segunda-feira, abril 02, 2007

O crime de Raskolnikov - começa por ser um desafio. Conseguir enganar, tornear o sistema. Planear um homicídio sem sequer se dar ao trabalho de fazer algo muito elaborado. Fugir com o dinheiro que a velhota pôs de lado. E depois passar por cima de tudo. Sair impune. Confrontar a polícia e esticar a corda, ver até onde é possível escapar a um detective que já percebeu tudo.

A reviravolta vem depois. Nasce na consciência e percorre toda a essência de Raskolnikov. Ao ponto de deixar de conseguir viver consigo mesmo. É a revolução da moral de Dostoievski: o homem pode escapar à justiça da sociedade se for sufucientemente inteligente, mas consegue fugir da consciência moral. Raskolnikov acaba o livro a procurar Castigo para o seu Crime.


Estava calor e o homem estava ali. Disparou sobre ele. Disparou sobre ele porque estava calor e o homem estava ali. E ele tinha a arma na mão. O estrangeiro não pretende encobrir o crime. Não abandona o local. Não se livra da arma. Permanece. Não oferece resistência quando o vêm capturar.

Mas também não é capaz de dizer porquê. A consciência não começa progressivamente a esmagá-lo. Poderá talvez admitir que o acto é errado. Mas apenas porque sempre ouviu dizer. No fundo, não o consegue perceber. E, por isso, não é um acto imoral. É um acto amoral. Camus destroi o motivo, por mais macabro que ele possa ser.

E, com ele, um dos pilares do entendimento da consciência humana e o Raskolnikov.