quarta-feira, dezembro 13, 2006

Lembro-me da primeira vez que pisámos aquele palco. O estrado de madeira parecia enorme, como se se prolongasse por metros e metros até morrer na plateia. O nervosismo gerava mais nervosismo, as luzes queimavam os olhos assustados mas, ao mesmo tempo, insuflados, repletos de uma vontade de ir lá fora e sentir a atenção do público.

Nas mãos levávamos as companheiras de longas horas. Nos dedos, uma invenção de Bach e os doze compassos de um blues tradicional, daqueles que pedem um pouco de improviso que, neste caso, de ingénuo, vinha estudado de casa.

Nunca correm na perfeição estas coisas. Na cabeça está aquela que mais ninguém consegue palpar. O tempo, uma nota falhada, uma malha que, embora tenha saído muito parecida, não era exactamente aquilo.

Mas no fim as palmas foram tudo. Poucas sensações poderão alguma vez ombrear com o som estridente e fervilhante de alguns pares de mãos a chocar uns contra os outros.

Quando voltei a pisar o palco, passado algum tempo, tudo tinha desaparecido. Já não era grande; pelo contrário, parecia pequeno. As luzes não provocavam calafrios; chateavam, obrigavam as pupilas a adaptar-se. A plateia era pequena e, mesmo assim, não estava cheia.

Senti tudo diferente. A magia tinha desaparecido. Como se uma espécie de inocência tivesse morrido ali em cima daquelas tábuas gastas que rangiam a cada passo que dava. Não disse a mim próprio que não mais lá voltaria.

Mas não mais lá voltei.