segunda-feira, junho 05, 2006

Tudo começou - quando ainda era adolescente. As primeiras noitadas levaram aos primeiros copos, depois vieram as passas de tabaco, seguidas das brocas e do chamon. Quando deu por si, Zé Tolas estava a meter ácidos e ecstasy, passava as noites na disco de garrafa na mão a curtir trips. Daí até às drogas duras, a chutar na veia cavalo, foi um vê se te avias.

O vício não é barato, toda a gente sabe e, para quem não trabalhava, os problemas estavam à porta. Como arranjar carcanhol para a próxima dose. Quando a avozinha do Zé Tolas deu conta da ausência do cartão de crédito e reparou que as suas poupanças haviam sido delapidadas e, inclusivamente, as pratas, a baixela e o faqueiro tinham umas peças a menos, não foi de modos e fez um ultimato: ou vais para a clínica de desintoxicação ou vais para a rua.

Pouco interessado em meter metadona para o sistema em vez do pó branco, Zé Tolas não teve outro remédio senão fazer-se à vida. Começou a estacionar carros no centro da cidade. Primeiro escangalhou todos os parquímetros que encontrou e estabeleceu-se numa rua. Mal sabia ele que esta coisa dos carochos é negócio concorrido. Foi espancado por uns maganos que não toleraram a ingerência na zona deles e a fase de empreendedor rapidamente passou.

De maneira que não teve outro remédio senão enveredar pelo mundo obscuro do crime. Pequenos furtos aqui e ali, malas de senhoras de esticão, fananços dentro de lojas, aprendeu a nobre arte dos carteiristas e aplicou-a no metro da hora de ponta. Pensava ele que finalmente tinha um esquema bem montado e oleado quando foi apanhado em flagrante delito pela polícia.

O seu nome foi relacionado a uma série de outros crimes e o Zé Tolas foi dentro. Na cana, sofreu horrores. Nem sempre conseguia acesso ao pó miraculoso e o seu corpo torcia-se em convulsões com a síndrome de abstinência. Até que, um belo dia, achou que era demais, a sua vida tinha de mudar, tinha de tomar um novo rumo que, até hoje, nunca tivera.

Resolveu obter uma qualificação profissional, aprender um ofício que lhe permitisse ter uma actividade honesta e que lhe pusesse o pão na mesa assim que terminasse o seu tempo. Estava apostado em reintegrar-se na sociedade. Uns recomendavam-lhe a carpintaria, outros achavam que teria jeito para trabalhar com electricidade.

Disse que não a ambos. Após alguma introspecção, ocorreu-lhe uma actividade que lhe permitiria relembrar-se que a luta contra a droga é travada diariamente e que a recaída está sempre ao virar da esquina e, também, aproveitar todos os conhecimentos adquiridos ao longo de anos a chutar cavalo.

E foi assim que Zé Tolas abriu o seu consultório de acupunctura e outras medicinas alternativas, ao mesmo tempo que faz uns biscates numa loja de tatuagens.