«Uma das explicações para o facto de os comunistas não terem usado medidas repressivas é que o partido tinha perdido a sua própria noção de legitimidade. Mas quem é que tirou as ilusões aos membros do partido? Certamente que não os poucos dissidentes amedrontados. O facto de a maior parte dos milhões de membros do partido ser constituída por carreiristas e falsos comunistas também não era uma novidade: sempre tinha sido assim, pelo menos na Europa central. Pelo contrário, a culpa (ou o mérito) da paralisação da vontade dos comunistas em manter o poder pertenceu ao seu sumo pontífice. Foi a glasnost e a perestroika que provocaram a queda do comunismo. Como é notório noutros locais do mundo, onde outros líderes comunistas não foram suficientemente ingénuos para tentarem imitar Gorbachev, a nomenklatura do estado sobrevive. Claro que em Cuba e na Coreia do Norte a população se encontra empobrecida: muitas pessoas encontram-se suficientemente desesperadas para arriscar a fuga para o estrangeiro, apesar dos guardas fronteiriços prontos a disparar e dos tubarões; mas tal não abalou o sistema. Porque a pobreza e a imobilidade são os segredos da sua sobrevivência, e não as causas da sua queda. O verdadeiro mistério de Gorbachev é o de saber por que motivo ele deitou fora uma fórmula de poder tentada e testada em tantos países diferentes por todo o mundo.»
História Virtual, Niall Ferguson e outros
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