segunda-feira, abril 28, 2008

Marco trabalhava nos Correios. Tinha uma daquelas motoretas velhas com um saco de pele na parte de trás para acomodar a correspondência. Saía de manhã com a ronda de sempre estipulada. Incomodava-o o facto de nunca chegar a poder fazer grandes trajectos: acelerava de caixa de correio em caixa de correio, de acordo com a sucessão constante das mesmas casas.

E das mesmas pessoas. Marco sabia de cor os nomes de todos os destinatários e a que casa pertenciam. Quando, por vezes, surgia uma carta com uma morada errada, Marco imediatamente dava conta e atribuía ao destinatário correcto. Sabia quantos filhos tinham, sabia onde trabalhavam, sabia de que banco eram clientes.

No entanto, para toda esta gente que diariamente revia, nada mais era do que o simples carteiro. Igual ao anterior que Marco substitui quando se reformou; ninguém reparou que recebia o correio das mãos de outra pessoa. Bom dia, boa tarde, obrigado e, por vezes, nem sequer isso.