sábado, novembro 11, 2006

Quando exportar não se revelou assim tão bom quanto isso – Os analistas, as notícias, o senso comum, todos apontam um grave problema económico ao nosso país: viver acima das suas possibilidades. Estou farto de ouvir o discurso da receita milagrosa que é exportar mais. Então associada àqueles chavões dos produtos de valor acrescentado, nem se fala.

Mais: há exportações que me preocupam.

Nas décadas que antecederam a Revolução dos Cravos, exportámos gente que foi uma loucura. A mão-de-obra que saiu deste país para os quatro cantos do mundo foi notória. O processo inverteu-se. Agora recebemos gente para os tais “empregos que os portugueses já não querem”, sobretudo dos Palops, Brasil e, mais recentemente, do Leste Europeu.

A seguir a lógica do senso comum, seria tentado a pensar que tudo permanecesse assim: Portugal deixava de ser “um país de emigrantes para ser de imigrantes”. Cada vez mais estou convicto que este tipo de discurso é perigoso e ignora um outro fenómeno, de menores dimensões, é certo, mas igualmente importante.

Continuamos a exportar gente. Ou melhor, recomeçámos a exportar. Mas houve uma grande transformação, que faz toda a diferença: deixou de ser mão-de-obra de baixa qualificação para se tornar em mão-de-obra qualificada.

A associação do emigrante português do Bidonville e o Mercedes na aldeia em Agosto tenderá a desaparecer. Vão deixar de ser os avecs que vêm cá de vacanças e que trazem as valisas todas às costas e que atafulham as auto-estradas, as festas de aldeias esquecidas durante o resto do ano, as feiras e as praias da Costa. Até porque com o passar do tempo, cada vez mais a segunda geração de emigrantes naturalmente sentirá menor ligação ao país de origem e menor necessidade de vir a correr nas férias para a fronteira de Vilar Formoso.

É claro que sempre houve casos notórios de ilustres figuras nacionais que fizeram a sua vida além fronteiras dada a notória incapacidade de singrar na cauda da Europa. São exemplos que vão da investigação científica, à literatura e às artes. Porém, com a crescente facilidade de deslocação, o fenómeno parece-me mais expressivo nos dias que correm.

Os novos emigrantes portugueses são jovens qualificados a rondar os vinte, trinta anos que levam na mala um dinamismo, uma vontade de trabalhar e de fazer acontecer. Quadros médios e altos, potenciais líderes ou elite. Não consigo deixar de pensar na falta que fazem cá dentro.

Há as razões negativas: o desapontamento com um país que, inúmeras vezes, teima em ser um colete-de-forças, uma âncora que prende ao chão. Saem atraídos pelas melhores condições de vida para pessoas com as habilitações adequadas, atraídos pela hipótese de trabalhar em países onde a cultura de trabalho é mais exigente e eficiente, onde se ganha melhor.

Nem todos o farão pelas razões más e pessimistas. Também os há que partem porque, pura e simplesmente, têm a vontade, o bichinho de conhecer o mundo, de viver longe durante algum tempo e procuram ter uma experiência internacional que os marque.

Alguns voltam. Trazem conhecimento, experiência, maturidade, cultura de trabalho, know-how que pode ser muito importante para um país que precisa de aprender imenso com alguns exemplos que vêm do exterior. Mas outros não. E não mais se imaginam a viver e a trabalhar aqui.

No fundo no fundo, até podemos estar a seguir à risca o conselho dos tais analistas económicos: não exportamos pessoas com pouca diferenciação, mas sim com elevado valor acrescentado.

Mas podem ser pessoas que Portugal perde para outros países.