terça-feira, fevereiro 13, 2007

Não seguras o cigarro como a maioria dos fumadores, entre o dedo médio e o indicador, antes entre o médio e o anelar. Visualmente, é completamente diferente, dá uma noção de simetria porque o cigarro fica mesmo no meio da porção de mão que parece estar ali para tapar a boca e não para o levar até ela.

Os gajos lixados não se exaltam. Nunca. Nem quando estão a ser agressivos. Mantêm sempre a calma. A compostura. A espaços, soltam um sorriso ainda mais amarelo que os dentes aplacados por anos do vício. Escuros. Feios. E depois continuam. Têm o arsenal preparado, tudo apontado aos pontos previamente assinalados. Um a um, destroem cada um dos alvos até nada ficar de pé.

Não é…?

Outro sorriso. Entre uma ou outra palavra. Fugidio, por entre os dentes escuros. Às vezes até mais, talvez uma gargalhada entrecortada quando te diriges a alguém que está do teu lado da barricada. Uma conversa paralela cujo propósito é permitir algum tempo para a recuperação do adversário. Porque derrotá-lo logo tira a piada toda, é forçoso que exista algum despique.

Os gajos lixados sabem que o importante é a fachada, saber jogar naquela fronteira que está sempre na iminência de ser cruzada, atravessada. Uma espécie de roleta russa. Um jogo do gato e do rato, de pequenas aproximações sucessivas, iterações sucessivas sem atingir um ponto de verdadeiro equilíbrio. E sem nenhuma exposição.

Não expressas nada do que interessa. Não comunicas nada Não proferes nenhum dos pontos. Não verbalizas. Nem sequer insinuar. No entanto, dizes tudo. Por entre a nuvem de fumo que sobe em direcção ao tecto falso. Com o cigarro preso entre o dedo médio e anelar, o ponto médio do pedaço de mão que parece tapar a boca dos dentes amarelos e sujos.

Não é…?