terça-feira, maio 31, 2005

Duas preciosidades do “Inimigo Público”

Cegonha provoca apagão em sabres de luz – A EDP está a ser acusada pelo Conselho Jedi de ter provocado o apagãode vários sabres de luz, facas de mato de luz, canivetes suíços de luz e espremedores de citrinos de luz. Os Mestres Jedi sempre desconfiaram de que a EDP tinha passado para o lado negro da Força desde o caso Iberdrola, mas a EDP desculpa-se com o choque de um bando de andorinhas disléxicas com uma antena de telemóveis em Castanheira de Pêra, que fez desabar um outdoor de Paulo Portas esquecido desde as eleições, que assustou uma cegonha que foi contra uma linha de alta tensão que provocou o apagão.”

Têxteis chineses lançam milhões de bichos-da-seda no desemprego – A crise em torno dos têxteis chineses tem-se acentuado de dia para dia. Agora são os bichos-da-seda que acusam a China de concorrência desleal, fazendo com que milhões de lagartas tenham já caído nas malhas do desemprego, também elas fabricadas na China a preços imbatíveis. Detentor do monopólio da seda há mais de cinco mil anos, o bicho-da-seda vive hoje na miséria, recorrendo a expedientes para conseguir juntar o suficiente para fabricar o seu casulo. Recorde-se que um operário chinês trabalha hoje o dobro das hora da larva e necessita apenas de metade das folhas de amoreira para sobreviver, com a vantagem de não se metamorfosear em crisálida no fim do turno.”

segunda-feira, maio 30, 2005

A acreditar nos termómetros – o calor era abrasador. Às 18h00 ainda estavam trinta e muitos graus. O céu estava pejado daquelas nuvens muito finas que tornam a luz difusa, numa infusão de cinzento claro muito intensa. O ar quase nem corria em Sevilla, nem sequer uma aragem.

As ciganas empunhavam os abanicos como só elas sabem fazer, sentadas nos degraus da enorme catedral. A maior do mundo em volumetria, segundo o certificado do Guiness em exposição no interior. Quando viam turistas, levantavam-se e ofereciam rosmaninho.

Depois pediam para ver a mão e ler a sina. Recusei delicadamente mas ela disse-me o meu futuro só de olhar para mim, numa lenga-lenga hipnotizante com sotaque andaluz, sem os “esses” no final das palavras. Desejou-me sorte e eu retribuí: “Para usted también”. Sorriu antes de replicar: “Pero la fortuna hay que pagarla!”. Começava a tirar o porta-moedas do intervalo entre os seios, pelo decote, quando lhe devolvi o rosmaninho e me fui embora.

A Giralda, a torre mandada construir para almoadem da cidade. Uma subida em caracol pelas rampas de inclinação variável, onde passam também os carrinhos dos bebés dos pais corajosos. Do alto, possivelmente a melhor vista sobre a cidade. Embora só um dos lados interesse verdadeiramente, o que espreita sobre a Praça de Espanha e os Jardins de Maria Luísa.

No mesmo sentido, o Alcázar. Fortificado. Mas bonito, delicado, “precioso” recorrendo à língua autóctone. Uma encomenda da realeza espanhola aos construtores da cidade árabe na altura de Granada. O resultado é um palácio com a traça do Magreb, frescos pátios interiores repletos de mosaicos e pedra minuciosamente esculpida, azulejos e tectos de cedro trabalhados. É aqui que, ainda hoje, os “Reyes Católicos” pernoitam quando vêm à Andaluzia.

O resto é, grosso modo, o que se pode ver em qualquer outra cidade espanhola. A mesma traça das casas, o mesmo passeio, os mesmos jardins a precisar de atenção e água. Alguma sujidade. Por outro lado, muita animação, muita gente nas ruas, turistas e estudantes por todo o lado. Tapas, bares, “botellón”.

sexta-feira, maio 27, 2005

Uma das piores frases – que nos podem dizer é “para a semana”. É uma expressão perigosa, normalmente proferida por pessoas que nos estão em dívida em relação a determinado assunto e, na impossibilidade de nos fornecerem qualquer outro tipo de informação mais concreta, precisa, despacham-nos com o chavão.

Desde pequeno que me lembro de ir a uma loja perguntar por determinado objecto. A resposta que muitas vezes levei foi “de momento não temos” e, quando encostado à parede para a produzir uma qualquer referência temporal, o empregado diz “para a semana”.

É claro que nunca é para semana. Nunca. É sempre muito mais do que isso. Há alguns posts atrás falei do regresso a casa da minha querida aparelhagem. Não referi foi o meu telefonema em Abril a perguntar pelo orçamento do arranjo. Na altura, faltava uma peça que estava para chegar (quando, quando...?), imagine-se, “para a semana”. Que se transformou num mês.

Irrita, pois claro, é sempre pior furar as expectativas pela negativa. É a tal história: se o piloto do avião antecipar um atraso de 45 minutos, o melhor que tem a fazer é dizer aos passageiros que deverão ficar na pista mais uma hora, em vez de dizer meia. No final, pode acabar por fazer um brilharete porque “poupou” um quarto de hora.

A outra hipótese a considerar é que estes tipos não têm noção nenhuma de quanto tempo será o atraso. E por isso aventam o “para a semana” por conveniência, uma vez que semana e meia ou três quinze dias são expressões menos usuais. Enfim, é uma hipótese rebuscada se tivermos em conta que trabalham no ramo há muitos anos, algo que, normalmente, atesta a experiência profissional que nos assegura no momento de lhes confiar com equipamento.

No entanto, há sempre a outra hipótese, aquela da falta de respeito.
Hoje - começou tudo por chover. A série de dias consecutivos de sol foi rasgada ao meio por chuva miudinha, irritante. Aquela que não é suficientemente gente para poder causar frio e que sobrevive no meio daquele tempo húmido e abafado, naquele ar que não produz uma brisa.

A cidade está deserta. Lembra-me aqueles westerns com duelos ao meio-dia, altura em que a população, temerosa, se esconde na segurança das casas, atrás das janelas para ainda assim ver o desenrolar do confronto.

As pessoas saíram todas e levaram com elas os ruídos e a azáfama dos dias normais. Deixaram os lugares dos transportes públicos vagos, acabaram com as filas. Não oiço as habituais buzinas. Não oiço os miúdos a ir para escola. Nem sequer as recentes exortações ao clube da Luz.

Fico dividido. Por um lado, a melancolia. Do dia cinzento, da solidão colectiva duma cidade abandonada, trocada por uns dias de suposto sol no tradicional circuito das praias portuguesas. Também eu gostava de ter tido a sexta-feira para mim, para utilizar a meu bel-prazer. Embora não fosse a correr enfiar os pés na areia.

Por outro lado, a calma. Que faz apetecer parar para olhar mais do que para ver, ao som de um Cd do Keith Jarrett ou dos recém-por-mim-descobertos Air. Que, embora não fume, me faz pensar em cigarros fumados à luz de uma janela grande de vista para o mar.

quinta-feira, maio 26, 2005

Jornalista - E o Milão não é campeão europeu

Gabriel Alves, depois de respirar fundo – Rui Costa, vice-campeão europeu
Não tenho paciência – para prometer seja o que for. Não tenho visão para antever ou estipular o que vou fazer. A vida é feita dos caminhos que se abrem e que, na altura certa, se percorrem depois de escolher. O problema é não poder fazer todos, o problema é a opção por uns limitar irremediavelmente a opção por outros. Não me peçam certezas.

Não é só não as ter. É não as querer ter.
São os comentários – outra vez a falhar. Nada de novo. É esperar.

terça-feira, maio 24, 2005

Durante todo este tempo – senti-me separado, afastado, desligado, como quem tem um irmão gémeo e é privado da sua companhia. Senti-me como um náufrago numa ilha deserta, senti-me como um emigrante sozinho numa grande e impessoal cidade. Senti-me como o Santana há uns mesesitos atrás.

Felizmente, a espera acabou, a provação terminou. O desespero dissipou-se e o sol voltou novamente a brilhar. O relógio marcava qualquer coisa como 13h00 quando a chamada há muito esperada surgiu. Há tanto tempo que até parecia mentira, parecia improvável chegar sequer a recebê-la. Porém, é um facto de que teve lugar.

Sôr Daniel, viva, como está, fala o Ramalho aqui do Monte Estoril. Olhe, é para lhe dizer que a sua aparelhagem já está arranjada.
Uma semana boa – para distribuir parabéns. Os mais óbvios vão para o Glorioso, que arrecadou mais um título para o extenso espólio numa final ao sprint engraçada e emotiva.

Os outros vão para o Garcia. Acabei de ler agora que fez cume no Lhotse de forma algo arriscada. O Hélder que tenha paciência, melhores dias virão.

sábado, maio 21, 2005

Na minha casa – há uma clarabóia. É rectangular e fica directamente sobre as escadas que ligam o primeiro andar ao rés-do-chão. Durante o dia, inunda o corredor que liga os quartos com a luz do sol que, de outra forma, só teríamos oriunda das janelas. À noite, a luz da lua, das estrelas e mesmo do candeeiro de iluminação pública, entra quase timidamente. Mas o suficiente para, amiúde, não ser necessário acender a luz para subir os degraus.

Nos dias de chuva, gosto de ouvir a força com que a água se despenha contra o vidro da clarabóia. No momento de maior intensidade, o som no corredor é mais forte do que nos outros sítios da casa. Quando a quietude da noite se instala e me estendo na cama acompanhado de um livro ou do comando da televisão, oiço as gotas cair do telhado para a varanda da minha janela.

quinta-feira, maio 19, 2005

Juro que houve um momento ou outro - em que ponderei dar uma saltada até à Conservatória do Registo Civil ou a uma Loja do Cidadão e tratar da questão. Definitivamente. Sem medo. Sem receios. Sem mas nem meio mas. Sem tugir nem mugir. Arrancar o mal pela raiz. Resolver as coisas à bruta.

Não bastou o balde de água fria. Estar a ganhar com o golão no final da primeira parte e com algumas hipóteses no início da segunda. A minha premonição em jeito de piada de que poderia ser o carrasco do Sporting confirmou-se mesmo. Três passes, três golos. Homem do jogo, prémio da Carlsberg.

Ainda por cima prefiro Heineken.

terça-feira, maio 17, 2005

Quando vejo os dispositivos de segurança – necessários para suster as nada civilizadas claques dos clubes de futebol, penso que quem paga impostos suporta o custo de todos aqueles agentes destacados especialmente, possivelmente de áreas onde fazem falta durante o tempo que dura o jogo.

Ou seja, andamos a pagar para que uns milhares de bárbaros mal-educados possam ir à bola.

domingo, maio 15, 2005

O Luisão - que já foi túnel num destes jogos, desta vez aproveitou um frango nas bolas aéreas. Chamado Ricardo, obviamente.

Está terminado o jejum.
É - sim senhor, é verdade que tenho andado mais desleixado. É verdade que, ultimamente, parece que o tempo não chega para tudo, mormente para me sentar e concretizar uma ideia que me tenha ocorrido ao longo do dia. Às vezes, pior: o texto já está escrito, não surge a oportunidade para o pôr online. Resultado: ando a recorrer a frases isoladas que fazem as vezes de punchline.

São estas as vicissitudes da vida, é assim, não há muito a fazer. Rogo por compreensão, por abertura de espírito para com as minhas dificuldades logísticas em continuar a manter um ritmo de escrita que costumava seguir quase escrupulosamente. Entretanto, se estiverem fartos da situação, arregacem as mangas e dêem-me uma ajudinha, que bem preciso.

sábado, maio 14, 2005

Tão fina é a linha - entre preocupações de saúde e a demagogia que já enjoa ouvir falar na questão dos medicamentos de venda livre fora das farmácias.

quarta-feira, maio 11, 2005

Oferece-se curso prático de tiro ao alvo – a lançadores de granadas georgianos.

terça-feira, maio 10, 2005

Voava - à altura de um segundo andar. O vento encarregava-se de o empurrar suave, gentilmente na direcção da parede dos prédios. De vez em quando, quando surgiam janelas ou varandas, parecia que ia entrar em casa alheia. Ou forçar a entrada. No entanto, as persianas corridas impediam o acesso. Continuou um pouco mais, rua abaixo, mas sempre sem sucesso.

E então o vento deixou de soprar e o saco de plástico caiu no chão.

segunda-feira, maio 09, 2005

Que me indiquem o caminho – tintim por tintim, como se eu fosse incapaz de perceber como se chega ao destino, confesso, não gosto. Sou daquele tipo de pessoas que prefere andar um pouco às apalpadelas até descobrir a direcção. Pessoas que andam comigo, por vezes, agonizam com a minha pouca vontade de encostar o carro e fazer perguntas a um qualquer transeunte.

Quem me ouve dizer coisas deste género, pensará, logica e legitimamente, que aparelhos GPS num carro são invenções que, não só dispensar, mas, mais do que isso, das quais fujo. Eu também pensei que seria assim. Só até à primeira vez que vi um a funcionar.

Porquê? O carro é italiano e só funciona na língua de origem. Melhor ainda: é uma voz feminina. Cheia. Quente. Diferente. Carismática. Numa palavra: sexy. Não sou capaz de reproduzir o que ela diz. É repetitivo, previsível, fácil de antecipar. Para além disso, não sei escrever italiano. Mas uma coisa é certa.

O meu carro tem uma italiana lá dentro e eu apaixonei-me por ela.

quinta-feira, maio 05, 2005

O meu nome é um nome a reter - Porquê? Está tudo aqui
Há palavras - que doem. Há expressões que magoam. Há frases que são autênticas máquinas de tortura. Às quais não estamos imunes. Que nos passam por cima como um bulldozer desenfreado, como que a terraplanar os nossos sonhos.

Umas de carácter periódico. “A circulação na linha verde encontra-se com perturbações e sujeita a demoras”. Ou, mesmo, totalmente encerrada e sem previsão de duração do arranjo. Outra possibilidade: “Vai tirar sangue só para fazermos aqui uns exames de rotina”.

Às vezes, quando menos esperamos, ouvimos “não é o seu carro que está a ser rebocado?”. Ou então “Papá, mamã, sou teenager e estou grávida.”

Outras mais antecipáveis. Por exemplo “subida do IVA” provoca calafrios à mais confiante das pessoas. “Vêm aí a próxima edição da quinta mais famosa do país!”.

As maravilhas da língua.

quarta-feira, maio 04, 2005

Encore une foie (gras) – ou a apologia da gastronomia francesa.
Piscina de Fígado – ou, no melhor inglês, Liverpool.

terça-feira, maio 03, 2005

Não vou daqui ali por
Não vou muito à baila com
Não morro de amores por
Não gosto
Não gosto muito
Não gosto nem um bocadinho
Não gosto mesmo nada
Nem com molho de tomate
Nem ouvir falar
Nem pintado
Nem que a minha vida dependesse disso
Não suporto
Detesto
Abomino
Odeio

segunda-feira, maio 02, 2005

Em como os feriados - ao fim-de-semana deviam ser constitucionalmente proibidos.

domingo, maio 01, 2005

Ich bin ein Lissaboner – Mas não me importava de ter sido Berliner.