quinta-feira, dezembro 30, 2004

Piada do ano

“Meu amigo, isto o que aconteceu foi muito simples, meu amigo. O que aconteceu é que eu chego aqui e sou logo confrontado com certas e determinadas situações… hã?

E eu digo: Atão mas como é que é?
E os gajos: Ah e tal…
E eu ah e tal não!, Ah e tal não!

Atão eu venho lá de baixo e dizem-se que não sei o quê, chego cá acima afinal parece que não…Em que é que ficamos??
E os gajos, ah não sei que mais e o camandro…
E eu, mau… Queres ver que a gente tem que se chatear…?

Porque isto não pode ser, eu sou um gajo que está aqui a trabalhar, eu quero trabalhar…hã? E dizem-me, como aqui ouvi, ah não sei quê

Mas qué isto?? Qué isto??

Isto não se faz. Eu sou um gajo, dou-me com toda a gente, sim senhor, dou-me bem, por mim está tudo bem e fazem-me isto. E há gajos que andam pra aí e fazem trinta por uma linha e depois passa tudo… incólume. Que é coisa que eu não percebo.

É que eu assim não venho… deixo de vir aqui e vou fazer a minha vida para outros sítios. Sítios onde inclusivamente malta me diz Eh pá, e tal, sim senhor! E é para lá que eu vou, deixo de vir aqui pá…hã?

Porque quando eu vejo que há aí palhaços pá, que falam falam falam falam falam falam pá, e eu não os vejo a fazer nada pá, fico chateado, com certeza que fico chateado pá…

‘Tá a perceber?

Tsss.. Aacckk…”

terça-feira, dezembro 28, 2004

Estava a pensar - em como este foi um ano profícuo em acontecimentos um pouco fora do normal. Lá o Cherne foi para a Comissão, ao que dizem chefiar aquilo. Entretanto, ficámos com uma chefia interna um pouco duvidosa que, acabou por cair passados uns meses. Houve mais quedas. Da Administração da CGD, por exemplo. Da Redacção da RTP. No entanto, para mim, a do Fidel foi a mais divertida.

Quem não caiu foi Hugo Chávez, que se mantém forte e feio agarrado ao leme de Caracas. Foi paraquedista mas mais parece timoneiro da Marinha. Outro que conseguiu não cair (possivelmente porque o ampararam) foi o Bushinho. Sim, mais uns anitos desse tipo. Quem quiseram desamparar foi o Iuschenko. O que vale é que o tipo é rijo e até a elevadas concentrações de veneno sobrevive.

Houve mais coisas. Terramotos. Um há muito pouco tempo que ainda não sabemos quantos matou. Outro em Lisboa que fez o meu computador saltar e as paredes do gabinete abanar, e um no Restelo que fez a Águia tremer. Por falar nisso, também houve furacões. Um muito forte que terminou em Gelsenkirchen, outro que seria muito mais importante mas que, já agora, acabou numa espécie de tragédia grega com chuva gelada, para os lados de uma das bandeirolas de canto junto à baliza da direita do Estádio da Luz.

Por falar em helénicos, tivemos dias de sol quase dourado provenientes da capital dos nossos carrascos. O tipo escuro que corre que se farta, outro que se deixa ficar para trás de início e resolve recuperar uma série de lugares perto do fim, outro que pedala umas coisas.

Sei lá que mais dizer deste ano. Tanta coisa.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Algumas frases – que marcaram o ano que está quase a findar.

1 - “ETA” e, dois dias depois, “Vaya mierda...”

José María Aznar

2 - “Vrei sa pleci dar nu ma nu ma iei”

O-Zone

3 - “Daddy, daddy, I’ve done it again!”

George Bush Junior

4 - “Estou sempre disponível para o meu país”

Figo
(confrontar com “Sempre que o amor me quiser”, Lena D’Água)

5 - “Sabíamos que ia ser difícil mas o importante é o contributo para a equipa. Agora temos de começar a trabalhar para o próximo jogo.”

Todos os jogadores de futebol capazes de articular algumas palavras em português. Pensando bem, isto é tudo os anos…

6 - “Forobódós com sexo à mistura”

Bibi

7 - “Senhores passageiros, lembramos que não se encontra em funcionamento a ligação com a linha de Sintra na estação dos Restauradores. Em alternativa, poderão utilizar as estações de Entrecampos e Jardim Zoológico.”

Metro de Lisboa

domingo, dezembro 26, 2004

“Pretender-se que a vida dos homens seja sempre dirigida pela razão é destruir toda a possibilidade de vida”

Guerra e Paz, Leão Tolstoi
É esse - o poder da chuva. Relaxante. O sol é energético, duma energia inebriante, esfuziante, contagiante. A chuva pacifica, convida a uma calma acompanhada de um bom café ou um chá bem quente. A uma reflexão que andava na calha.

Oiço a Amesterdão que os Coldplay aqui me vão tocando. Só para mim, gosto de pensar. Enquanto pequenas gotas reluzentes se agarram vigorosamente aos cabos eléctricos e telefónicos. E ali ficam, tremelicando suavemente. Até que o peso seja demais e as mãos fraquejem. Então, soltam os dedos e deixam-se levar.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

E pronto - , diz que é um felaz natil para todos, com toda aquela parafernália de coisas que se costuma desejar mutuamente a propósito da quadra.

Uma vez mais, o céu está azul, azul e azul. Vou comer um sonho.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Como raio é que - isto ainda anda no bolso do meu casaco, passado um ano do corte do cordão umbilical...?

terça-feira, dezembro 21, 2004

Dizia - que não gostava de restaurantes de fondue. A pagar, pagaria algo que já viesse cozinhado.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Os piores de todos – são aqueles que destroem monumentos querendo assinalar para todo o sempre a sua passagem. Riscam, raspam, sulcam na pedra, seja o que for, um nome com letras que saem meio foscas e de educação primária, acompanhado de uma data. Às vezes, mais completo, com local de origem. Não é nacional, existe por todo o lado, de Sintra às Pirâmides de Gizé.

Outro que me irrita solenemente é o das carteiras das salas de aulas. Se fossem auxiliares de memória, vulgo cábulas, para os exames, não me chatearia tanto, há que fazer pela vida. Agora riscar só por riscar… Pior um pouco quando a maior sala da minha faculdade tem os estofos das cadeiras todos desgraçados. Não são putos de escolinha que os frequentam. Ou não deviam ser.

Há outros menos graves. Mas muito bimbos. Exemplo retirado dum banco de jardim ou tronco de árvore: “Cajó loves Sónia Cristina 4ever”, com um coraçãozinho atravessado por uma seta. Ou menos bimbos na proporção do que têm de mais interventivos. Exemplo: “Vota…”, com o acrónimo de tal partido a seguir. Ou então, o meu preferido, num prédio perto do liceu onde andei: “Não te deixes manipolar”. Magnífico, diz tudo. Mentira, há outro que também gosto muito, em Tires: “Vende-se. Tefone”, seguido do respectivo número.

Finalmente, os brejeiros. Casa-de-banho do Oeiras Parque. Primeira divisória da direita. Mais ou menos assim, não memorizei tintim por tintim: sou um puto novo, até sou bonito e um bocado homossexual. Se quiseres alguma coisa comigo liga. Escrito por debaixo do número, “Alfredo”.

Um país de poetas.

domingo, dezembro 19, 2004

Já agora - , mais outra à la Murphy. Porque raio a turbulência nos aviões surge sempre quando estamos mesmo a gostar do livro que estamos a ler ou quando temos à nossa frente o tabuleiro da refeição e o copo cheio de sumo de qualquer coisa...?

sábado, dezembro 18, 2004

When you were here before,
couldn't look you in the eye.
You're just like an angel,
your skin makes me cry.
You float like a feather,
in a beautiful world
I wish I was special,
you're so fucking special.

But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

I don't care if it hurts,
I want to have control.
I want a perfect body,
I want a perfect soul.
I want you to notice,
when I'm not around.
You're so fucking special,
I wish I was special.

But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?.
I don't belong here

She's running out the door,
she's running,
she run, run, run, run, run.

Whatever makes you happy,
whatever you want.
You're so fucking special,
I wish I was special,

but I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here,
I don't belong here.


Creep, Radiohead

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Por ali demos umas voltas - há pouco mais de um ano, procurámos ver o que era visível. Até fizemos uma prova de automobilismo. Mas a única sensação que trouxe para casa era de abandono, desleixo. Parecia demasiado ruína de um passado não tão distante quanto isso. E, no entanto, tratava-se do mítico estádio inaugurado por Hitler para os Jogos Olímpicos de 1936, onde Jesse Owens (cujo nome é imortalizado pela avenida que conduz à construção) foi a principal figura e uma afronta à apregoada supremacia ariana.

Afinal e ainda bem, enganei-me. Quem me manda a mim subestimar os germânicos? Depois de uma restauração impressionante que chegou a empregar 1000 pessoas, que trabalhou todas as pedras, uma a uma, sem excepção, o Estádio Olímpico de Berlim está pronto para o Mundial de 2006, ano e meio antes da prova, e tem capacidade para 70.000 espectadores. A meio do processo, os trabalhadores chegaram a descobrir uma bomba de fabrico inglês que nunca explodiu. É esta a História que (ainda) se cheira na capital da Alemanha (cc 7 de Novembro de 2003)

Fiquei impressionado com a notícia e, mais ainda, com uma vontade enorme de regressar e de apreciar o contraste. Já agora, de repetir aquela foi uma das viagens mais giras.


quinta-feira, dezembro 16, 2004

Um jogo chamado "Give Bush a Brain"
A piadinha brejeira - é um dos passatempos nacionais mais interessantes. Leve, simpática, não tem corantes nem conservantes e é de fácil digestão. Normalmente incide sobre a actualidade, os mais recentes acontecimentos. Não tem que ter propriamente graça, o objectivo é, quase exclusivamente, meter-se com o próximo. Por exemplo:

"A casa Pastéis de Belém vai comercializar este Natal uma caixa com quatro pastéis em vez da tradicional de meia dúzia. Como promoção de lançamento desta nova embalagem, a famosa pastelaria oferece um dos doces por cada caixa comprada."

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Para os aprendizes de feiticeiro – improvisar pode ser algo de muito difícil, física e psicologicamente esgotante. A desistência pode estar somente a uns passos de distância, a frustração sempre presente. Porquê? Porque, como em (quase) tudo na vida, há uma série de regras que são necessárias cumprir.

Tem de soar bem e aqui não há volta a dar. Porque raio hei-de eu ouvir algo que fira os meus ouvidos…? E, para soar bem, é preciso ter em conta o que está subjacente a cada improviso. Há um tema, que introduz uma conversa, um mote e há uma estrutura, que é como se fosse uma base comum que permite o diálogo, uma língua.

Ou seja, para os improvisadores assim-assim, estas características são, normalmente, um espartilho. Obrigam a pensar, a ter cuidado com a passagem harmónica que se segue, com a nota do topo, com o facto de que facilmente se entra na lógica de debitar notas dentro de um contexto harmónico sem qualquer tipo de conteúdo. O músico wannabe não se liberta do jugo da estrutura da música, não consegue soltar-se, toca demasiado em função dela.

Depois há os músicos a sério. Para mim, o melhor exemplo do discurso coerente, lógico, sem espartilho, é o de Miles. Toca como se nada o afectasse, como se estivesse no café a falar com o amigo, como se nada o pudesse impedir de, em determinado momento, dizer o que tinha pensado dizer. Passa por cima dos obstáculos com a leveza dum verdadeiro mestre.

A dada altura, parece que é o tema que se molda por forma a acompanhá-lo

terça-feira, dezembro 14, 2004

A estrada - abria o horizonte, parecia não ter fim enquanto percorria os metros, quilómetros de campo, à beira de cidades de pequeno porte. Nesta altura do ano, a morte anunciada do sol demora eternidades, como se agonizasse por muito tempo. Os tons de alaranjado, avermelhado e púrpura sucedem-se por esta ordem.

Até ficar mesmo escuro. E é então que elas aparecem, aquelas que nunca vemos no dia-a-dia porque estamos aprisionados à iluminação pública do sítio onde vivemos. No meio de nenhures, longe dos focos, elas deixam-se ver aos milhões, brilhando com intensidades diferentes.

Quando me lembro que existe um céu estrelado todos os dias, tenho saudades de o ver.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Eu - que pensava que já tinha visto tudo

1 – Porcos a andar de ginga no circo
2 – Homens na lua
3 – Iogurtes com bifidus activo
4 – O Bush a ganhar eleições
5 – O Argel como titular

Agora… a Teresa Guilherme de volta à RTP?

domingo, dezembro 12, 2004

Já algures - referi o tal dia de Verão, muito calor, em que abri esta geringonça pela primeira vez. Comecei para cá a inventar umas coisas para escrever. Mas nunca disse quanto tempo andei às voltas para descobrir um nome para isto. Quando dei por mim, percebi que tinha arranjado dois à falta de um. Por sinal, nada de especiais, aliás, até um pouco azeiteiros. Contudo, tal não era a fome de começar a actividade regular que não quis esperar até que viesse à cabeça melhor designação.

Esta coisa de, por pressões semi-conjugais, um dos Cinéfilos ter aberto o template do seu site para linkar esta página, acabou por levantar uma questão de extremo interesse. E que também é algo melindrosa: a morada da página tem um nome mas o título que lhe dei foi outro (até já houve quem me dissesse que trocava os dois e nunca sabia qual deles escrever no browser). Nem de propósito, o Cinéfilo foi a primeira pessoa a pôr no dito link a morada do site. Todos os outros usaram o título.

E agora, pergunto eu, qual será o verdadeiro, único nome desta gaita?

sábado, dezembro 11, 2004

Reúnem-se dois comentários – relativos a links e linkagens. São eles:

1 – É com uma enorme reconhecimento e regozijo pessoal que sou informado (inside information, claro está) que as insistentes súplicas para ver uma ligação para este site no Pipoca Rasca já encontraram eco. Obrigado, caros Cinéfilos, pela retribuição.
2 - Andava-me a esquecer de referir a página cujo link é “Economic Freedom”. Deparei-me com ela num destes meus dias de pesquisa virtual. Como o próprio nome indica, versa sobre liberdade económica e faz um ranking mundial para 2004.

P.S. - todo este itálico faz-me ver como sou chique quando uso estrangeirismos.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

A desilusão - de pensar ter escrito algo cativante e interessante que não recebe nem muita atenção nem qualquer tipo de feedback só pode ser comparada à de escrever outro que não parece ser nada por aí além, somente mediano, mas que é alvo de uma chusma de elogios.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Não sei - se aquele gajo das leis, um tal de Murphy, já se debruçou sobre isto. De qualquer das formas, aqui fica:

Porque raio recomeça sempre a chover mais de cada vez que diminuímos a intensidade do limpa pára-brisas…?

quarta-feira, dezembro 08, 2004

FCP – Fizeram o Chelsea Pagar

P.S. – Sim, sei dar a mão à palmatória
Sempre senti um fascínio – pelos rasgões brancos que os aviões deixam no azul do céu. Aqueles rasgões que progressivamente desaparecem, como se fossem uma ferida que sara. E, lentamente se afastam. São eles que nos deixam plantados, que nos fazem sentir imóveis, assim como a juventude torna os velhos em velhos. Se nos coubesse decidir, não estaríamos quedos; por causa deles, somos estátuas.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Será que - as três eleições do ano que vem podem fazer parte do pacote de justificações a dar nas Europas em caso (provável) de défice excessivo?

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Talon de trazer por casa - O trauma normalmente surge mais por alturas de finais da Primavera, início do Verão. É aquela história de ir à praia e ter de mostrar mais pele do que o habitual, já para não falar em ser capaz de conseguir enfiar aquela roupa que estava no roupeiro há meio ano encafuada.

É neste contexto que nascem as dietas apressadas. Aquelas que, segundo consta, fazem mal. Não estou aqui para discutir isso. Estou, antes, para apresentar um novíssimo e ultra-modernaço conceito: a dieta all year round. Parece uma coisa estilo moda, comparação que, no fundo, pode ser muito bem verdade.

A ideia ouvia-a pela primeira vez saída da bela boca de um conhecido meu. Na altura não me apercebi de todo o potencial que encerrava. Agora, depois de muito matutar sobre o assunto, com calma e tranquilidade, reconheço o quão rentável pode ser caso uma qualquer entidade procure desenvolvê-la.

É mais ou menos assim: se já há bolachas com muuuuuiiiiito poucas calorias, que tal bolachas com ainda menos do que muuuuuiiiiiito poucas? O objectivo é criar algo tão magro que consumir as ditas bolachas seja um acto com valor energético negativo. Porquê? Porque se gasta mais energia a mastigar do que a que se come.

Pensai nas consequências disto. O axioma da não saciedade e essas tretas. “Quanto mais se come mais se gasta energia”. Já estou a ver os martirizados dos quilitos a mais a comer bolachas às mãos cheias, senhoras com pacotes nas suas malas, mães que as enfiam pelas goelas abaixo dos filhos que ameaçam fazer parte da elevada percentagem de putos gordos.

Devia era patentear isto. A não ser que um algum finlandês já se tenha lembrado primeiro…

domingo, dezembro 05, 2004

E depois - havias tu. Sempre isolada no teu olhar distante. De quem não sabe nem quer saber o que não vê. Metias-te no teu casulo, na tua redoma impenetrável e aí permanecias até que perdêssemos a paciência e nos fossemos embora. Ensimesmada. Só quando percebias a debandada resolvias sair.

E só nessas alturas conseguias ver

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Chamavas-me João – porque dizias que a tua língua não se te dava para pronunciar o meu nome. Com diminutivo, para distinguir dos dois Joões da família, embora do terceiro o problema persistisse. O nome da minha irmã, mais comprido e aparentemente mais complicado, não apresentava nenhum problema.

Indignavas-te com o meu cabelo de recém-entrado na adolescência, mais comprido do que o habitual. Amanhã madrugas e vais cortar o cabelo, ouvi-te dizer com ar muito sério e preocupado. Respondia-te que sim mas que também.

Lá em casa havia sempre animais. Mesmo nunca tendo visto o rebanho sem ser em fotografias, vi as burras no palheiro, os coelhos, as galinhas ao fundo do casarão. E os cães e gatos. Os teus cães nunca tinham pulgas, mesmo que, à vista desarmada, fosse possível vislumbrar minúsculas coisas pretas aos saltos no lombo do bicho.

Quem te conheceu mais novo explicou-me como tu eras um homem bom e generoso. Muito social e hospitaleiro. Ninguém passava pela porta de tua casa sem se sentar à mesa. Aliás, se ninguém se sentasse à mesa contigo, recusavas-te a comer. Um dos Joões bem se lembra da série de noites em que repetia o jantar porque, quando chegavas mais tarde do que todo os outros das tarefas quotidianas, querias companhia.

No meu tempo, era diferente. Lembro-me que precisavas da atenção que precisam os velhos. À mesa, era um castigo fazer-te comer o que quer fosse. Era sempre muito, não se te podia pôr nada no prato. Não fosse o teu respeito pela nora de Lisboa e as artimanhas dela e os filhos, com demasiadas falinhas mansas, não se teriam arranjado melhor.

Um dia estava uma daquelas luas quentes de verão, alaranjadas, o ar quase não corria, como é costume nessa altura do ano. O tempo vai mudar, disseste sentado na cadeira de lona que estava na varanda. Agora sei que era mais a tua vontade de que mudasse do que um qualquer tipo de intuição ou sabedoria meteorológica apurados ao longo dos anos.

Sábado, a chuva trucidou uns quinze dias, três semanas de sol consecutivos. O tempo mudou com a mudança da lua. Lembrei-me de ti.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

O fruto da discórdia – Longe de antecipar sequer um conjunto tão vasto de reacções, não é sem um sorriso que me intrometo na confusão. É por uma boa causa, para pôr água na fervura, acho que não se vão zangar. De qualquer das formas, admito que gosto bastante do espírito combativo.

Eu acho que o Luís percebe a teoria dos conjuntos subjacente à afirmação, que explicaste depois, V.. O busílis não me parece ser esse, parece-me antes que houve aqui um mal-entendido. Quando dizes “um dia que fizeres(...)” dá a entender que nunca fiz um refogado. Faz lembrar aquele tipo de clichés “um dia quando fores grande vais perceber o que eu quero dizer e depois dar-me-ás razão”. E o que o Luís queria era mesmo sublinhar que já lá vai o dia em que fiz o meu primeiro refogado. E ele é das pessoas que o sabe melhor do que ninguém.

Aliás, nem de propósito, as minhas mãos ainda cheiram um pouco ao de ontem. Salsichas com couve lombarda e arroz branco. Já saíram melhor (não achaste, Luís...?), mas serviram perfeitamente tendo em conta a galga por demais evidente quando são três da tarde e ainda só se petisca umas tostas com paté.

Esqueci-me de usar o limão, não havia limão naquela cozinha, não gosto de limão ao ponto de nem sequer o usar para tirar o cheiro da cebola... Tudo questões lícitas e plausíveis. A resposta?

Não sei, mas prometo pensar nisso.
Desculpas - pela dose maciça de erros, palavras omissas e outras porcarias no texto do Metro de Lisboa. Estive a ler e a aperceber-me de como estava cansado ontem à noite.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Se há coisa - que me irrita é quando quedas de Governo se tornam quase banais. Estava-se mesmo a ver, não havia outra hipótese, afastamento em relação à primeira legislatura, seja o que for, não quero saber. O que eu gostava mesmo era de estabilidade. E, já fora, pôr fim ao descrédito.

Sou um sonhador, eu sei.
O Metro de Lisboa – achou por bem proceder à mudança de todas as portas que dão acesso aos comboios. Sim, aquelas portas que foram colocadas há ano e meio, que funcionam mal e muitas vezes estão sempre abertas, vão ser completamente substituídas. Parece que há acidentes, que saem pessoas magoadas na interacção com os utentes.

Este tipo de sistemas existem por esse mundo fora há sabe Deus quanto tempo. Não são nenhuma novidade. Assim como o apetite voraz pelo desperdício de dinheiro neste país também não é. Mas não, o metropolitano tinha logo de escolher que, pelo vistos, é tão ou tão pouco ineficiente para necessitar ser trocado logo a correr.

Vá lá, são cento e picos mil euros, podia ser pior, sinceramente pensei que fosse mais caro.