domingo, setembro 16, 2007

Cabernet

Disseste quase rispidamente, como se a pergunta do empregado fosse, no mínimo, descabida. Não gostas de Merlot, vinhos que consideras de gajas, demasiado frutados, adocicados. Não tens medo do tanino que corroi o estômago dos mais fracos mas que permite o envelhecimento.

Esticaste o braço e de imediato tiraste o meu copo da minha frente, como que ofendida com o empregado: embora tivesses sido tu a escolher o vinho, foi a mim que ele deu a prerrogativa de dar o aval à sua qualidade, fazendo jus ao costume de ser homem da mesa a provar.

Levaste-o à boca ostensivamente. Olhaste-me pela superfície transparente do vidro e, enquanto o pousavas lentamente, por entre o tom sanguíneo que tingia os teus dentes, que estava bom, podia servir.

Assim que ficámos novamente sozinhos, encheste mais os dois copos. E depois inclinaste-te na minha direcção, a tua cabeça aproximou-se da minha e disseste-me baixinho, muito baixinho:

Sabes que vamos precisar doutra destas, não sabes...?