domingo, dezembro 30, 2007

Ao contrário do que aconteceu noutros anos, aqueles em que nada muda, este que aqui vem parece querer introduzir uma diferença que me faz distanciá-lo dos congéneres. A língua inglesa tem uma expressão que captura perfeitamente o que sinto em relação à nova lei do tabaco: estou “looking forward”. Acho que não vou sentir muito as alterações nos centros comerciais nem nos restaurantes. Onde ela tem um impacto verdadeiramente significativo para mim é no local de trabalho.

Há dias fui relembrado dos malefícios de ter uma impressora no gabinete: o pó que o toner larga é cancerígeno. Aqueles aparelhos deviam estar em salas isoladas das pessoas, ligados em rede. A pessoa que se preocupou o suficiente comigo para me dar o sermão, fê-lo se cigarro na mão o tempo todo. Quando saiu, fechei a porta do gabinete e abri a janela para retirar o cheiro nauseabundo.

Nem sequer acho que a maioria das pessoas que afectam os não fumadores no meu local de trabalho o faça para chatear. Acho que, pura e simplesmente, não se apercebe de que o está a fazer, como este exemplo que referi. Ou quando, numa atitude que revela preocupação e respeito, param no corredor, à porta do gabinete, como se o fumo não entrasse.

Não concordo com medidas draconianas, estilo obrigar os fumadores a vir à rua ou arranjar salas de chuto com péssimo aspecto. Até porque há soluções longe de ser fundamentalistas para a questão. E, acima de tudo, todos os que impestaram até agora o corredor continuam a ter direito a fumar.

Mas, a partir de agora, desde que não continuem a chatear-me.

sábado, dezembro 29, 2007

Dois Medvedevs. Um mesmo papel feito secundário



sexta-feira, dezembro 28, 2007

O Kramer pergunta ao Jerry:
“(...) you never got a G.I. Joe?”
E a legenda:
“(…) nunca recebeste um Joe G.I.?”

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Boxing day at the office

terça-feira, dezembro 25, 2007

Detestava finais felizes. Por isso, preferia a Páscoa ao Natal.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Um dos anúncios mais recorrentes - no metro é o do por favor não entre nem saia após o aviso do fecho de portas. Que, normalmente, vem acompanhado do por favor não force as portas. E depois há um símbolo, colado em cada vidro de cada porta, de uma figura que é suposto ser humana e que deve alertar e relembrar constantemente os utentes para aquelas duas regras, sem ser preciso pôr a gravação ou a voz de bagaço dos maquinistas a repetir a lenga-lenga. O único problema é que a representação faz lembrar qualquer coisa mais do género de olhe, veja lá não se entale no raio da porta do metro, não vá aquilo fechar repentinamente e ficar com uma perna de fora e outra dentro. Então para os senhores, parece ainda mais doloroso.

sábado, dezembro 22, 2007

“It’s like Melrose Place.”
Melrose?” said Bree. “That was a hundred years ago.”
John Doe got excited. “I watched the whole series on DVD. Remember when the script writers couldn’t come up with personalities or characteristics for the characters? They simply made them all go psycho, one by one.”
Bree nodded. “It worked, didn’t it?”
Evil Mark added, “I liked that show.”
I said, “I never watched it. It felt target-marketed.”
“Aaron Spelling made so much money with it,” said Kaitlin. “ But didn’t you notice that, when they started, they were all twentysomething slackers looking for meaning in life, living in a motel-like complex with a swimming pool in the centre?”
Bree said, “That’s exactly like the characters in Douglas Coupland’s 1991 novel, Generation X.”
“Exactly.”
“So they ripped Coupland off?”
“That’s harsh and actionable. But who are we to say?”
“Sounds fishy to me.”
“If I were David Coupland, I’d have sued the pants off Aaron Spelling.”
“Me, too.”
“So would I.”
Finally something we all agreed on.

JPod, David Coupland

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Primeiro, não percebo muito bem o lugar dos indultos quando há a possibilidade de recursos que, obviamente, servem o mesmo propósito. Depois, gostaria de perceber a lógica de ser o Presidente da República a ter a última palavra sobre os indultos a dar cada ano quando, manifestamente, não parece ser a pessoa melhor informada para o fazer; o indulto dado o ano passado a um tipo que era procurado nacional e internacionalmente.

Pior ainda que esta confusão toda, é o facto de associarem deliberadamente esta prática a uma espécie de espírito natalício. Porque dá um péssimo ar de facilitismo. Se o indulto é para ser concedido, então é porque respeita um conjunto de critérios morais ou humanitários, sejam eles quais forem, que se mantêm até no pino do Verão.

Agora, receber um indulto num sapatinho é que não.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Belém vs Eliseu





Combate facilmente ganho por KO pelo palácio francês. A única dúvida é se deveria ser Belém à direita e o Eliseu à esquerda.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Ein Mann ein Wort,
Eine Frau ein Wörterbuch


segunda-feira, dezembro 17, 2007

“Do we have radishes?” Kaitlin asked.
“Yes, but nobody likes radishes.”
“I know. Has anybody in the history of humanity ever sat down one day and said to themselves, You know, I’d like nothing more right now than to eat a crisp yummy radish?”

Jpod, Douglas Coupland

sábado, dezembro 15, 2007

A carrinha de nove lugares - segue por entre a confusão da estrada esburacada, povoada de outros carros caóticos. Os volantes tanto são à esquerda como à direita. Passam pickups com moles de pessoas na caixa: aparentemente funcionam como transporte de passageiros. Por entre as frinchas deixadas pelos veículos maiores, um enxame de pequenas motas e lambretas atrevidas.

De repente, no curto instante em que descolo a cara do vidro que me mantinha vidrado
I hope you know, I hope you know
That this has nothing to do with you

Vindo do rádio da carrinha. A horas de voo e de imediato estou no trânsito matinal de um dia de semana. De volta, o encanto perdido pela ocidentalização do som. Aquele som que só ouço na rádio quando as alternativas também não me interessam, incluído a de desligar por completo o aparelho. Estou em Lisboa outra vez e só quero voltar a ir-me.

A fuga só é retomada depois de entrar na zona do complexo. Não porque o tráfego local se reduza aos turistas de máquina fotográfica em riste. Hordas de japoneses, alemães, franceses pululam os locais, sempre em numerosos grupos acompanhados de guias locais. Mas porque a primeira paragem é, invariavelmente, Angkor Wat.

Wat porque é o templo. O templo da cidade capital, é esse o significado de Angkor. Ladeado de um canal de água quadrangular, um passadiço de pedra leva-nos à entrada. As diferentes portas são aquelas que depois dão acesso à zona interior e central do templo, onde se erguem as torres que pretendem homenagear os deuses. Um telemóvel dispara um toque polifónico e
It's personal, myself and I
We got some straightening out to do


Novamente arrancado como que de um sono profundo. Sonâmbulo, dou por mim de novo com as paredes inscritas à minha frente. O guia fala no seu inglês difícil, intercalando praticamente cada frase com ‘derstan’?, talvez pressentido o nosso alheamento que se traduzia em frequentes acenos com a cabeça e onomatopeias afirmativas. Daquilo que de facto percebi, pouco retive. Os nomes voaram-me da cabeça. Talvez nem sequer tenham chegado a entrar: é difícil ouvir as explicações históricas e mitológicas com tudo aquele bombardeamento visual à minha frente: é pior que discutir política durante um espectáculo de strip.

Na paragem seguinte, as mulheres com camisolas nas mãos a vir ter connosco
You buy somethi’, si’
e os miúdos a perseguir-nos com molhos de postais nas mãos
One dolá
A partir de certa altura, não preciso sequer de imaginar a selva a engolir os monumentos, a cidade que vejo. O Ta Prohm encarrega-se disso. As árvores sustêm as paredes, os muros. Ali, naquele pequeno troço, foi onde a Angelina Jolie filmou o Tomb Raider.

Tudo o que me lembra do resto do mundo, lá incrivelmente longe que possa estar, surge sob a forma da voz feminina standardizada, quase como se tivesse sido produzida em série, numa qualquer linha de montagem onde, decerto os trabalhadores monótonos trabalham ao som de vozes igualmente insípidas:
And I´m gonna miss you like a child misses their blanket
But I've gotta get a move on with my life


À tarde, o barco seguiu pelas margens barrentas, pelo canal construído pelos manglares densos e verdes. Cruzou-se com outros semelhantes, alguns com ocidentais alapados, outros com locais de chapéu em cone na cabeça. Depois de avançar pelo rio adentro, as casas começam as nascer no meio da água. Uma vida construída literalmente dentro de um rio.

No regresso, o sol quase posto, dava aquela coloração azul que é cada vez mais clara até se tornar no escuro da noite. Pela primeira vez senti um pouco de frio, molhado pela água da chuva e a receber o vento da deslocação de frente. O silêncio era total, apenas o motor falava por nós. No regresso, percebi que não percebia. Até onde pode ir esta nossa diferença? Até onde posso continuar a ser surpreendido? E então volto a ouvir:

It's time to be a big girl now
And big girls don't cry









sexta-feira, dezembro 14, 2007

Macau Wow – the world’s largest casino attracts thousands of eager Chinese punters - Its construction involved filling in the sea between two of Macau’s islands to recreate the Las Vegas strip, and then carefully cutting out tiny canals to provide at least a hint of Venice. On August 28th the Venetian Macau, the world’s biggest casino, opened its doors to an ocean of people eager to get to its tables.
(…)

The enormous building, Asia’s largest, required 20,000 construction workers and 3m sheets of gold leaf. Running it takes 16,000 employees and enough power for 300,000 homes. Construction costs sweeled from $1.8 billion to $2.4 billion – more, the South China Morning Post pointed out, than Macau’s entire public-works budget for the past five years.

The Venetian has 870 tables and 3,400 slot machines in the world’s largest gambling hall, which is encircled by 350 shops, more retail espace than any Hong Kong mall. That is also over twice as many tables as existed in all Macau in 2002, when a local monopoly was broken and the Las Vegas operators were allowed in.

The Economist

quinta-feira, dezembro 13, 2007

O pedinte dirige-se àquela janela que se abre do alto de um todo-o-terreno citadino, com o braço mais estendido do que o costume. Ia jurar que os seus olhos se arregalaram: todos os dias o vejo ali e reparo que são poucos os que lhe depositam qualquer coisa na mão. Talvez porque ele não insista, aquela estratégia que muitos colegas de profissão tão bem desenvolveram por necessidade. De desagradável que é, costuma resultar porque gera mal-estar aos de nós que têm algo na carteira e se condoem ou, pura e simplesmente, não têm paciência para continuar a dizer não.

Mas, logo em seguida, afasta-se do veículo e volta à posição cabisbaixa, as costas ligeiramente encurvadas, como se o peso da sua existência o empurrasse de encontro ao chão de alcatrão irregular. Continua a sua deambulação por entre duas filas de carros pensativos, presos temporariamente à cor vermelha do semáforo. Depois percebo o mal-entendido.

Atrás vinha o tipo dos jornais grátis.

terça-feira, dezembro 11, 2007

segunda-feira, dezembro 10, 2007

É paradoxal que cada vez mais o mundo se abra - e os países sejam receptivos no âmbito da globalização e, ao mesmo tempo, a insegurança dos tempos modernos levem a que ninguém tenha a sua porta de casa aberta.

domingo, dezembro 09, 2007

Todas as cidades têm uma Chinatown. Nem que se chame Martim Moniz. Esta é a Chinatown de Singapura: casinhas pequeninas e aconchegadas, ladeadas e quase que vigiadas pelos arranha-céus que nunca deixam de marcar a sua presença lá ao fundo.

sábado, dezembro 08, 2007

Kasparov preso pela polícia apesar de estar protegido por cavalo e torre – O antigo campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, que depois de se retirar da competição dedicou-se à política, foi preso pela polícia russa quando liderava uma manifestação: “A polícia russa surpreendeu-me com uma jogada inspirada no mestre Bobby Fisher, pois os seus cavalos avançaram na diagonal, derrubando o meu cavalo e deixando exposto o meu bispo, que ficou indefeso à mercê dos peões ex-KGB de Putin. Ainda tentei fugir na diagonal, mas à minha espera estavam as torres dos seguranças russos, que deram um arraial de porrada na minha torre e deixaram de fora o meu rei e rainha, que nada puderam fazer face à acção opressora do Imperador Putin”, declarou Kasparov

Inimigo Público

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Do ponto de vista de um anglófono, deve ser engraçado olhar para um avião da TAP e ver “torneira” escrito na fuselagem. No entanto, para um português faria muito mais sentido uma vez que certamente estará mais a par do quanto a empresa tem pingado ao longo dos anos.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Sinto-me parte integrante de uma tabela de troubleshooting. Como os dos manuais de utilizador dos aparelhos electrónicos. Por um lado, porque estou sempre rodeado de situações a precisar de ser resolvidas. Por outro lado, porque a esmagadora maioria dos casos que prevejo e para os quais tenho soluções quase insultuosas de simples que são, não servem para nada.

terça-feira, dezembro 04, 2007

« – Outra vez ainda! – disse Rodolfo. – Sempre os deveres! Sinto-me maçado com tais palavrões. É um bando de velhos caturras de colete de flanela, e de beatas com pantufas e rosário, cantando continuamente aos ouvidos: «O dever! O dever!» Deus me livre! O dever é o sentimento do que é grandioso, querer o que é belo, e não aceitar todas as convenções da sociedade com as ignomínias que ela nos impõe.
– Contudo…contudo… – objectava Ema.
– Oh, não! Para que se há-de declamar contras as paixões? Não serão elas a única coisa bela que há neste mundo, a fonte do heroísmo, do entusiasmo, da poesia, da música, das artes, de tudo, enfim?»

Madame Bovary, Gustave Flaubert

segunda-feira, dezembro 03, 2007

domingo, dezembro 02, 2007

Circo Chen e Victor Hugo Cardinali – as potencialidades de cartelização do mercado dos circos.

sábado, dezembro 01, 2007

Quando Stamford Raffles resolveu cortar o cordão umbilical - que o prendia ao Império de Sua Majestade, não o fez por uma razão de somenos importância. Singapura merecia, já na altura, todas as tesouras ou demais instrumentos cortantes que tratassem da questão. Possivelmente, nem o próprio teria noção da extensão da sua razão. Pudesse observar a cidade-Estado volvida uma centena e picos de anos e certamente se espantaria.

Localização estratégica é a expressão mágica que dá vida território. Haverá, naturalmente, outras razões que potenciem o seu sucesso mas nenhum conseguirá reunir a importância de que se reveste o controlo de trocas comerciais. O mapa diz tudo, não engana. Qualquer navio que queira comunicar entre os colossos comerciais que são a China, o Japão e a Coreia, com toda a região a oeste da Indochina, tem duas hipóteses: passar ao largo de Singapura e enveredar pelo estreito malaio; dar uma volta ao bilhar muito grande que é a Indonésia.

A cidade do Leão não será, no entanto, uma Hong Kong. A altura das construções na região administrativa especial é muito mais intensa, fruto do exíguo espaço próprio para urbanizar na ilha. O mesmo não sucede em Singapura, onde o terreno é muito menos acidentado e os grandes arranha-céus estão apenas no centro financeiro da cidade.

Mas não é por isso que o ex libris não é monumento ou edifício: são as características do sistema de controlo social particularmente repressivo. E não são só as penas duras que chegam aos quatro cantos do mundo, como a de morte para os traficantes de droga. As coisas miudinhas como coimas para quem coma no metro, cuspa no chão ou mastigue uma pastilha elástica (cuja venda é proibida) são igualmente internacionalizadas pelo seu lado insólito.

Como em qualquer Estado repleto de uma vontade que tem tanto de moralizadora como de paternalista, os paradoxos têm que existir, escapam-se como água por entre os dedos de mãos que se querem estanques: a prostituição é legal em locais a esse fim destinados. O mais curioso é que só recente foi aprovada a despenalização do sexo oral e anal. Mas só para casais heterossexuais: os homossexuais, esses, continuarão a chuchar no dedo. O Governo pretende, com a medida, promover a vida familiar em harmonia.


Imagino Raffles a despejar um olhar carregado pela janela dum luxuoso quarto do hotel que enverga o seu nome, enquanto vai bebericando o seu Singapore Sling. A ilha que, para si, havia sido sinónimo de liberdade, um grito de Ipiranga, é agora um Estado onde vigora um regime de partido único e, pior, um símbolo de repressão. Não fiques assim, Stam. Sem chegar a vestir a pele de advogado do diabo devo dizer-te, honestamente, que não se nota.

A única repressão que se sente nas ruas da cidade do Leão é a do calor húmido sufocante.