sexta-feira, março 16, 2007

O sol incide com a força vespertina sobre o branco das pedras. Páro o carro e reparo no gato deitado sob o calor, encostado à parede. Procuro o comando cinzento com dois botões. O da esquerda faz abrir o portão preto. Quando o pressiono, sei que o gato vai estar em rota de colisão com um dos braços da estrutura metálica: terá que sair para eu que possa entrar.

Cerca de meio minuto depois, o animal reconhece a inevitabilidade da sua deslocação e levanta-se preguiçosamente. Percorre alguns passos e volta a deitar-me mesmo a meio da entrada para a garagem. Presunçosamente. Avanço um, dois metros. Coloco-me o mais perto que consigo, tento dar-lhe o incentivo correcto para que se volte a levantar e que me deixe entrar sem o passar a ferro.

Nada. O corpo enrolado, a cabeça pousada nas patas traseiras. As orelhas, por vezes, reviram, acusando o som do motor muito perto. O tiro sai pela culatra e a sensação de inevitabilidade vem disparada na minha direcção quando penso na possibilidade de ter de me levantar para eu próprio o retirar do caminho.

E é então que instintivamente procuro um comando cujo botão faça o raio do gato sair da frente.