quarta-feira, outubro 10, 2007

Já não sei se comecei - pelo Crime e Castigo se pelos Cadernos da Casa Morta. Não tive outra hipótese senão continuar, Dostoievski não é para ficar na estante. Depois achei que devia alargar a mais autores clássicos da literatura russa. Dei uma saltada até ao Tolstoi e li o calhamaço Guerra e Paz. A etapa seguinte foi há muito pouco tempo e tinha como ideia principal percorrer os escritores de contos. Resolvi-me pelo Gógol e apanhei uma grande banhada. Podia continuar este texto como uma série de razões para não ler o senhor. Mas vou deixar que seja ele a apresentar o rol completo sozinho. Segue-se um excerto de Diário de Louco:

«Ao ficar sozinho, decidi tratar dos assuntos de Estado. Descobri que a Espanha e a China são uma e a mesma terra e que só por ignorância são considerados Estados distintos. Aconselho a toda a gente que escreva expressamente num papel «Espanha» - o resultado será «China». Entretanto, entristecia-me muito o acontecimento que teria lugar no dia seguinte. Amanhã, às sete horas, ocorrerá um fenómeno estranho: a Terra pousará na Lua. Escreve sobre isso, inclusivamente, o famoso químico inglês Wellington. Confesso que me senti preocupado do fundo do coração ao imaginar a extraordinária delicadeza e fragilidade da Lua. É que a Lua se fabrica, normalmente, em Hamburgo, e é de péssima qualidade. Admira-me que a Inglaterra não preste atenção a este facto. O fabricante é um tanoeiro coxo, e vê-se logo que é imbecil, não tem a mínima noção da Lua. Utilizou uma corda alcatroada e uns restos de azeite de lâmpada rançoso; por isso, é terrível o fedor por toda a Terra, é obrigatório tapar o nariz. Daí que a própria Lua seja uma bola tão frágil que as pessoas não podem viver nela, pelo que agora só lá moram narizes. É por esta mesma razão que não podemos ver os nossos próprios narizes, uma vez que estão todos na Lua.»

Felizmente falta-me ler os Irmãos Karamazov. Óptimo para desentoxicar.