terça-feira, agosto 31, 2004

Grandes
Enormes
Gigantes
Azuis
Daquele azul como o pedaço de céu que bordeia o horizonte ao amanhecer

Contraste
O branco
Da pele, do peito, da blusa
O preto
Na alça que descai
Talvez tenhas razão, Sara. Dramático a mais. Mas isso agora não interessa para muito. Foi mais naquela de fazer um texto alusivo. O que mais me preocupa agora é pensar que me enganei. Não pode ser o último dia do resto da minha vida. Quando muito, é o último desta primeira (ou segunda, ou terceira…) parte. E amanhã é que é o primeiro dia do resto da minha vida.

Estava mesmo com sono quando escrevi isto.

P.S. – Qual era mesmo o número da extensão?
P.S.2 – Já sei onde é a Baía dos Golfinhos. Infelizmente não há cetáceos. E é lixado para parar o carro.
O último dia do resto da minha vida

segunda-feira, agosto 30, 2004

“Isto é um bairro social” – disse o homem que servia no café. Viveu 13 anos na antiga Aldeia da Luz, está há três nesta nova. Aconselhou-nos a ir até ao museu, que fica mesmo ao lado da igreja, numa das pontas do povoado. “Merece a pena ser visitado”. Cruzámos o casario todo igual, com as lanternas de iluminação pública presas nas paredes, por ruas ortogonais.

O edifício, de lousa, tem uma rampa de acesso até à porta. É um open space que usa umas divisórias de madeira na medida do necessário. Uma das salas tem uma exposição permanente. Evoca a aldeia original. Fotografias, achados, mapas de como era antes da invasão aquática.

Uma pequena janela aponta directamente para o exacto local onde, outrora, existiu. Localiza-se bem porque ainda se vêm algumas árvores que ficavam mesmo à saída, numa colina ligeiramente mais elevada e que, por isso, escaparam à submersão.

domingo, agosto 29, 2004

Plano secundário - A visão mais redutora atribui-lhes a função de ligar sítios, pontos de interesse. Deixa-as de fora do conjunto de coisas para as quais se deve ter sempre os olhos abertos. Há, de facto, muitas que não justificam o estado alerta e inquisitório do bom viajante.

E depois há estradas assim.



P.S. - Para a Diana, os créditos da fotografia

sexta-feira, agosto 27, 2004

Cemitério de ilustres - Nada como ir ao âmago das questões. Tentar perceber o que jaz na origem, na criação. Quantas vezes não nos referimos às famosas obras de Santa Engrácia quando queremos acusar umas mais recentes de levarem demasiado tempo. De tal forma que são logo associadas ao aspecto de estaleiro.

O ano de 1606 assistiu à colocação da primeira pedra. A construção do local de culto já havia sido contemplada no século anterior. Depois de muitas peripécias, derrocadas e destruição, a igreja entrou no século XX ainda por acabar.

A triste sina do nunca-mais-está-feito foi aproveitada pelo Estado Novo. Como forma de propaganda, Santa Engrácia foi finalmente terminada em 1966, mais de três séculos depois do início das obras.

Os mármores do interior são simples e elegantes, bem como a decoração. Nos quatro sectores laterais há salas onde se encontram alguns corpos de personalidades que contribuíram para a afirmação de Portugal e da lusofonia no mundo, de Teófilo Braga a Amália Rodrigues. São poucos mas bons; ainda pode morrer muita gente importante neste país.

De resto, é possível subir até à cúpula, passar numa balaustrada pelo lado interior da mesma, ou sair para um terraço à mesma altura, que tem uma óptima vista sobre o rio e os bairros antigos.

Valeu a pena esperar.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Grande performance de Argel põe em perigo titularidade de Quim. Trapa faz trampa. Eusébio rescinde contrato em sinal de protesto e ameaça remover a estátua da Luz. Luís Filipe Vieira decide mudar cor do clube para ver se dá mais sorte. Nuno Gomes corta cabelo. Águia procura nidificar no WC.

Podia ser pior.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Poder de escolha - Há uma grande diferença entre um livro escrito por Carl Sagan e por Stephen Hawkings. Nota-se, no primeiro, a vontade de partilhar um segredo, a paixão da ciência com o público em geral, que se encontra fora da temática. O segundo tem uma escrita que, por vezes, me parece um pouco presunçosa, mais centrada na primeira pessoa, como se quisesse dizer “fui eu” ou “estou aqui” a cada momento.

E, no entanto, não é por isso que o deixo de respeitar menos. Porque Hawkings simboliza uma das histórias marcantes da luta pela vida. Vejo-o, em fotografias, sentado na sua cadeira ultramoderna, corpo franzino e debilitado, cabeça a pender para um lado. Um dos maiores cérebros da física teórica do tempo actual e apenas move dois dedos. O resto é tudo as famosas “little gray cells” de Poirot.

Este catedrático simboliza, para mim, a esperança, aquilo que desejaríamos para todos aqueles que sofrem de doenças - degenerativas, cardiovasculares, etc. - que os incapacitam fortemente.

No entanto, as excepções não passam disso mesmo, nunca chegam a regra. E é para a maioria que não consegue integrar-se efectivamente na sociedade, sentir-se uma pessoa útil, completa, realizada que a eutanásia (quem quiser pode juntar aqui o advérbio de modo “infelizmente”) faz sentido.

Lá no fundo, bem mesmo no fundo, ninguém gosta de deixar este mundo. Nem sequer o tipo com a maior tendência suicida. Nem mesmo o Zé Maria. O que ele deseja é alterar a sua vida. Na agonia de ver frustradas todas as tentativas que realiza, abraça aquela que lhe parece ser a sua única saída, aquela que surge em último lugar.

O instinto básico de sobrevivência impede que nos precipitemos de prédios altos ou que tomemos doses excessivas de barbitúricos. Contudo, por vezes, este mesmo instinto é suplantado por depressões, aquela que vários consideram vir a ser a peste deste século, ou outro tipo de doenças do foro mental.

Nenhuma pessoa saudável se suicida; o suicídio é o resultado de um desequilíbrio mental. Como tal, deve fazer-se tudo o que estiver ao alcance para evitar a atitude drástica e reequilibrar essa pessoa, porque há perspectivas de melhoria.

Um dos principais argumentos que tenho visto ser apresentado contra a eutanásia é o estado depressivo em que se supõe estar aqueles que a solicitam. Uma conclusão que me parece incrivelmente fantástica e arguta. Agora, se todos os que se opõem veementemente à morte assistida estivessem na pele dum tetraplégico que passa anos deitados numa cama, mexendo só a cabeça, possivelmente já teriam alguma dificuldade em lidar com a malfadada depressão.

É verdade, é tão mau que até para acabar connosco próprios precisamos de ajuda.
A ideia de matar gente também não me agrada. Há quem advogue que há sempre esperança e possibilidades de realizar essas pessoas. Mas, normalmente só estão ao alcance dos reputados, ricos e excepcionais Stephen Hawkings e Christopher Reeves deste mundo. E resta saber como eles verdadeiramente se sentem. Há não muito tempo atrás, surgiram rumores que o físico era vítima de maus tratos por parte da sua esposa.

Voltando à vaca fria: se, durante um espaço de tempo significativo, com insistentes e reiteradas manifestações de vontade, com um quadro médico que não prevê melhorias ou, pior, prevê agravamento progressivo, não vejo o porquê de lhes negar a morte que desejam ter. É somente uma questão de dar ao individuo a hipótese de escolha sobre a sua própria vida.

Afinal de contas, consideramos um egoísmo nosso adiar a morte do animal de estimação pelo qual nada podemos fazer senão vê-lo sofrer enquanto não o levarmos pela última vez ao veterinário.

domingo, agosto 22, 2004

Acerca de como aniversários servem - , essencial e quase exclusivamente, como momentos de reflexão, auto-análise, introspecção.

O saldo é bastante positivo.

sábado, agosto 21, 2004

Achtung - Falam muito no bigodinho, no “cavelo” puxado para trás, na camisa aberta exibindo os fartos pêlos e o medalhão de ouro, na tatuagem da âncora ou do amor de mãe, na meia branca, na comprida e multifacetada unha do dedo mindinho, no jeitinho de andar, de parar a coçar a micose, na forma de falar à gingão, no bracinho de fora a conduzir, bem como nas bocas para as miúdas que passam. Poucos se lembram doutro dos grandes clássicos normalmente associados a estes energúmenos: a camisola de manga cava.

É verdade, essa camisola que, de vez em quando, surge em grande força pelo meio dos nossos quentes verões a dentro, como forma de lidar com a temperatura que sobe ao permitir arejar aquela zona superior dos braços que termina numa cavidade extremamente perigosa.

E quantos de nós não sentiram já autêntico e genuíno medo quando um daqueles membros superiores dos portadores de tal indumentária se levantam de forma ameaçadora? Quantos não desejaram que as campanhas de desodorizantes fossem mais fortes e eficazes, como se se tratasse dum desígnio nacional? Se a este “study case” juntarmos o metropolitano, nem se fala…

Um autêntico atentado à saúde pública, este tipo de vestuário devia ser banido das nossas lojas e locais habituais de compra.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Handyman - As dunas sucediam-se inóspitas, umas atrás das outras. O calor sufocante. O exército que os perseguia estava cada vez mais perto, a ganhar terreno. Adivinhava-se que era somente uma questão de tempo até que os tivesse totalmente rodeados, sem hipótese de fuga. A companheira de MacGyver olho-o com aquela cara que espelha um misto de medo e de uma vã esperança na absurda criatividade do empregado da Phoenix Foundation.

O pior foi quando as pernas falharam e se viu a rebolar duna abaixo e, em seguida, demasiado perto dos que os queriam capturar, não conseguiu evitar o desespero:
- MacGyver, estamos perdidos…! Corre, salva-te tu, ainda podes escapar!
O herói franziu a sobrancelha, os sulcos das rugas na testa evidenciaram-se. Uma ideia tinha acabado de lhe surgir.

- Calma não te preocupes. Eu tenho um palito.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Proibido - Longe vão os tempos em que a podíamos levar a algum lado. Agora, é ver por aí este sinal afixado em tudo o que é loja e sitio público.

quarta-feira, agosto 18, 2004

“Del Neri incluiu Pinto da Costa na lista de dispensas do FCP – Luigi del Neri foi despedido do FC Porto depois de ter incluído Jorge Nuno Pinto da Costa na lista de dispensas para a nova temporada. Da lista de dispensas elaborada por Del Neri constavam ainda Reinaldo Teles, os brasileiros Diego e Carlos Alberto e toda a linha defensiva do FC Porto, Vítor Baía incluído.

No dia seguinte a ter sido despedido, o técnico visitou o santuário de Fátima, supostamente para agradecer à Virgem o facto de ter saído vivo da reunião com Pinto da Costa na Torres das Antas. Mas fontes próximas de Del Neri garantem que o “verdadeiro milagre” ocorreu quando o presidente dos portistas reconheceu que vai ser obrigado a pagar uma indemnização ao italiano a rondar 1,5 milhões de euros.”

In Inimigo Público, 13 de Agosto de 2004

terça-feira, agosto 17, 2004

A malta normalmente queixa-se - que os Jogos trazem glória olímpica mas sempre para os outros. Para nós, pouca ou nada. Há quatro anos atrás safou-se o bronze do Nuno Delgado naquela espécie de espera-aí-que-se-te-agarro-vais-de-focinho-ao-chão. Este ano, menos mal, primeiro dia primeira prata da casa nas gingas.

Pois eu andei a reflectir sobre este assunto e cheguei à conclusão que não há propriamente uma prova que se adapte às nossas características. A ginástica é para os gajos de leste, o judo é para os chinocas e nipónicos, a natação para os cangurus e os americanos, o ténis para os espanhóis. Então e nós?

A minha ideia é a seguinte. Propor uma modalidade em que sejamos verdadeiramente uns barras, imbatíveis, umas máquinas a derrotar adversários e a ganhar medalhas que depois podem ser derretidas e aproveitadas para equilibrar o défice das contas externas (por falar nisso, como serão contabilizadas…? Tenho de perguntar lá no trabalho quando começar…).

Depois de cuidadosa análise, eis a modalidade a que cheguei: halterocopismo. Acima de tudo é bastante abrangente e desenvolve-se em vários ramos diferentes. Por um lado, as categorias de pesos, à semelhança dos desportos de combate. Pesos pluma, gama média, pesos pesados. Para além disso, as categorias de objecto de arremesso. Temos o mero copo shot, o mais pequeno, depois o de imperial, a caneca, a girafa, o jarro e, a terminar, o garrafão, uma autêntica prova de fundo, uma verdadeira maratona.

A última categoria é, evidentemente, o tipo de bebida. De cerveja mexicana ao licor da lagartixa afogada oriental, há de tudo. Ora, isto permite, como na natação ou no atletismo, algo como os 400 metros estilos ou o pentatlo, respectivamente, se juntarmos mais uma prova: arranca com uma caneca de cerveja, passa pelo garrafão de tinto, segue para o jarro de sangria e termina no shot de vodka.

A coisa não fica resolvida sem as estafetas. Esta seria a grande forma de afirmação nacional num desporto de grande potencial. Temendo alguma concorrência por parte do “binge drinking” inglês e do emborcanço estilo czar, a equipa nacional mostraria a sua raça e as cores da sua camisola. O recrutamento seria feito na Semana Académica de Coimbra, nos festivais de verão e na zona de Santos.

Resta ao Comité Olímpico de Portugal fazer uma proposta ao Comité Olímpico para a inclusão do desporto nos próximos Jogos.

segunda-feira, agosto 16, 2004

O ópio do povo - Alexandre é o nome do nosso guia em Moscovo. Alto, cabelo rapado e com entradas, corpulento, com uns dentes muito finos, mais finos que o espaço entre eles. Mais tarde, disse-nos que tinham aquele aspecto porque estavam em processo de arranjo; a assistência médica dentária deixou de ser à borla.

O seu pai era do Partido Comunista, no anterior regime. Concomitantemente, como aliás, a maioria dos militantes, era cristão, o que, obviamente, para algo contraditório. Nesta luta ideológica, por vezes vencia o socialismo, por vezes a ortodoxia. Se em público os militantes tinham uma postura anti-religião, não era por isso que os respectivos filhos deixavam de ser baptizados e eles de assistir ao culto. O pai de Alexandre fez questão de o baptizar e ninguém o censurava por isso. Todos os faziam.

Em Moscovo, existiam mais de 300 igrejas antes da Revolução de Outubro. Depois de Lenine e companhia assumirem as rédeas, o número baixou para menos de um terço. A destruição dos edifícios era prática comum, uma forma de subjugar que, ainda hoje, subsiste: nos tempos que correm, caem os prédios ligados ao regime anterior. Em Kiev, houve mesmo um refeitório anexo a uma capela que foi transformado em museu do ateísmo. Não brincavam em serviço.

Estas coisas não duram sempre. E, desde a queda da U.R.S.S., está em voga a reconstrução, renovação ou mesmo construção de raiz de igrejas. Uma das que foi feitas na década de 90, para grande espanto meu que, quando a vi, pensei que estivesse lá há que tempos, é a de Cristo Redentor, bem no centro de Moscovo, ao lado do Museu Russo (na fotografia). Em São Petersburgo, a do Sangue Derramado foi toda arranjada por dentro e, à boa maneira iconográfica ortodoxa, tem quilómetros quadrados de mosaicos nas paredes. Verdadeiramente impressionante.

Não há fome que não dê em fartura. Os anos de repressão parecem ter produzido um povo extremamente devoto, fervoroso, que povoa as igrejas, de vela na mão, entoando os seus cânticos. No verão, os casamentos sucedem-se uns aos outros.

domingo, agosto 15, 2004

O complexo de inferioridade - Edifícios com tantos metros de altura, tantos quartos e mais não sei quê, maior biblioteca do mundo a seguir à biblioteca tal, o metro foi considerado dos mais eficazes do mundo, o Museu Russo tem não sei quantas obras.

Os russos vivem de números. Em certa medida, são extremamente parecidos aos americanos na sua luta por construir coisas grandes, como se fosse uma forma de colmatar a lacuna histórica e monumental de que parecem ressentir-se em relação à velha Europa.

Num país onde a fome e a miséria matavam a torto e a direito, os czares, sobretudo Catarina II, sempre cultivaram uma relação de absorção cultural em relação às grandes potências culturais europeias da época. O próprio Pedro o Grande fartou-se de passear pelo continente fora, vendo e aprendendo o que os outros faziam para depois levar para a terra dele.

No entanto, a transposição a uma escala maior. Exagerava-se na opulência. É este ambiente que se cheira em São Petersburgo. A colecção do Hermitage é, possivelmente, a mais completa do mundo logo a seguir ao Louvre. E, enquanto a deste último foi conseguida maioritariamente à custa dum tipo chamado Napoleão que roubava e pilhava obras de arte para a colecção da Josefina, a sua mais-que-tudo, a do museu da antiga Petrogrado foi conseguido apenas comprando.

Os palácios nas imediações da cidade põem a um canto outros sobejamente conhecidos a nível mundial, como Versalhes, por exemplo. Peterhof, Pushkin, são não só demonstrações da imperiosa necessidade de exibir riqueza, mas também de exteriorizar o quão profunda pode ser a vontade de suplantar os outros.

Resultado: São Petersburgo é uma cidade monumental, com muito para ser visto. Mas, a páginas tantas, começa a cheirar a demasiado.

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar.

P.S. - imagine, caro leitor, que decide perder um minuto a ver cada objecto do espólio do Hermitage. Imagine também que pretende usar oito horas por cada dia nas suas visitas. Fique sabendo que só passados quinze anos terá terminado de ver tudo.

sábado, agosto 14, 2004

A abertura de espírito -, das mentalidades em relação ao que vem de fora é proporcional à actuação e às exigências que o Governo coloca aos estrangeiros. A falta de disponibilidade dos russos é marcante. São sérios candidatos à medalha de ouro da antipatia. Não estão para se chatear com estrangeiros e acham perfeitamente natural que se falarem a língua deles com um volume elevado nós os entendamos à letra.

Os próprios funcionários do hotel (e dos aeroportos) falam um inglês paupérrimo, não tinham mapas da cidade para dar nem sabiam dar conselhos banais como, a título de exemplo, indicar uma zona de restaurantes, explicar onde e como se apanham transportes para o centro.

A situação não é tão dramática em São Petersburgo. Talvez por ser uma cidade com uma população mais cosmopolita, mais europeizada, a receptividade é maior e nota-se a percepção de que tratar convenientemente os turistas é um desígnio que pode trazer inúmeros benefícios.

Na Ucrânia vive-se, possivelmente, o espírito do país mais pequeno. A Ucrânia está para a Rússia como a Holanda está para a Alemanha. Ou, Portugal para a Espanha. Há uma tentativa de bem receber, de ser hospitaleiro, de tentar perceber o que nos dizem e, simultaneamente, fazer-se entender. Os ucranianos, visivelmente mais pobres e mais fustigados pelos desequilíbrios decorrentes da queda do regime soviético, uma orientação no sentido do turismo.

sexta-feira, agosto 13, 2004

O Lugar de Ky - Dizem que a pedra que se encontra numa das 3 colinas onde a cidade se assenta marca o início do império, da civilização russa. Estamos, mais coisa menos coisa, no século X, quando 3 irmãos chegaram e se instalaram naquelas terras a que agora chamamos Kyiv, para nós, portugueses, Kiev. A metrópole recebe o nome dum deles, um tipo chamado Ky. Assim como Lviv, uma das cidades secundárias do país, recebe o nome de Leo.

A capital da Ucrânia foi, outrora, mais do que isso. Foi capital de todos os povos russos entre os séculos IX e XIII. No tempo do regime soviético, era uma das capitais das repúblicas integrantes da U.R.S.S. mais importantes.

Hoje é uma cidade pacata, com um centro histórico engraçado. Uma série de igrejas e mosteiros, alguns reconstruídos, pululam por todos os lados. É agradável dar um passeio pela avenida principal e desembocar na praça central onde se ergue um obelisco. Ou visitar o monumento em homenagem aos heróis da Segunda Guerra Mundial no final dum parque gigantesco que ombreia com o rio Dnieper.

Fora do centro, a cidade não tem muito para oferecer. Os bairros socialistas da política de albergar toda a gente mais parecem os subúrbios de baixa qualidade que tão bem conhecemos de perto. A pobreza é nítida na Ucrânia e justificação para os cerca de 5 milhões de emigrantes pelo mundo fora.

A dose ideal para o turista em Kiev são dois dias.

quinta-feira, agosto 12, 2004

Мoсква - Grande, austera e não bonita (que não é o mesmo que feia). Moscovo é gigante. A cidade tem a mesma área que o Estado de Israel. É uma cidade inconsequente e desorganizada que contrasta com a referência, digna de anedota, que os moscovitas fazem ao planeamento urbanístico. Tudo é grande. A noção de que algo pequeno possa ser interessante ou bonito parece não existir. As avenidas são largas, meia dúzia de faixas para cada lado, os edifícios grandes e imponentes.

O Hotel Ucrânia, onde ficámos instalados, faz parte dum conjunto de sete edifícios de estilo neo-gótico construídos a mando de Estaline. Entre eles contam-se também o Ministério dos Negócios Estrangeiros e a Universidade de Moscovo, o maior de todos, que atinge os 374 metros de altitude. O Ucrânia é, igualmente, uma bizarma de trazer por casa. Tem 1000 quartos duplos e 250 individuais. O número é esmagador mas, ainda assim, não é o maior: o Hotel Rússia, bem no centro ao lado da Praça Vermelha, tem capacidade para 6000 hóspedes.

terça-feira, agosto 10, 2004

Estou farto - E não é um farto qualquer. É mesmo mesmo farto. Aquele tipo de farto até à ponta dos cabelos, com vontade de mandar um berro que conseguisse ter a bem apreciada capacidade de pôr tudo, instantaneamente, em ordem.

Todos os anos é a mesma coisa. Durante o Inverno ninguém se lembra de grande coisa. Lá fazem umas reportagens com umas associações que pretendem fazer vigilância e mais não sei quê, mas não passa muito disso. Depois vem o verão. A temperatura sobe com as normais ondas de calor estivais e o país parece uma autêntica grelha de barbecue.

Ora, isto irrita-me sobremaneira porque fico sempre com a impressão que tudo isto é evitável. Os bombeiros não têm meios, acabam por se dividir como podem e, no desespero de quem não pode fazer muito contra chamas com quase 40 graus de temperatura do ar, optam por apenas tentar salvar as casas e deixar arder o resto. Que tal fornecer mais meios?

Soldados da paz e outros peritos lançam as suas suspeitas de fogo posto, pela forma como as frentes arrancam em locais estratégicos. Supostamente, são feitas perícias no rescaldo dos incêndios para determinar se têm origem criminosa. Em que prisão estão os ditos incendiários?

Coisa mais senso comum não existe, sobejamente conhecido, as nossas matas necessitam melhor planeamento, corredores de segurança e limpeza periódica, para activamente criar condições de prevenção. Equipas e responsáveis por estas tarefas…?

Acho piada que ainda se admirem.

segunda-feira, agosto 09, 2004

Um gajo anda fora uma semanita e meia - e é logo presenteado com boas notícias. Duplo parabéns ao Pinto (aka Gonçalo ou, inclusive, Çalinho). Primeiro pela veia literária exposta, devassada na nova página que, assim que me vier o tal acesso de pachorra, será devidamente contemplada com um link. E depois, não menos importante, pela recente adesão ao grupo dos Sumólicos.

É verdade, o Sumol, essa entidade que faz parte do imaginário de todos os portugueses. Não há um único que nunca tenha ouvido o célebre e tão aclamado “Sumás de Ananol” ou o “Alex…! Sumol de laranja…!”. Primeira medida que espero tomes: vê se dizes ao tipos que o Sumol Ice é um bocado para o mau. E vê se o fazes de forma a que eles percebam.

Em maré de congratulações, cá vai uma que ficou por assinalar. O Grande Miguel (SôTôr…!” afinal não vai para a KPMG em matéria de fiscalidades. Uma troca de burro para cavalo, se me permitem, vai levá-lo para Londres, sede prestigiosa JP Morgan. É verdade, espanto, admiração. Boca aberta. Muito bem jogado, Miguel. Enormes parabéns. Monumentais.

domingo, agosto 08, 2004

Regressei - Cansado, moído, a precisar de dormir. Já sei que o país continuou a arder desalmadamente e que o treinador do Porto foi recambiado. Assim que a genica regressar (e o tempo) vou dedicar alguns textos às minhas impressões da Mãe Rússia e da Ucrânia.

Até lá.