segunda-feira, março 10, 2008

O miúdo está sentado no sofá, debruçado sobre a mesa de café, rabiscando lentamente num caderno. Faz os trabalhos de casa à velocidade de quem só há pouco tempo aprendeu a escrever, de quem ainda pára para desenhar todas as letras com a dedicação de um artista plástico.
De repente, pergunta-me
Qual é a tua cor preferida?
Devo ter feito uma cara surpreendida, tal foi a pergunta inesperada. Sentiu-me apanhado em falso e continuou
A minha é azul
Azul. Lembro-me de eu próprio ser miúdo e dizer que azul era a minha cor preferida, mas não me lembro de, depois disso, ter pensado sobre o assunto mais alguma vez. Ele insiste
E a tua…?
Tenho que responder qualquer coisa senão ele fica demasiado impaciente.
Não sei bem.
Não sabes bem?

Baralho-o propositadamente.
Hoje, por exemplo, acho que é assim uma cor forte, estilo laranja. Mas ontem foi cinzento.
Agora é ele quem foi apanhado em falso. Responde-me qualquer coisa a querer dizer que as pessoas não mudam de cor preferida consoante o dia. Tento explicar-lhe que esse tipo de coisas depende do estado de espírito das pessoas. E aí ele recorre ao pragmatismo.
Mas só podes responder uma.
Como regatear com tal evidência?

Ah, então é azul.