sábado, dezembro 16, 2006

Usavas aquele lenço branco largo - a segurar o cabelo de um encaracolado rebelde, que trepava pela cabeça a cima em direcção às alturas. No sentido contrário, do céu para a tua cabeça, pareciam cair ideias. Nunca te abandonaram. Nunca te faltou uma.

Por isso, socorríamos-te de ti para matar aquele tempo morto das viagens. Bastava puxar um bocadinho e, como uma camisola de malha que se desfaz por um fio, as tuas demonstrações impressionantes de imaginação jorravam. Era um prazer ouvir-te.

De repente, acabou. Cresceste? Envelheceste? Não sei. As viagens diminuíram drasticamente com o advento daquela nova realidade chamada carta de condução. Talvez tenha sido a distância. Ou então simplesmente o facto de que a chama que brilha mais intensamente gasta-se mais depressa.