terça-feira, março 06, 2007

Se tudo fosse fácil e as palavras saíssem da boca como o ar que teimamos em respirar então não terias que

Diz…!

Porque tudo surgiria naturalmente. Fluiria no seguimento da conversa e dos olhares, saíria no exacto momento para completar as entrelinhas das palavras que não foram ditas mas que, mesmo assim ficaram a pairar no ar que teimamos em respirar. E quando parece que vão finalmente sair e ocupar o seu lugar de direito

Fala...!

E não se ouvem. Não se escutam. Não se sentem. Não se vêem. Não se respiram como o ar que teimamos em poluir com a insinuação que preenche as falhas daquilo que penso que vou dizer mas que não digo porque nem todas as palavras saem da boca como o ar que não paramos de respirar e tu

Fala...!

E eu sentado no chão de calçada, encostado ao tronco magro da árvore fina, continuo sem te dizer aquilo que não tenho para te dizer, aquilo que não te posso dizer porque as palavras são como as plantas, precisam de quem as semeie, não nascem do ar

Diz…!

que teimamos em continuar a respirar pesadamente por entre os olhares carregados da insinuação que preenche o ar que aindo respiro intensamente enquanto olho para ti a respirar o ar e sinto-me esmagado, amachucado, amassado, comprimido pelos intervalos desconfortáveis, incómodos, irritantes que a insinuação teima em preencher.

E sufoco com o ar que teimamos em respirar.