unhas polidas contrastava com a cor. E começou a escrever. Lentamente. Da mesma forma que a tinta se infiltrava nas fibras do papel.
Não toques.
Passado pouco tempo, secava.
No fim, a sucessão de letras sem sentido. Um estilo quase gótico, parecia o trabalho dum monge copista da idade média. Tive que dar o braço a torcer, disse que ficava bonito.
Mas não a deixei fugir sem lhe dizer que de prático não tinha nada, quem precisa de escrever rápido e não tem tempo para perder com mariquices não usa essas canetas.
Fez-me a cara de desapontamento, a cabeça a rodar lateralmente em sinal de desaprovação, soltou algumas vezes uns “tsss tsss”, pôs a mão no meu ombro.

Nunca te disseram que é tudo uma questão de prática…?