quinta-feira, dezembro 13, 2007

O pedinte dirige-se àquela janela que se abre do alto de um todo-o-terreno citadino, com o braço mais estendido do que o costume. Ia jurar que os seus olhos se arregalaram: todos os dias o vejo ali e reparo que são poucos os que lhe depositam qualquer coisa na mão. Talvez porque ele não insista, aquela estratégia que muitos colegas de profissão tão bem desenvolveram por necessidade. De desagradável que é, costuma resultar porque gera mal-estar aos de nós que têm algo na carteira e se condoem ou, pura e simplesmente, não têm paciência para continuar a dizer não.

Mas, logo em seguida, afasta-se do veículo e volta à posição cabisbaixa, as costas ligeiramente encurvadas, como se o peso da sua existência o empurrasse de encontro ao chão de alcatrão irregular. Continua a sua deambulação por entre duas filas de carros pensativos, presos temporariamente à cor vermelha do semáforo. Depois percebo o mal-entendido.

Atrás vinha o tipo dos jornais grátis.