segunda-feira, outubro 13, 2008

As duas faixas do túnel de Lincoln - terminam numa das centenas de ruas transversais que cruzam a dúzia de avenidas e desenham os rectangulares “blocks”. A deslocação de ar do vidro aberto do taxista de Trinidad e Tobago é agradável naquele ambiente pesado devido à humidade. A perspectiva vertical da cidade está ainda encoberta: o nevoeiro esconde o topo dos edifícios esguios.

O aspecto é o mesmo de muitas outras cidades americanas ou de história recente e, no entanto, diferente: aqui parece que cada esquina foi seleccionada num casting para uma qualquer produção de Hollywood. Por isso, há uma certa dose de familiaridade numa cidade que deveria ser um hino à impessoalidade, como se a individualidade fosse esmagada pela omnipresença do cimento e vidro dos arranha-céus, pelo congestionamento do espaço.

Ao mesmo tempo, um hino ao individualismo. It’s all about me. Penso em mim e estou a lixar-me para os outros. A New York attitude. Que torna difícil arranjar uma explicação para a extrema simpatia, desconcertante, de alguns nova-iorquinos solícitos. Talvez o orgulho de poder dizer que pertencem àquela manifestação. Aquele que também existe em Paris mas que desagua, não poucas vezes, em desprezo e chauvinismo.

Manhattan, o coração de Nova Iorque, só podia ser uma ilha. A afirmação suprema de que tudo está ali e que o resto gira à volta dela. The city that never sleeps. Onde a altura dos edifícios parece simbolizar o pedestal onde repousa. E cidade é pouco, Nova Iorque quer ser mais ainda. Tudo o que seja menos do que uma forma de estar diferente não chega. This is New York City, everything is possible.

Acabem com os dois sentidos nos túneis e nas pontes. No fundo, as pessoas só querem é entrar.