Dizes que devo estar cheio de fome, que tenho que comer, alimentar-me bem. Enfias-te na cozinha, abres o frigorífico, armários, remexes tudo enquanto a tua cabeça junta as peças do puzzle e magicas em três tempos algo que possas cozinhar. Digo-te que quero ajudar. Afinal, está longe de ser a primeira vez que me vês de avental e utensílios na mão.
Mas não queres. Estou de férias e, portanto, não tenho que fazer nada. Ordenas que me sente com aquela autoridade que partilha o teu rosto com um sorriso. E eu vejo-te a andar de um lado para o outro. A conversa é entrecortada, interrompida aqui e ali, quando te agachas e procuras um tacho, quando te pões em bicos dos pés para tirar o prato da prateleira de cima.
Sentas-te à minha frente, na mesa de madeira assim que tens tudo ao lume. Tens a melhor faca na mão e estás a cortar tomate e queijo mozarrela. Porque te apeteceu. O teu corpo sugere-te aquilo que vais querer comer pondo-te o sabor dos alimentos na língua, muito antes de os levares à boca.
Conversamos e vais-me pondo os bocados mais irregulares na boca; com os que ficam bem cortados, enfeitas um prato a preceito. Tiras também alguns para ti e eu sei que pouco mais que isso vais jantar. Já antes me tinhas avisado para que não me preocupasse: não andas bem disposta, andas a comer pouco e com grande selectividade.
Já passa das duas da manhã e amanhã tens que trabalhar. O chá arrefece na pequena chávena onde puseste mel e tu fizeste-me as perguntas. Todas. Fáceis e supostamente difíceis. Não faltou nenhuma. Com a naturalidade de quem fala de uma qualquer banalidade.
Discorreste sobre o que achas que eu deva fazer a todo o momento. Usas a diferença das nossas idades para te colocares numa espécie de plano elevado em relação a mim, um púlpito, um estrado, a partir do qual sentes a altura a transformar-se em sapiência. E autoridade.
E dissecas-me. Todo. De uma ponta à outra. Acho piada e sorrio. Avanças com conselhos e sugestões. Tens sempre observações, uma análise profunda. Talvez porque sabes que sou um céptico, dás-me sempre a tua interpretação cósmica ou astrológica das coisas, das situações, dos eventos.
Depois invertemos os papéis. Sem sobressaltos, quase nem se nota. Se calhar porque eu pergunto pouco. E, se de facto o fizesse, seria supérfluo. Falas de ti e eu não chego a perceber se é porque sentes necessidade de retribuir ou se é porque deveras o queres fazer. Uma vez mais, pode ser a diferença de idades a sobressair.
E tens para me contar quase na íntegra o que poderias ter criticado uns minutos antes em relação a mim. Com naturalidade. Semicerras os olhos quando é mais difícil dizer as coisas, a tua testa franze-se um pouco e olhas para a chávena agora vazia enquanto a inclinas ligeiramente.
Tratas-me como um puto, como o teu irmão mais novo. Mas não consigo deixar de sentir que a miúda és tu.
Mas não queres. Estou de férias e, portanto, não tenho que fazer nada. Ordenas que me sente com aquela autoridade que partilha o teu rosto com um sorriso. E eu vejo-te a andar de um lado para o outro. A conversa é entrecortada, interrompida aqui e ali, quando te agachas e procuras um tacho, quando te pões em bicos dos pés para tirar o prato da prateleira de cima.
Sentas-te à minha frente, na mesa de madeira assim que tens tudo ao lume. Tens a melhor faca na mão e estás a cortar tomate e queijo mozarrela. Porque te apeteceu. O teu corpo sugere-te aquilo que vais querer comer pondo-te o sabor dos alimentos na língua, muito antes de os levares à boca.
Conversamos e vais-me pondo os bocados mais irregulares na boca; com os que ficam bem cortados, enfeitas um prato a preceito. Tiras também alguns para ti e eu sei que pouco mais que isso vais jantar. Já antes me tinhas avisado para que não me preocupasse: não andas bem disposta, andas a comer pouco e com grande selectividade.
Já passa das duas da manhã e amanhã tens que trabalhar. O chá arrefece na pequena chávena onde puseste mel e tu fizeste-me as perguntas. Todas. Fáceis e supostamente difíceis. Não faltou nenhuma. Com a naturalidade de quem fala de uma qualquer banalidade.
Discorreste sobre o que achas que eu deva fazer a todo o momento. Usas a diferença das nossas idades para te colocares numa espécie de plano elevado em relação a mim, um púlpito, um estrado, a partir do qual sentes a altura a transformar-se em sapiência. E autoridade.
E dissecas-me. Todo. De uma ponta à outra. Acho piada e sorrio. Avanças com conselhos e sugestões. Tens sempre observações, uma análise profunda. Talvez porque sabes que sou um céptico, dás-me sempre a tua interpretação cósmica ou astrológica das coisas, das situações, dos eventos.
Depois invertemos os papéis. Sem sobressaltos, quase nem se nota. Se calhar porque eu pergunto pouco. E, se de facto o fizesse, seria supérfluo. Falas de ti e eu não chego a perceber se é porque sentes necessidade de retribuir ou se é porque deveras o queres fazer. Uma vez mais, pode ser a diferença de idades a sobressair.
E tens para me contar quase na íntegra o que poderias ter criticado uns minutos antes em relação a mim. Com naturalidade. Semicerras os olhos quando é mais difícil dizer as coisas, a tua testa franze-se um pouco e olhas para a chávena agora vazia enquanto a inclinas ligeiramente.
Tratas-me como um puto, como o teu irmão mais novo. Mas não consigo deixar de sentir que a miúda és tu.
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