domingo, janeiro 29, 2006

Nevar é um acontecimento - tão improvável em Lisboa que se desatassem a cair sapos do céu como no final do Magnólia, os alfacinhas estranhariam menos.
Os gajos que - agitam as bandeiras nos comícios ou não das declarações de vitória como a do Cavaco no CCB, recebem em dinheiro, géneros, tachos ou estão lá mesmo por amor à camisola?

sábado, janeiro 28, 2006

O problema é - que eu continuo a achar que, em circunstâncias normais, a Mauresmo nunca ganharia nem à Clijsters e, muito menos à Henin. Porque a francesa tem o problema da maior parte dos bons tenistas que nunca conseguem dar o salto para grandes tenistas. Cabeça. Não basta ter um jogo tecnicamente sólido, saber bater as pancadas todas, corriqueiramente, ter o jeito bem treinadinho.

A pressão mata. Sufoca. A competição é enorme. A única forma de se conseguir vencer e convencer é atingindo níveis de concentração e auto-confiança que a maioria das pessoas não tem. Isso e a ambição necessária para uma dedicação extrema ao desporto. Essa é a marca dos grandes campeões.

No final, pensando bem na questão, penso que teria sido melhor para ela não ter beneficiado das desistências. Mesmo que o custo fosse continuar sem ter uma taça de Grand Slam na prateleira lá de casa. Porque por muito que o título apareça no seu palmarés, por muito que escrevam o seu nome na faixa onde estão todos os vitoriosos de todos os anos, nunca vou esquecer que a Amèlie não ganhou de facto o Open da Austrália. Perderam-no para ela.

É óbvio que não será a primeira nem a última vez que uma situação do género acontece, em que uma pessoa ganha praticamente levada às cavalitas. O problema está em conseguir provar noutras ocasiões que se tem verdadeiramente o nível necessário para sair vitorioso. E a Mauresmo não tem esta fibra. A história da carreira dela tem sido mais da eterna perdedora.


Isto em relação à partida de ontem. O que se segue diz respeito à final masculina que, felizmente, e mandei foguetes quando soube, vai ser uma sessão nocturna em Melbourne, logo pode ser vista aqui pelas 9h00.


Por muito improváveis – que possam eventualmente ser, há sempre alguns contos de fadas. Nunca me hei-de esquecer do fenomenal Roland Garros de 1997 em que um wildcard brasileiro de Floripa, surfista que gostava de ir para o Guincho quando esteve aqui no Estoril Open, ganhou o torneio depois de eliminar pelo caminho Tomas Muster, o homem mais temido na altura em terra batida (que havia ganho o torneio em 1995) e o Kafelnikov, o detentor do título. Em partidas que foram a cinco sets. Na final, derrotou o anterior bi-campeão (1993 e 1994) Sergi Bruguera.

A verdade é que quando toda a gente pensava que o Guga tinha sido um fluke duma dimensão impressionante, o tipo resolveu provar que os que criticavam estavam errados. Voltou a Paris para vencer em 2000 e 2001, com um Masters (aqui em Lisboa) pelo caminho e alguns Super 9. Afinal, o Guga acabou por ser um dos melhores jogadores da superfície no seu tempo.

Lembro-me que em 2000 também existiu um fluke gigantesco, de seu nome Magnus Norman. Chegou a liderar a Corrida dos Campeões. Perdeu Roland Garros para o Guga em 2000 depois de salvar quase dez match points. Chegou a vir também ao Masters de Lisboa. Depois desapareceu. Este sim, foi um grande fluke.

Serve isto de recado a um senhor chamado Baghdatis. Não é normal o nº54 do ranking ATP chegar a uma final deste calibre. A questão não é achar se ele vai ganhar ou não. Honestamente, acho que vai perder para um dos melhores jogadores que alguma vez vi. O que interessa é saber se vamos ter um novo Guga ou uma reedição do Norman.

O tempo o dirá.
É um bocado cliché pegar no tema mas não consegui deixar passar em branco os 250 anos do nascimento de Mozart, um dos tipos mais geniais do mundo da música

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Atravessava as carruagens do metro com a bengala branca a mendigar.
Arengava quando não lhe davam nada, não ligavam puto ao ceguinho.
Arengava quando lhe davam alguma coisa, tinham pena do ceguinho.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

O clarão repentino - do fósforo riscado na pequena e tosca caixa que se amachucava progressivamente no bolso dos jeans apertados. Era uma cena digna do genérico da Missão Impossível, quase juro ter-te ouvido ensaiar as notas iniciais enquanto o ritual de acender o cigarro se desenrolava à minha frente.
Comecei a fumar com treze anos.
Chegámos aqui a propósito de bóias. Começaste a fumar ainda de fraldas e, no entanto, eras totalmente contra drogas leves, a legalização não faz sentido nenhum. Eu, sem tentar esticar a corda, tentava argumentar que, para alguém que fumava pouco menos de um maço por dia, não tinhas um manancial de moral no qual descansar ou apoiar essa opinião.
Eu sei que é horrível, era muito nova
Mas não tinhas os dentes, os dedos, a pele dos verdadeiros fumadores daqueles que se percebe ser fumadores a milhas de distância. Nem sequer o cheiro. Talvez o escondesses por detrás do odor fresco do perfume que ficava o nariz. Aliás, se não te tivesse visto a aspirar o filtro amarelado descontraidamente não iria perceber. Pelo menos às primeiras apanhas.
Um mar de copos vazios erguia-se à nossa frente e eu começava a questionar a minha própria congruência. Podia sempre desculpar-me: são eles a falar por mim. De repente, olhos no vazio do copo esvaziado, pensava Camel? Rothmans? Mas depois o vermelho e o branco, coroados por um daqueles quadrados com letras grandes “Fumar mata”. Marlboro. Pela cor.
Não. Gosto mais de Lucky Strike.
Que também é vermelho e branco. Aproveitou para pedir ao empregado um maço que o que tinha estava praticamente a acabar. Estava a chegar a hora. Não tardaria para que tivéssemos que sair. Mais uma rodada para acabar? Claro, esta pago eu, a última foste tu.

Detestavas fósforos mas tinhas deixado o isqueiro dar as últimas sem o substituir. Detestavas o fumo dos cigarros alheios e impregnavas a minha roupa do teu fumo. Detestavas que te chateassem com a questão do tabaco mas acabavas sempre por falar seriamente sobre isso comigo. Sentias-te confortável comigo.

Ou seriam os copos a falar?

terça-feira, janeiro 24, 2006

What your soul sings


Don’t be afraid
Open your mouth and say
Say what your soul sings to you

Your mind can never change
Unless you ask it to
Lovingly re-arrange
The thoughts that make you blue
The things that bring you down
Only do harm to you
And so make your choice joy
The joy belongs to you

And when you do
You'll find the one you love is you
You'll find you
Love you

Don’t be ashamed no
To open your heart and pray
Say what your soul sings to you

So no longer pretend
That you can’t feel it near
That tickle on your hand
That tingle in your ear
Oh ask it anything
Because it loves you dear
It’s your most precious king
If only you could hear

And when you do
You’ll find the one you need is you
You’ll find you
Love you


Sinead O'Connor mas versão dos Massive Attack

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Podes luzir o que quiseres. Nunca serás ouro nenhum.

domingo, janeiro 22, 2006

E ao sétimo dia – Deus fez a Michelle.

sábado, janeiro 21, 2006

Estou até à ponta dos cabelos - com a tonelada de user names e senhas e o raio ca parta que um gajo tem que decorar hoje em dia para fazer seja o que for. Não é a primeira vez que me esqueço de uma. E depois, por mais voltas que dê, sei lá se sou o caramelo_3848 ou camelo_3849.
«Apostámos em dirigentes que beneficiaram dos nossos favores e impusemos determinadas estratégias de transição. Alguns desses dirigentes revelaram-se incompetentes, ou corruptos, ou as duas coisas. Algumas dessas políticas revelaram-se inadequadas, ou corruptas, ou as duas coisas. Não faz sentido afirmar que as políticas estavam certas, mas não foram bem implementadas. A política económica não se faz para um mundo ideal, mas para o mundo tal como ele é. As políticas têm de ser concebidas não para serem aplicadas num mundo ideal, mas no mundo em que vivemos. Não foram exploradas estratégias alternativas mais promissoras, e isso não foi por acaso. Hoje, quando a Rússia começa a responsabilizar os seus dirigentes pelas consequências das suas decisões, também nós devemos pedir contas aos nossos.»

Globalização, a grande desilusão, Joseph E. Stiglitz

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Por todas as vezes – que quero companhia e ela teima em não aparecer, surge companhia quando o que mais me apetece é estar sozinho.
Eh pá, eu pensei – um bom bocado antes de decidir pôr o texto, não queria armar-me ao pingarelho. Mas gostei tanto deste parágrafo que não resisti. Não antecipei a totalidade das queixas. Segue uma possível tradução:

“Porque é que a vida tem que acabar mesmo antes do nosso enterro, uma das raras ocasiões de sucesso que nos são garantidas? Imaginei o meu recorrentemente. Encomendo o meu caixão a uma jovem desenhadora com quem, claro está, tenho uma breve aventura. A cerimónia tem lugar num aeroporto ou num teatro, às vezes dentro de uma igreja barroca na Alta Baviera. O interesse deste tipo de enterro fantasista, assim como dizemos «kirsch fantasie» (onde não há kirsch), é que temos o papel principal, mesmo que seja mudo. Estar na capacidade de imaginar o nosso próprio enterro prova que estamos vivos."

quarta-feira, janeiro 18, 2006

«Pourquoi faut-il que la vie s’arrête juste avant de notre enterrement, une des rares occasions de succès qui nous soit garantie ? J’ai souvent imaginé le mien. Je commande mon cercueil à une jeune dessinatrice avec qui, bien sûr, j’ai une brève aventure. La cérémonie a lieu dans un aéroport ou dans un théâtre, parfois dans une église baroque en Haute Bavière. L’intérêt de ce genre d’enterrement fantaisiste, comme on dit «kirsch fantaisie» (où il n’y a pas de kirsch), c’est qu’on a le premier rôle, bien qu’il soit muet. Etre en mesure de fantasmer sur son propre enterrement prouve qu’on est en vie.»

Trois jours chez ma mère, François Weyergans

terça-feira, janeiro 17, 2006

Esta coisa – de apreendermos as palavras sem nunca as questionarmos é uma parvoíce do piorio. Revela o pouco inquisitórios que somos. Quando devíamos ser brutalmente inquietos e curiosos. Que raio é que as borboletas têm a ver com moscas de ou da manteiga para que os ingleses lhes chamem “butterflies”?

domingo, janeiro 15, 2006

Espera
Vens…?
Talvez
Vou pensar nisso
Vá lá…
Está prometido
Só desta vez
Mas podemos ir noutro dia
Então e se…?
Importas-te?
Tanto faz
Tens a certeza?
Tudo bem
Pode ser
Igual ao litro
Se esperares um bocado
Eu telefono-te
(Nem morto)
Entretanto surgiu uma coisa
Então..?
Afinal
Pensei que
Vais…?
E porque não…?
Achas?
Nããããã…
Não me cheira
Esquece
Depois falamos

sábado, janeiro 14, 2006

Em como os tablóides – existem para que os ditos jornais de referência possam dizer aquilo que, de facto, querem dizer, escudados porque parafraseiam, para não correrem o risco, por isso mesmo, de serem apelidados de tablóides.
É fantástica – a capacidade, o poder que um jornaleco, um tablóide da treta tem para causar tanta celeuma, indignação e tempo de antena. Não digo que as escutas não sejam, de facto, verdade. O que acho incrível é que ninguém ponha em dúvida em nenhum ponto a veracidade daquilo que o “24 horas” diz, partem do princípio que não empola ou exagera.

Não me parece que seja uma hipótese muito remota.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

O tempo - separa-nos cada vez mais. Como se fosse o vento que sopra nas velas do barco que se afasta da terra. Que segue inexoravelmente para o alto e inóspito mar. Eu sei o que vais dizer. Tenho o condão de ler as palavras dos teus olhos. Muito antes de chegarem à tua língua aos teus dentes. Posso sempre desenfunar a vela.

Mas depois como regresso a terra?
O Soares diz – que se o Cavaco for eleito, o Governo corre sérios riscos de não chegar ao fim do mandato. Eu acho que se o Soares for eleito, o Presidente da República corre sérios riscos de não chegar ao fim do mandato.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Resolução #2 de 2006 – Há muito quem diga que a única verdadeira decisão nestas eleições presidenciais é a possibilidade do Cavaco limpar isto tudo logo na primeira volta. Um comentário acertado, pertinente embora muito gasto, correcto embora cliché e, mesmo, atrevo-me a dizer, politicamente correcto.

Para mim, há outra grande decisão, trazida à luz da ribalta na última sondagem da autoria da Católica. A única coisa que me interessa neste momento, enquanto português possuidor de cartão de eleitor e com vontade de sair da cama relativamente cedo no dia 22 para levar a cabo o meu dever cívico, é saber o grande melão dos últimos tempos vai ter lugar.

Eu sei que pode ser praticamente uma heresia dizer isto mas, goste-se ou não do resultado final, convenhamos que ver o Alegre dar uma coça ao Soares teria a sua graça.

domingo, janeiro 08, 2006

Está aí – o melhor da campanha: os tempos de antena. Do pouco que infelizmente vi, destaco, para já, a música do Garcia Pereira. Um misto de grandiosidade, de destino traçado, de salvação de pátria. Que deveria levar “p” maiúsculo. Mas não leva.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Resolução #1 de 2006 – Vê lá se finalmente ganhas a porcaria do rallie, ó Sousa. Depois de tantos anos de bons resultados frustrados na recta final, está mais do que na hora.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Aprendi hoje – que os espanhóis tiveram uma acesa discussão com a na altura (década de 90) Comunidade Europeia a propósito dos teclados de computador. Ao que parece, os tipos queriam à viva força que a o gatafunho “ñ” que, para eles, é considerado, de facto, uma letra, aparecesse nos teclados. Os amigos de Bruxelas não queriam cá formatos diferentes para um mercado comum baseados em diferenças culturais, como uma forma de uniformizar o tratamento dado aos diferentes países.

Nuestros hermanos fincaram os pés. É uma identidade cultural, uma coisa que define os hispano-falantes, e ninguém em Espanha vai comprar um teclado que não tenha essa tecla específica. Há quem diga que foi o argumento da possibilidade de introdução de um aviso ao consumidor da existência dessa tecla que conseguiu que levassem avante a sua contenda. Por seu turno, há quem diga que o argumento que fez mais mossa e ganhou mais pontos foi este: ¿sin la “eñe”, como coño vamos a escribir “coño”?

O que é certo é que as teclas com “ñ”, las hay.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Learning to fly

Into the distance, a ribbon of black
Stretched to the point of no turning back
A flight of fancy on a windswept field
Standing alone my senses reeled
A fatal attraction holding me fast, how
Can I escape this irresistible grasp?

Can’t keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, i

Ice is forming on the tips of my wings
Unheeded warnings, I thought I thought of everything
No navigator to guide my way home
Unladened, empty and turned to stone

A soul in tension that’s learning to fly
Condition grounded but determined to try
Can’t keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, i

Friction lock - set.
Mixture - rich
Propellers - fully forward
Flaps - set - 10 degrees
Engine gauges and suction - check

Mixture set to maximum percent - recheck
Flight instruments...
Altimeters - check both
(garbled word) - on
Navigation lights - on
Strobes - on
(to tower): confirm 3-8-echo ready for departure
(tower): hello again, this is now 129.4
(to tower): 129.4. it’s to go.
(tower): you may commence your takeoff, winds over 10 knots.
(to tower): 3-8-echo
Easy on the brakes. take it easy. it’s gonna roll this time.
Just hand the power gradually, and it...

Above the planet on a wing and a prayer,
My grubby halo, a vapour trail in the empty air,
Across the clouds I see my shadow fly
Out of the corner of my watering eye
A dream unthreatened by the morning light
Could blow this soul right through the roof of the night

There’s no sensation to compare with this
Suspended animation, a state of bliss
Can’t keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, i


Pink Floyd

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Decidiu perder-se - naquele abismo de cabelos ondulantes e olhos claros. Sem destino. Sem direcções. Quanto mais um mapa que fosse ou uma bússola para entreter. De início, apaixonou-se pela descoberta. Todas as pedras que revirava escondiam algo novo para aprender. Sentia-se como um miúdo a quem puseram as chaves de uma loja de brinquedos nas mãos. Sorria.

No fim, quando já tudo havia esgotado, tentou aprender os prazeres da redescoberta. E então punha uma pedra grande em cima de tudo o que via.

domingo, janeiro 01, 2006

«Finalmente, last but not least, a igreja católica, apostólica e romana tinha muitos motives para estar satisfeita consigo mesma. Convencida desde o princípio de que a abolição da morte só poderia ter sido obra do diabo e de que para ajudar a deus contra as obras do demo nada é mais poderoso que a perseverança na prece, tinha posto de lado a virtude da modéstia que com não pequeno esforço e sacrifício ordinariamente cultivava, para passar a felicitar-se, sem reservas, pelo êxito da campanha nacional de orações, cujo objectivo, recordemo-lo, fora rogar ao senhor deus que providenciasse o regresso da morte o mais rapidamente possível para poupar a pobre humanidade dos piores horrores, fim de citação. As preces haviam demorado quase oito meses a chegar ao céu, mas há que pensar que só para atingir o planeta Marte precisamos de seis, e o céu, como é fácil de imaginar, deverá estar muito mais para lá, treze mil milhões de anos-luz de distância da terra, números redondos.»

As intermitências da morte, José Saramago