domingo, outubro 30, 2005
Esta coisa – da mudança de hora deve ter-me dado um jetlag brutal. Estou com uma moleza que só me apetece dormir.
sábado, outubro 29, 2005
Playlist - de uma tarde estudo pouco produtiva
Pastoral ou a 6ª sinfonia do Ludovico Beethoven
Vespertine da Björk
Freedom in the groove do Joshua Redman em quinteto
Points of view do Dave Holland também em quinteto
Pastoral ou a 6ª sinfonia do Ludovico Beethoven
Vespertine da Björk
Freedom in the groove do Joshua Redman em quinteto
Points of view do Dave Holland também em quinteto
Debatias-te - contra uma força que em muito era superior à tua. Não que fosses fraca, frágil, lingrinhas, uma flor de estufa. Eras, pelo contrário, um osso duro de roer, enrijecida pelo hábito duma vida que te foi madrasta. No entanto, nada podias contra os braços que te sustinham, que te impediam
Já te disse para me deslargares
E eles não te largavam porque
Onde vais...?
queriam que ficasses ali, como se lhes pertencesses, por direito.
Aonde é que tu pensas que vais?
Passavam-te pela cabeça as coisas que a tua mãe dizia, naquele tempo em que as águas furtadas de um prédio a cair aos bocados te pareciam um imenso território por investigar. Não durou muito até que achasses que devias sair dali depressa, assim que a oportunidade se te apresentasse à frente do nariz. Obviamente, não ias ficar especada a olhar para ontem.
Deixa-me
Continuava a não deixar, aquela força contida naqueles músculos sólidos, irrigados por veias que sobressaiam como grandes elevações como se quisessem furar a pele e sair cá para fora. Tentaste usar também os pés, as mãos, todo o teu corpo estava concentrado no único propósito de sair dali a todo o custo. Cada vez era mais difícil, cada vez ele ganhava um maior domínio, um maior controlo e dizia
Tu não vais é a lado nenhum minha linda
E pronunciava-o com um sorriso sórdido na cara, os lábios ligavam-se com fios de saliva que se acumulava nos cantos, espumava como quem morre de fome e tem diante de si uma refeição caída dos céus.
Já te disse para me deslargares
E eles não te largavam porque
Onde vais...?
queriam que ficasses ali, como se lhes pertencesses, por direito.
Aonde é que tu pensas que vais?
Passavam-te pela cabeça as coisas que a tua mãe dizia, naquele tempo em que as águas furtadas de um prédio a cair aos bocados te pareciam um imenso território por investigar. Não durou muito até que achasses que devias sair dali depressa, assim que a oportunidade se te apresentasse à frente do nariz. Obviamente, não ias ficar especada a olhar para ontem.
Deixa-me
Continuava a não deixar, aquela força contida naqueles músculos sólidos, irrigados por veias que sobressaiam como grandes elevações como se quisessem furar a pele e sair cá para fora. Tentaste usar também os pés, as mãos, todo o teu corpo estava concentrado no único propósito de sair dali a todo o custo. Cada vez era mais difícil, cada vez ele ganhava um maior domínio, um maior controlo e dizia
Tu não vais é a lado nenhum minha linda
E pronunciava-o com um sorriso sórdido na cara, os lábios ligavam-se com fios de saliva que se acumulava nos cantos, espumava como quem morre de fome e tem diante de si uma refeição caída dos céus.
sexta-feira, outubro 28, 2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
Fumou aquele cigarro - como se fosse o último. Tal e qual uma condenada à morte. Lentamente, aspirando todo o prazer existente em cada baforada. Já nada havia senão o filtro amarelado, humedecido na ponta, avermelhado pelo baton gritante, quando o esmagou veementemente contra o fundo do cinzeiro de vidro. Depois, ainda antes de se levantar da cadeira:
Pronto já está
A silhueta não deixava margem para dúvidas. Ainda muito longe, muito antes de nos cruzarmos, distingui a figura alaranjada e arredondada, como um pequeno sol portátil, ao nível da boca esguia. Sorriu para mim como uma miúda reguila apanhada com a boca na botija.
É difícil…
Pronto já está
A silhueta não deixava margem para dúvidas. Ainda muito longe, muito antes de nos cruzarmos, distingui a figura alaranjada e arredondada, como um pequeno sol portátil, ao nível da boca esguia. Sorriu para mim como uma miúda reguila apanhada com a boca na botija.
É difícil…
terça-feira, outubro 25, 2005
segunda-feira, outubro 24, 2005
E – subitamente, veio um dia calmo. Um dia em que, até ao momento, não corri uma única vez. Um dia em que vou ter tempo para ir à Baixa almoçar. Um dia em que o problem set do fim-de-semana com entrega na quarta está praticamente arrumado. Um dia em que só me apetece ouvir os CD’s do Rosenwinkel como se fossem resquícios do concerto que ficou na minha cabeça.
Será a bonança depois da tempestade…? O problema é eminentemente um problema de escala. A intempérie de ontem poderá ser a brisa de hoje. A brisa de hoje poderá ser o “Katrina” da semana que vem. Tudo depende de como se encaram os elementos. Porque quem faz os ventos ciclónicos somos nós.
E a nossa mania de fazer tempestades em copos de água.
Será a bonança depois da tempestade…? O problema é eminentemente um problema de escala. A intempérie de ontem poderá ser a brisa de hoje. A brisa de hoje poderá ser o “Katrina” da semana que vem. Tudo depende de como se encaram os elementos. Porque quem faz os ventos ciclónicos somos nós.
E a nossa mania de fazer tempestades em copos de água.
domingo, outubro 23, 2005
A saga - do dia 22 de Outubro começou relativamente cedo no ano com um anúncio na Jazz Portugal que dava como certo o Mehldau no grande auditório do CCB. Olhos, ouvidos, pele, nariz, língua, todos os sentidos alerta para saber quando seria possível comprar tão desejado bilhete.
Da primeira vez que me lembro que ele cá tenha estado, na altura na Culturgest, não pude ir ver. Da segunda vez, no verão do ano passado, estava de férias, demasiado longe de Lisboa.
Desta vez não podia falhar. Por todas as razões. Porque falhei das outras. Porque é um dos melhores músicos que já ouvi. Porque é uma inspiração. Porque a música dele transcende.
Algo está errado. Podre. E não é no Reino da Dinamarca. No site do CCB, não há nenhuma menção ao concerto. Via telefone, não há confirmação. Pior. Abri o site do próprio pianista. Já tem concerto marcado para o mesmo dia. Noutro ponto do mundo. Nada de Lisboa. Nada de CCB.
Depressão. Angústia. O dia 22 de Outubro parece perdido para todo o sempre. Estou frustrado. Com pouca vontade de voltar a prestar atenção às dicas off the record e muito pouco oficiais da Jazz Portugal. Acabou por ser o Toots a tapar o buraco do grande auditório.
Expresso. Pouco menos de um mês atrás. Seixal Jazz. Quem…!?!? O Kurt vem cá…? Que dia…?
22 de Outubro, o dia em que fui ao Seixal Jazz ver um dos melhores guitarristas da actualidade. Brilhante, para não dizer mais. Melhor: fez-se acompanhar por Chris Cheek e o Goldberg no piano. Um quinteto de luxo, do qual nem fazia ideia quando comprei os bilhetes.
O destino foi pouco irónico. O concerto de chorar por mais. Hora e meia de sete temas. No final, por pouco não segui à risca os preceitos dos entendidos na matéria e dei cordas à garganta para soltar o meu sonoro:
Twinkle twinkle Rosenwinkel
Da primeira vez que me lembro que ele cá tenha estado, na altura na Culturgest, não pude ir ver. Da segunda vez, no verão do ano passado, estava de férias, demasiado longe de Lisboa.
Desta vez não podia falhar. Por todas as razões. Porque falhei das outras. Porque é um dos melhores músicos que já ouvi. Porque é uma inspiração. Porque a música dele transcende.
Algo está errado. Podre. E não é no Reino da Dinamarca. No site do CCB, não há nenhuma menção ao concerto. Via telefone, não há confirmação. Pior. Abri o site do próprio pianista. Já tem concerto marcado para o mesmo dia. Noutro ponto do mundo. Nada de Lisboa. Nada de CCB.
Depressão. Angústia. O dia 22 de Outubro parece perdido para todo o sempre. Estou frustrado. Com pouca vontade de voltar a prestar atenção às dicas off the record e muito pouco oficiais da Jazz Portugal. Acabou por ser o Toots a tapar o buraco do grande auditório.
Expresso. Pouco menos de um mês atrás. Seixal Jazz. Quem…!?!? O Kurt vem cá…? Que dia…?
22 de Outubro, o dia em que fui ao Seixal Jazz ver um dos melhores guitarristas da actualidade. Brilhante, para não dizer mais. Melhor: fez-se acompanhar por Chris Cheek e o Goldberg no piano. Um quinteto de luxo, do qual nem fazia ideia quando comprei os bilhetes.
O destino foi pouco irónico. O concerto de chorar por mais. Hora e meia de sete temas. No final, por pouco não segui à risca os preceitos dos entendidos na matéria e dei cordas à garganta para soltar o meu sonoro:
Twinkle twinkle Rosenwinkel
sábado, outubro 22, 2005
Não podia deixar – passar em branco o regresso aos posts de pescada. É isso mesmo, acabou-se o pós operatório do disco formatado e o bicho voltou a casa. Muito mais rápido e expedito, não fosse ter sido livrado de tudo o que era vírus e spyware que actuavam como autênticas botas de escafandrista.
Foi caso para soltar um habemus computadorum bem sonoro.
Foi caso para soltar um habemus computadorum bem sonoro.
quinta-feira, outubro 20, 2005
Não te disse adeus
Nem te fiz um aceno
Nem sequer até logo
Muito menos indicar-te a porta
Quanto mais desaparece
Ou virar-te as costas
Mesmo assim foste-te
Onde andas?
Nem te fiz um aceno
Nem sequer até logo
Muito menos indicar-te a porta
Quanto mais desaparece
Ou virar-te as costas
Mesmo assim foste-te
Onde andas?
terça-feira, outubro 18, 2005
A cara lavada – é esventrada pelos torreões que não aderiram aos retoques na pintura. A entrada ajardinada está mais arranjada, o poste passou a ter uma bandeira com as cores da casa que esperneia ao som do vento.
O mesmo corredor muito comprido, com os candeeiros arredondados a espaços e vitrinas que protegem os quadros com horários, avisos e anúncios de emprego. As mesmas cadeiras de tampo amarelado e com pernas de um vermelho muito vivo. Os mesmos relógios cujos ponteiros fazem um som distinto e parecem demorar mais do que os outros a avançar. Os mesmos professores. Os mesmos colegas.
Parece que nada mudou; que tudo permaneceu estático e imutável de pedra e cal, tal e qual como gravei na memória da última vez que por lá passei. Estranhamente, também parece que tudo mudou. Porque a lógica é diferente, o trabalho é diferente, a abordagem é diferente. O nível de exigência e demais condições obrigam a que me modifique, que faça o que não estou habituado a fazer.
Mudar não é fácil. Este é o requisito mais motivante.
O mesmo corredor muito comprido, com os candeeiros arredondados a espaços e vitrinas que protegem os quadros com horários, avisos e anúncios de emprego. As mesmas cadeiras de tampo amarelado e com pernas de um vermelho muito vivo. Os mesmos relógios cujos ponteiros fazem um som distinto e parecem demorar mais do que os outros a avançar. Os mesmos professores. Os mesmos colegas.
Parece que nada mudou; que tudo permaneceu estático e imutável de pedra e cal, tal e qual como gravei na memória da última vez que por lá passei. Estranhamente, também parece que tudo mudou. Porque a lógica é diferente, o trabalho é diferente, a abordagem é diferente. O nível de exigência e demais condições obrigam a que me modifique, que faça o que não estou habituado a fazer.
Mudar não é fácil. Este é o requisito mais motivante.
segunda-feira, outubro 17, 2005
Yo pienso - que solo hay un equipo que puede ganar el campeonato, y ese equipo es el Benfica. Tenemos muchas ganas, confianza y voluntad. Jugamos con mucho chiste: estamos muy bien defensivamente, el medio campo está muy sólido y marcamos goles de todas las formas. Incluso Nuno Gomes ha empezado a hacer lo que debría haber hecho durante todos estes anos pasados. Con un poquito de suerte, nadie nos ganará.
Não foi assim. Mas poderia ter sido.
Não foi assim. Mas poderia ter sido.
sexta-feira, outubro 14, 2005
quinta-feira, outubro 13, 2005
Chegou-se - até muito perto dela, sentia o odor adocicado que se soltava dos seus cabelos ondulados. Pôs-se de cócoras para ficar à altura do corpo sentado, inerte. Colocou as mãos nas pernas muito juntas, tensas, junto aos joelhos proeminentes e forçou-a a encará-lo e a soltar o olhar fixo do chão. Depois ergueu-se, dobrou-se até ficar com a cabeça perto da dela. Fez uma concha com a mão direita e colocou-a como uma ponte entre os seus lábios e o ouvido dela. Repentinamente, sussurou:
Agora...
Nada. Ela permaneceu estática. Completamente parada. Hirta.
Ele não se deu por convencido. Deixou que a confiança crescesse em si e, com mais força, mas sempre sem deixar de sussurar:
Agora...!!
O mesmo olhar largou a parede do fundo e a cabeça virou-se lentamente na direcção dele.
E foi então que ela se levantou.
Agora...
Nada. Ela permaneceu estática. Completamente parada. Hirta.
Ele não se deu por convencido. Deixou que a confiança crescesse em si e, com mais força, mas sempre sem deixar de sussurar:
Agora...!!
O mesmo olhar largou a parede do fundo e a cabeça virou-se lentamente na direcção dele.
E foi então que ela se levantou.
quarta-feira, outubro 12, 2005
Em como a teoria – que postula a impossibilidade de uma grande amizade entre pessoas de sexos opostos (e heterossexuais, para os mais desconfiados) sem que questões de cama surjam pelo meio, é um grande disparate.
terça-feira, outubro 11, 2005
Porque ele escreveu primeiro - , porque não se esqueceu como eu de levar um caderno para escrever umas coisas ao fim do dia, porque eu não contava esticar-me tanto nas impressões de São Paulo, resolvi não abordar a parte de aventura rural das minhas férias pelo Estado de Minas Gerais e remeto os curiosos para o que meu companheiro de viagem escreveu.
Sampa #4 - O resultado está à vista. São Paulo é uma cidade violenta. Muito violenta. Na semana da minha estada, ouvi falar de num assalto a um restaurante da movimentada Avenida de Santo Amaro no qual os assaltantes fizeram reféns as pessoas que lá se encontravam, e nas quatro balas que mataram o filho de um banqueiro, também assaltado. No fundo da rua onde fiquei, algumas pessoas foram assaltadas à mão armada a semana passada. Conheci uma pessoa que foi mantida refém juntamente com as pessoas que vivem no seu prédio, durante duas horas, até os criminosos terem pilhado quatro pisos e resolverem fugir por não terem capacidade de levar mais coisas consigo.
Efectivamente, os roubos nos prédios de habitação são dos maiores problemas de segurança. Por essa razão, nos locais nobres da cidade onde os habitantes têm dinheiro suficiente para tal, os mecanismos de defesa são bastante notórios. No exterior, grades metálicas, muros enormes, cercas eléctricas. Quando nos aproximamos da entrada de um edifício à noite, células fotoeléctricas acendem potentes holofotes que não deixam os criminosos aproveitar a escuridão.
Depois, há os porteiros. No prédio onde fiquei, a porta que dá para a rua é fumada, não é possível ver o interior. É o porteiro que a abre, apenas se for alguém conhecido. Se não for o caso, é necessário identificar-se para que ele possa verificar que estão de facto à nossa espera. O meu anfitrião teve que escrever uma autorização para que eu pudesse entrar sozinho no edifício. Até chegar ao elevador, há ainda mais duas portas controladas pelo porteiro. No elevador, há câmaras que registam o que se passa lá dentro e que pode ser visto nos televisores dentro dos apartamentos. Não é preciso carregar naqueles botões com pequenos leds laranjas para acender as luzes do corredor; acendem-se com o movimento para que possamos ver de dentro de casa pelo óculo.
O outro problema clássico, muito conhecido, é o dos assaltos aos carros, tipicamente nos semáforos. O fenómeno é de tal forma significativo que as autoridades renderam-se às evidências e tornaram legal passar um vermelho à noite. A maioria das viaturas tem vidros fumados e os automobilistas andam com as portas trancadas. As pessoas que têm dinheiro para automóveis mais caros e, por isso, mais apelativos, mandam colocar vidros à prova de bala. Aliás, é muito comum ver anúncios desse género em stands de marcas como BMW ou Mercedes.
Eu acho que a comunicação social exagera um pouco em matéria de segurança. Vivo em São Paulo desde que nasci e nunca me aconteceu nada. E eu sou um cara despreocupado, ando com as portas abertas. É claro que há zonas que são perigosas, mas na zona onde estamos o perigo é o mesmo que nas outras grandes cidades.
Não tens problema nenhum, podes andar à-vontade na rua, ouvi dizer vezes sem conta. Tentaram-me assegurar que é seguro repetidamente. Mas, na mesma conversa, depois de passar o paninho quente, adicionaram sempre um exemplo vincado de uma situação de violência extrema. Porque sabem que ela anda lá fora. Às catadupas. No final, senti que há uma grande vontade nos habitantes de se auto-assegurarem, de desdramatizar, de diminuir, de ridicularizar para encarar o dia-a-dia. Porque, no limite, há sempre um clima de instabilidade e insegurança que, se para um paulistano já é significativo, para um português nem se fala.
Para acabar com o paleio de uma vez por todas, nada melhor que umas linhas a puxar para o metafórico. E acabo por aqui o relato desta viagem.
São Paulo é como um animal selvagem, um felino, um tigre: por um lado, exótico, atraente, belo, sedutor, inebriante; por outro, agressivo, mesmo que o tentemos domesticar, subsiste sempre um comporamento instintivo no qual não se pode confiar.
Efectivamente, os roubos nos prédios de habitação são dos maiores problemas de segurança. Por essa razão, nos locais nobres da cidade onde os habitantes têm dinheiro suficiente para tal, os mecanismos de defesa são bastante notórios. No exterior, grades metálicas, muros enormes, cercas eléctricas. Quando nos aproximamos da entrada de um edifício à noite, células fotoeléctricas acendem potentes holofotes que não deixam os criminosos aproveitar a escuridão.
Depois, há os porteiros. No prédio onde fiquei, a porta que dá para a rua é fumada, não é possível ver o interior. É o porteiro que a abre, apenas se for alguém conhecido. Se não for o caso, é necessário identificar-se para que ele possa verificar que estão de facto à nossa espera. O meu anfitrião teve que escrever uma autorização para que eu pudesse entrar sozinho no edifício. Até chegar ao elevador, há ainda mais duas portas controladas pelo porteiro. No elevador, há câmaras que registam o que se passa lá dentro e que pode ser visto nos televisores dentro dos apartamentos. Não é preciso carregar naqueles botões com pequenos leds laranjas para acender as luzes do corredor; acendem-se com o movimento para que possamos ver de dentro de casa pelo óculo.
O outro problema clássico, muito conhecido, é o dos assaltos aos carros, tipicamente nos semáforos. O fenómeno é de tal forma significativo que as autoridades renderam-se às evidências e tornaram legal passar um vermelho à noite. A maioria das viaturas tem vidros fumados e os automobilistas andam com as portas trancadas. As pessoas que têm dinheiro para automóveis mais caros e, por isso, mais apelativos, mandam colocar vidros à prova de bala. Aliás, é muito comum ver anúncios desse género em stands de marcas como BMW ou Mercedes.
Eu acho que a comunicação social exagera um pouco em matéria de segurança. Vivo em São Paulo desde que nasci e nunca me aconteceu nada. E eu sou um cara despreocupado, ando com as portas abertas. É claro que há zonas que são perigosas, mas na zona onde estamos o perigo é o mesmo que nas outras grandes cidades.
Não tens problema nenhum, podes andar à-vontade na rua, ouvi dizer vezes sem conta. Tentaram-me assegurar que é seguro repetidamente. Mas, na mesma conversa, depois de passar o paninho quente, adicionaram sempre um exemplo vincado de uma situação de violência extrema. Porque sabem que ela anda lá fora. Às catadupas. No final, senti que há uma grande vontade nos habitantes de se auto-assegurarem, de desdramatizar, de diminuir, de ridicularizar para encarar o dia-a-dia. Porque, no limite, há sempre um clima de instabilidade e insegurança que, se para um paulistano já é significativo, para um português nem se fala.
Para acabar com o paleio de uma vez por todas, nada melhor que umas linhas a puxar para o metafórico. E acabo por aqui o relato desta viagem.
São Paulo é como um animal selvagem, um felino, um tigre: por um lado, exótico, atraente, belo, sedutor, inebriante; por outro, agressivo, mesmo que o tentemos domesticar, subsiste sempre um comporamento instintivo no qual não se pode confiar.
segunda-feira, outubro 10, 2005
Sampa #3 – O edifício do Museu de Arte de São Paulo é, no mínimo, bastante invulgar. Do lado de fora, podia ser descrito simplesmente como um caixote rectangular cinzento suspenso em quatro robustos pilares vermelhos, mais ou menos ao lado dos vértices. Percebo que possa ter causado alguma perplexidade. Mas reafirmo: sim, o que acabei de dizer implica que o piso térreo, pura e simplesmente, é a rua. Impressionante é estar debaixo da estrutura, com todo o 1º piso por cima. Fez-me sentir como os irredutíveis gauleses, que só tinham medo que o céu lhes caísse na cabeça.
Do lado direito, barreiras indicam o caminho a seguir até chegar à bilheteira. Depois de pagar a entrada (cinco reais para estudante...), há um bengaleiro ainda na rua. Detector de metais e dois seguranças atarefados a meter a conversa em dia e uma porta de elevador. Pressiona-se o respectivo botão. Quando a porta abre, o ascensorista pede o bilhete e rasga-o, assinalando a entrada.
Aparentemente, alguns dos locais não apreciam muito o aspecto exterior deste muito pouco ortodoxo museu. Mas em relação ao acervo não podem soltar muitas críticas. No segundo subsolo, a parte mais impressionante: Rousseau, Velasquez, Renoir, Gaughin, Manet, Monet, Picasso, Van Gogh, Rembrant, entre outros. Fiquei impressionado com a riqueza que ali se encontra.
E foi essa riqueza que ficou ainda no meu espírito quando, passado algumas horas, voltei a sair para rua com o intuito de sentir um pouco do ambiente. A Avenida Paulista é uma espécie de Oxford Street, apenas maior e mais cinzenta, abrupta. É o pujante centro económico da cidade. Os prédios altos, os bancos, as lojas, as empresas, sucedem-se uns atrás dos outros.
Aqui estão os empregos que pagam bem, aqui está o top end social da cidade. A caras são mais europeias, mais de acordo com a sociedade retratada nas telenovelas. Os homens andam de fato e gravata, as senhoras têm pinta de executivas. Aqui não me senti inseguro, há polícias em cada esquina numa espécie de plataformas elevadas, estilo nadadores-salvadores a olhar para os nadadores em mar ondulado. Já não há o apregoar de preços. São as marcas que conhecemos do nosso mundo globalizado, com preços que até podem ser impeditivos para um europeu.
Como os do centro comercial Iguatemi, o mais “in” de São Paulo. Dizer a um paulistano que se faz compras neste local equivale a dizer-lhe que se tem uma carteira muito funda. Meti-me ao caminho. Avenida Faria Lima acima, paralelamente à marginal Pinheiros. Depois de uns bons vinte minutos meia-hora a andar, vi-o surgir, do lado esquerdo. Um caixote, como qualquer outro centro comercial. As diferenças estão no interior. A mais impressionante de todas: a loja da Louis Vuitton que aí se encontra no piso térreo, repleta de tias chiquérrimas, é uma das que mais vende no mundo inteiro.
Sampa é assim. Contrastante. Muito contrastante. Tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro. Edifícios com heliportos no topo para o jet-set não ter que se preocupar com o trânsito caótico quando se desloca para o trabalho, manobristas que estacionam os carros para poupar a chatice de procurar um lugar, táxis em todas as esquinas, uma vida nocturna cara e muito intensa, um costume de prostituição de luxo, restaurantes de chiquérrimos, baladas, academias de “esporte” caríssimas.
E também tem favelas. E muita pobreza. Pobreza profunda. Pessoas que não vivem: sobrevivem. À saída do Parque Ibirapuera, onde os ricos passeiam o cão e fazem jogging com o lago de fundo e o planetário do Niemeyer, estava um “pé descalço”. Trabalha nos semafóros, como muitos outros. Alguns fazem malabarismos. Este vende. Quando cai o vermelho, colocou sacos de plástico com pacotes de pastilhas ou chocolates e um papel que explica a vontade de levar uma vida honesta e alimentar a família. O conteúdo do pequeno saco custa, normalmente, um real. Não cheguei a ver ninguém comprar; quando o verde estava prestes a regressar, correu desenfreadamente para recolher o que puseram nos espelhos dos carros indiferentes.
E esperou por outro vermelho.
Do lado direito, barreiras indicam o caminho a seguir até chegar à bilheteira. Depois de pagar a entrada (cinco reais para estudante...), há um bengaleiro ainda na rua. Detector de metais e dois seguranças atarefados a meter a conversa em dia e uma porta de elevador. Pressiona-se o respectivo botão. Quando a porta abre, o ascensorista pede o bilhete e rasga-o, assinalando a entrada.
Aparentemente, alguns dos locais não apreciam muito o aspecto exterior deste muito pouco ortodoxo museu. Mas em relação ao acervo não podem soltar muitas críticas. No segundo subsolo, a parte mais impressionante: Rousseau, Velasquez, Renoir, Gaughin, Manet, Monet, Picasso, Van Gogh, Rembrant, entre outros. Fiquei impressionado com a riqueza que ali se encontra.
E foi essa riqueza que ficou ainda no meu espírito quando, passado algumas horas, voltei a sair para rua com o intuito de sentir um pouco do ambiente. A Avenida Paulista é uma espécie de Oxford Street, apenas maior e mais cinzenta, abrupta. É o pujante centro económico da cidade. Os prédios altos, os bancos, as lojas, as empresas, sucedem-se uns atrás dos outros.
Aqui estão os empregos que pagam bem, aqui está o top end social da cidade. A caras são mais europeias, mais de acordo com a sociedade retratada nas telenovelas. Os homens andam de fato e gravata, as senhoras têm pinta de executivas. Aqui não me senti inseguro, há polícias em cada esquina numa espécie de plataformas elevadas, estilo nadadores-salvadores a olhar para os nadadores em mar ondulado. Já não há o apregoar de preços. São as marcas que conhecemos do nosso mundo globalizado, com preços que até podem ser impeditivos para um europeu.
Como os do centro comercial Iguatemi, o mais “in” de São Paulo. Dizer a um paulistano que se faz compras neste local equivale a dizer-lhe que se tem uma carteira muito funda. Meti-me ao caminho. Avenida Faria Lima acima, paralelamente à marginal Pinheiros. Depois de uns bons vinte minutos meia-hora a andar, vi-o surgir, do lado esquerdo. Um caixote, como qualquer outro centro comercial. As diferenças estão no interior. A mais impressionante de todas: a loja da Louis Vuitton que aí se encontra no piso térreo, repleta de tias chiquérrimas, é uma das que mais vende no mundo inteiro.
Sampa é assim. Contrastante. Muito contrastante. Tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro. Edifícios com heliportos no topo para o jet-set não ter que se preocupar com o trânsito caótico quando se desloca para o trabalho, manobristas que estacionam os carros para poupar a chatice de procurar um lugar, táxis em todas as esquinas, uma vida nocturna cara e muito intensa, um costume de prostituição de luxo, restaurantes de chiquérrimos, baladas, academias de “esporte” caríssimas.
E também tem favelas. E muita pobreza. Pobreza profunda. Pessoas que não vivem: sobrevivem. À saída do Parque Ibirapuera, onde os ricos passeiam o cão e fazem jogging com o lago de fundo e o planetário do Niemeyer, estava um “pé descalço”. Trabalha nos semafóros, como muitos outros. Alguns fazem malabarismos. Este vende. Quando cai o vermelho, colocou sacos de plástico com pacotes de pastilhas ou chocolates e um papel que explica a vontade de levar uma vida honesta e alimentar a família. O conteúdo do pequeno saco custa, normalmente, um real. Não cheguei a ver ninguém comprar; quando o verde estava prestes a regressar, correu desenfreadamente para recolher o que puseram nos espelhos dos carros indiferentes.
E esperou por outro vermelho.
sexta-feira, outubro 07, 2005
Sampa #2 – Na noite do dia seguinte, o Zé explicou-me, entre dois “chopps” que há cerca de trinta anos atrás, o Centro era efectivamente o pólo económico da cidade. Entretanto, piorou. Turvou. De tal forma que, desde que se lembra que evita lá ir, que tinha medo quando era miúdo. Os bancos, as empresas, deslocaram-se. Sobretudo para a Avenida Paulista que, do alto do morro, funciona como uma fronteira, separa a zona antiga da zona sul, a mais nobre, onde vive quem tem “grana”. Os paulistanos dizem que para cima da Paulista o ambiente escurece.
Nos dias imediatamente anteriores à minha chegada, os pais do Nuno desbravaram o terreno que nenhum outro se havia atrevido a trilhar. Porque entre os lusos que já lavaram o ouvido e nem sequer estranham o sotaque de Vera Cruz, ninguém sabia linhas, preços, paragens. Seguindo à risca as instruções, apanhei um “ônibus” como os locais. Paguei dois reais a um tipo sentado a meio do veículo onde há um torniquete que ele solta depois de receber as notas. A viagem demora meia-hora. A 9 de Julho até passar o primeiro túnel, aquele que evita a Paulista. Só tinha que me lembrar de sair após o segundo túnel, que tem uma paragem a meio.
A páginas tantas, um tipo entrou e fez um sinal ao cobrador. Este acenou-lhe afirmativamente com a cabeça, dando-lhe autorização. O primeiro deitou-se no chão e arrastou-se por forma a passar por debaixo do torniquete. Depois distribuiu por todos os passageirosuma caneta prateada e um papel onde se lia algo como sou surdo e mudo e preciso de ajuda, a caneta custa um real. Devolvi-lha.
O túnel passou. A paragem do meio também. Levantei-me, estava na hora. Saí para a confusão do Centro. Uma zona degradada, mal frequentada. Lojas de qualidade duvidosa por todo o lado com produtos baratos em exposição, tipos a apregoar os fantásticos preços de todo o tipo de bugigangas na rua: de pilhas a apetrechos para o telemóvel, de fruta a CD’s, de “calcinhas” a alças de soutien.
Cuidado com os carteiristas; espalhei o carcanhol pelos diferentes bolsos das calças, tapados pelo casaco. Evita olhar demasiado para o mapa, evita mostrar que és turista e não conheces as ruas. Mistura-te com a multidão. Passei pelo mercado, pela rua confusa, estreita, cheia de gente. É esta gente que vem às compras que possibilita ir com (alguma) segurança a esta zona da cidade de manhã. À tarde, as bancas já não estão lá, assim como os compradores, pelo que o perigo passa a ser mais que uns carteiristas.
Subi a rua que leva à torre Banespa. Passei pela zona da Bolsa e dos bancos. O aspecto melhora. Mais acima, a praça da Sé. Entrei, sentei-me e, em vez de me benzer e fazer as demais coisas que os fiéis fazem nestes locais, aproveitei para retirar o mapa do bolso. Confesso que não consegui retirar muita informação daquele bocado de papel. Não obstante, resolvi fazer-me novamente ao caminho. Desta vez recorrendo mais ao instinto.
A mole de gente não me deixou enganar. Ao sabor dos humores dos meus pés, dei por mim a descer a Rua Direita, passei pela Prefeitura, atravessei o Viaduto do Chá, sobre a Avenida Tiradentes. Ao meu lado direito erguia-se o edifício do Teatro. Mais à frente a Praça da República, ladeada por uma fileira de veículos. Estava feita esta parte da cidade. O tempo ainda o permitia, por isso, em vez de regressar ao conforto de Vila Olímpia, resolvi entrar num táxi.
“Para o Museu de Arte de São Paulo na Paulista, por favor.”
Nos dias imediatamente anteriores à minha chegada, os pais do Nuno desbravaram o terreno que nenhum outro se havia atrevido a trilhar. Porque entre os lusos que já lavaram o ouvido e nem sequer estranham o sotaque de Vera Cruz, ninguém sabia linhas, preços, paragens. Seguindo à risca as instruções, apanhei um “ônibus” como os locais. Paguei dois reais a um tipo sentado a meio do veículo onde há um torniquete que ele solta depois de receber as notas. A viagem demora meia-hora. A 9 de Julho até passar o primeiro túnel, aquele que evita a Paulista. Só tinha que me lembrar de sair após o segundo túnel, que tem uma paragem a meio.
A páginas tantas, um tipo entrou e fez um sinal ao cobrador. Este acenou-lhe afirmativamente com a cabeça, dando-lhe autorização. O primeiro deitou-se no chão e arrastou-se por forma a passar por debaixo do torniquete. Depois distribuiu por todos os passageirosuma caneta prateada e um papel onde se lia algo como sou surdo e mudo e preciso de ajuda, a caneta custa um real. Devolvi-lha.
O túnel passou. A paragem do meio também. Levantei-me, estava na hora. Saí para a confusão do Centro. Uma zona degradada, mal frequentada. Lojas de qualidade duvidosa por todo o lado com produtos baratos em exposição, tipos a apregoar os fantásticos preços de todo o tipo de bugigangas na rua: de pilhas a apetrechos para o telemóvel, de fruta a CD’s, de “calcinhas” a alças de soutien.
Cuidado com os carteiristas; espalhei o carcanhol pelos diferentes bolsos das calças, tapados pelo casaco. Evita olhar demasiado para o mapa, evita mostrar que és turista e não conheces as ruas. Mistura-te com a multidão. Passei pelo mercado, pela rua confusa, estreita, cheia de gente. É esta gente que vem às compras que possibilita ir com (alguma) segurança a esta zona da cidade de manhã. À tarde, as bancas já não estão lá, assim como os compradores, pelo que o perigo passa a ser mais que uns carteiristas.
Subi a rua que leva à torre Banespa. Passei pela zona da Bolsa e dos bancos. O aspecto melhora. Mais acima, a praça da Sé. Entrei, sentei-me e, em vez de me benzer e fazer as demais coisas que os fiéis fazem nestes locais, aproveitei para retirar o mapa do bolso. Confesso que não consegui retirar muita informação daquele bocado de papel. Não obstante, resolvi fazer-me novamente ao caminho. Desta vez recorrendo mais ao instinto.
A mole de gente não me deixou enganar. Ao sabor dos humores dos meus pés, dei por mim a descer a Rua Direita, passei pela Prefeitura, atravessei o Viaduto do Chá, sobre a Avenida Tiradentes. Ao meu lado direito erguia-se o edifício do Teatro. Mais à frente a Praça da República, ladeada por uma fileira de veículos. Estava feita esta parte da cidade. O tempo ainda o permitia, por isso, em vez de regressar ao conforto de Vila Olímpia, resolvi entrar num táxi.
“Para o Museu de Arte de São Paulo na Paulista, por favor.”
quinta-feira, outubro 06, 2005
Sampa #1 – Não tem nada que saber. Assim que levantares a bagagem em Guarulhos, vais ver um balcão da Guarocoop, a cooperativa de táxis do aeroporto. É aí que dizes que vais para a Fidêncio Ramos, para o número 74, uma rua que sai da Gomes de Carvalho. Eles dão-te um recibo que depois mostras ao taxista que está no exterior, tudo muito bem indicado. Custa cerca de 90 paus, o preço é tabelado.
A tua entrada pela cidade vai ser pelo lado leste. O percurso demora cerca de quarenta minutos. O sítio é horrível. Vais passar pelas favelas, pela marginal do Tietê, um dos rios da cidade. Uma estrada velha e feia, um rio nojento. Aos poucos, começas a entrar no centro da cidade, pela Avenida Tiradentes.
A minha taxista não sabe ao certo onde fica a rua. A Gomes de Carvalho não lhe é estranha mas não a está a ver no Centro da cidade, indicação final que dei erroneamente; deveria ter dito Vila Olímpia. Pergunta-me se tenho certeza. Digo que sim. Continua ao telemóvel com a central na mão esquerda e a manter-nos na estrada com a mão direita. Só começou esta profissão há dois meses, ainda tem muitas ruas para aprender. A mãe é portuguesa, o pai é suíço, ela é carioca.
Descobriu uma forma de tornear o problema. Um colega está lá mais à frente a deixar uma pessoa; vamo-nos encontrar com ele e segui-lo, ele sabe onde fica. Não tenha medo, isto não é nenhum assalto. Aí você é de fora e pode ficar pensando mas não tenha medo. Não, não tenho, enquanto escrevo uma mensagem a explicar que devo chegar um pouco mais atrasado e a justificar-me com a ignorância da taxista. E também não tem que pagar o segundo táxi. Era o que mais faltava.
Telefone. Diz-lhe que passas o túnel que está directamente por debaixo do Parque Ibirapuera e do seu lago, passas a 23 de Maio, até chegar à Kubitschek. Depois viras à esquerda na Innocenti e só depois vais virar à direita na Jesuíno. A Fidêncio só tem um sentido, vais ter que dar a volta pela gomes de Carvalho para entrar.
Estamos a arrancar, depois de ter parado à saída do túnel. Passamos por cima das raias em mais uma manobra passível de multa pesada. Afinal o colega do táxi está já ali à frente. Não preciso reproduzir a explicação que acabei de receber e que sei não vou ser capaz de me lembrar na totalidade. Continuamos. Estamos mesmo a chegar. Mais uma curva. Estaria eu com má cara? Não se preocupe, é já ali.
E era mesmo.
A tua entrada pela cidade vai ser pelo lado leste. O percurso demora cerca de quarenta minutos. O sítio é horrível. Vais passar pelas favelas, pela marginal do Tietê, um dos rios da cidade. Uma estrada velha e feia, um rio nojento. Aos poucos, começas a entrar no centro da cidade, pela Avenida Tiradentes.
A minha taxista não sabe ao certo onde fica a rua. A Gomes de Carvalho não lhe é estranha mas não a está a ver no Centro da cidade, indicação final que dei erroneamente; deveria ter dito Vila Olímpia. Pergunta-me se tenho certeza. Digo que sim. Continua ao telemóvel com a central na mão esquerda e a manter-nos na estrada com a mão direita. Só começou esta profissão há dois meses, ainda tem muitas ruas para aprender. A mãe é portuguesa, o pai é suíço, ela é carioca.
Descobriu uma forma de tornear o problema. Um colega está lá mais à frente a deixar uma pessoa; vamo-nos encontrar com ele e segui-lo, ele sabe onde fica. Não tenha medo, isto não é nenhum assalto. Aí você é de fora e pode ficar pensando mas não tenha medo. Não, não tenho, enquanto escrevo uma mensagem a explicar que devo chegar um pouco mais atrasado e a justificar-me com a ignorância da taxista. E também não tem que pagar o segundo táxi. Era o que mais faltava.
Telefone. Diz-lhe que passas o túnel que está directamente por debaixo do Parque Ibirapuera e do seu lago, passas a 23 de Maio, até chegar à Kubitschek. Depois viras à esquerda na Innocenti e só depois vais virar à direita na Jesuíno. A Fidêncio só tem um sentido, vais ter que dar a volta pela gomes de Carvalho para entrar.
Estamos a arrancar, depois de ter parado à saída do túnel. Passamos por cima das raias em mais uma manobra passível de multa pesada. Afinal o colega do táxi está já ali à frente. Não preciso reproduzir a explicação que acabei de receber e que sei não vou ser capaz de me lembrar na totalidade. Continuamos. Estamos mesmo a chegar. Mais uma curva. Estaria eu com má cara? Não se preocupe, é já ali.
E era mesmo.