Tive que desviar o olhar.
domingo, outubro 31, 2004
Olhei e vi - um presidente em funções de uma câmara num reality show, juntamente com a ex-mulher do Primeiro-Ministro que já foi presidente dum clube de futebol e uma criatura inqualificável, uma coisa. Olhei e percebi que há muito quem veja e siga atentamente.
Tive que desviar o olhar.
Tive que desviar o olhar.
sábado, outubro 30, 2004
Sim - , fui dos primeiros e mandar pedras contra ti, entre a desilusão pelo desaparecimento e a vontade de não ter links desinteressantes na página. Foi assim que se expiraram os vouchers de confiança, foi assim que se esgotou o teu tempo de antena, que tem de ser merecido, e foi assim que saíste do clube restrito dos meninos à volta da fogueira.
Seria necessário tempo…? Não parecia, tinhas a tua vida mais que bem orientada e disponibilidade, mas nada surgia. Seriam necessários grandes momentos, as grandes ocasiões? Talvez isso. O mote para arrancar outra vez. Dez meses depois, como referes, aqui estava um comentário a dizer que lá, no outro lado, estava um post. Por sinal, tão bonito quanto nostálgico e dramático.
Confesso que esperei para ver. Mais um acontecimento isolado, esporádico, sem seguimento à vista desarmada? Veio outro, mais outro, passou algum tempo. Comecei a pensar que afinal era eu que estava enganado. Até que fiz a pergunta directamente. Disseste tenho tempo e vontade, vamos ver no que dá. O que mais que chega para merecer o meu voto de confiança. O link regressa, com saudosismo.
E, por aquilo que tenho visto, é bem mais merecido que certos e determinados energúmenos que se encontram na mesma categoria e que há mais de um mês que não se dignam a falar nada de jeito connosco. Isto, é claro, depois de um deles advogar a sua vontade em se aplicar com unhas e dentes e outro escrever coisas a dizer que é inadmissível estar tanto tempo sem dar notícias. Enfim, trabalhamos com o que temos.
Sê bem regressado.
Seria necessário tempo…? Não parecia, tinhas a tua vida mais que bem orientada e disponibilidade, mas nada surgia. Seriam necessários grandes momentos, as grandes ocasiões? Talvez isso. O mote para arrancar outra vez. Dez meses depois, como referes, aqui estava um comentário a dizer que lá, no outro lado, estava um post. Por sinal, tão bonito quanto nostálgico e dramático.
Confesso que esperei para ver. Mais um acontecimento isolado, esporádico, sem seguimento à vista desarmada? Veio outro, mais outro, passou algum tempo. Comecei a pensar que afinal era eu que estava enganado. Até que fiz a pergunta directamente. Disseste tenho tempo e vontade, vamos ver no que dá. O que mais que chega para merecer o meu voto de confiança. O link regressa, com saudosismo.
E, por aquilo que tenho visto, é bem mais merecido que certos e determinados energúmenos que se encontram na mesma categoria e que há mais de um mês que não se dignam a falar nada de jeito connosco. Isto, é claro, depois de um deles advogar a sua vontade em se aplicar com unhas e dentes e outro escrever coisas a dizer que é inadmissível estar tanto tempo sem dar notícias. Enfim, trabalhamos com o que temos.
Sê bem regressado.
sexta-feira, outubro 29, 2004
Há tempos - andei por aqui a advogar investimento nos transportes públicos. Depois sai-me uma notícia destas. Poderá ser o resultado de uma miríade de efeitos como, a título de exemplo, a sempre crescente motorização dos subúrbios, aumento do poder de compra?
Não sei. Faz-me lembrar aquele dilema do não há salários elevados porque a produtividade é baixa versus a produtividade é baixa porque os salários também o são.
Galinha ou ovo?
Não sei. Faz-me lembrar aquele dilema do não há salários elevados porque a produtividade é baixa versus a produtividade é baixa porque os salários também o são.
Galinha ou ovo?
quinta-feira, outubro 28, 2004
Lá o espanhol – disse qualquer coisa do género que a derrota não era nada de especial, já o ano passado tinham perdido aquilo, que importa ser eliminado logo nos primórdios ou na final, vai dar tudo ao mesmo.
Sem querer comentar as afirmações do técnico, prefiro salientar a bravura dos Vimaranenses. É verdade, O Berço da Nação embalou aqueles que são usados como símbolos da Naçongue, qual criança pequena que está acordada para lá da hora do Vitinho. E embalou-a tão bem embalada que, a páginas tantas, o próprio Costinha resolveu passar um pouco pelas brasas e se deitou no relvado (xiiiii, humor negro…).
Já lá vão: Super-Taça Europeia, Taça de Portugal, Liga dos Campeões muito comprometida. Enfim, podem sempre ver pelo lado positivo. Menos jogos, menos desgaste físico, concentração máxima no Campeonato.
Sem querer comentar as afirmações do técnico, prefiro salientar a bravura dos Vimaranenses. É verdade, O Berço da Nação embalou aqueles que são usados como símbolos da Naçongue, qual criança pequena que está acordada para lá da hora do Vitinho. E embalou-a tão bem embalada que, a páginas tantas, o próprio Costinha resolveu passar um pouco pelas brasas e se deitou no relvado (xiiiii, humor negro…).
Já lá vão: Super-Taça Europeia, Taça de Portugal, Liga dos Campeões muito comprometida. Enfim, podem sempre ver pelo lado positivo. Menos jogos, menos desgaste físico, concentração máxima no Campeonato.
Já que o presidente da Media Capital - passa a vida a ser chamado, pelos mais diversos órgãos, para contar a sua versão dos acontecimentos em relação ao caso Marcelo, que tal aproveitar para esclarecer outra grande dúvida. Uma acerca da qual parecem existir divergências de opinião entre os meios de comunicação social.
Será o seu nome Paes ou Pais do Amaral?
Será o seu nome Paes ou Pais do Amaral?
quarta-feira, outubro 27, 2004
Nota de pesar – pelo término da possibilidade de fazer piadas com os milionários turcos. O Governo do Antigo Império Otomano decretou a eliminação de seis (sim, leram bem, seis) zeros da face das liras turcas.
«Destak - Concorda com a ideia da aplicação, no Serviço Nacional de Saúde, de taxas moderadoras diferenciadas consoante a declaração de rendimentos? (É legítimo pedir mais dinheiro aos contribuintes para financiar um serviço público? É socialmente justo?)
Diogo Lucena - Julgo que é legítimo pedir mais a quem pode mais. Essa progressividade virá do lado das receitas (impostos progressivos), mas há boas razões, na minha opinião, para também vir do lado da despesa. O ser socialmente mais ou menos justo dependerá do efeito redistributivo total. Em termos práticos a dificuldade principal – e que pode tornar, no fim, o sistema injusto – reside na enorme fuga aos impostos, o que torna falsa a informação em que tudo se baseia.
D - Quais as medidas efectivamente necessárias para se combater o défice crónico das contas públicas?
DL - O mais importante é reduzir as despesas de consumo público e o número de empregados da função pública. Estas despesas tendem a perpetuar-se e não há mecanismos que criem incentivos à poupança. Assim, o fundamental estará numa reforma administrativa que mude os processos de tomada de decisão, de modo a criar esses incentivos à poupança.
D - O desagravamento fiscal deve incidir prioritariamente sobre as empresas ou sobre as pessoas? É viável um desagravamento nos próximos anos?
DL - O desagravamento fiscal é desejável, pelo menos, a longo prazo, pois deixa recursos nas mãos dos privados, recursos esses que não estão a ser muito bem utilizados no sector público. Mas esse desagravamento deve ir acompanhando a baixa da despesa que se consiga e não ser feito à custa dum aumento do défice público.»
In Destak, 22 de Setembro de 2004
Diogo Lucena - Julgo que é legítimo pedir mais a quem pode mais. Essa progressividade virá do lado das receitas (impostos progressivos), mas há boas razões, na minha opinião, para também vir do lado da despesa. O ser socialmente mais ou menos justo dependerá do efeito redistributivo total. Em termos práticos a dificuldade principal – e que pode tornar, no fim, o sistema injusto – reside na enorme fuga aos impostos, o que torna falsa a informação em que tudo se baseia.
D - Quais as medidas efectivamente necessárias para se combater o défice crónico das contas públicas?
DL - O mais importante é reduzir as despesas de consumo público e o número de empregados da função pública. Estas despesas tendem a perpetuar-se e não há mecanismos que criem incentivos à poupança. Assim, o fundamental estará numa reforma administrativa que mude os processos de tomada de decisão, de modo a criar esses incentivos à poupança.
D - O desagravamento fiscal deve incidir prioritariamente sobre as empresas ou sobre as pessoas? É viável um desagravamento nos próximos anos?
DL - O desagravamento fiscal é desejável, pelo menos, a longo prazo, pois deixa recursos nas mãos dos privados, recursos esses que não estão a ser muito bem utilizados no sector público. Mas esse desagravamento deve ir acompanhando a baixa da despesa que se consiga e não ser feito à custa dum aumento do défice público.»
In Destak, 22 de Setembro de 2004
terça-feira, outubro 26, 2004
Tinha vinte e poucos anos - quando começou a tocar com o Dizzie, cerca de dez anos depois de ter pegado num clarinete e num sax alto pela primeira vez. Em 1955 foi convidado pelo Miles, um tipo que sempre soube fazer prospecção para se ver rodeado do que de melhor havia nas novas gerações, para tocar no seu quinteto. Foi então que começou a primeira grande fase da sua carreira.
Não durou muito a parceria. O gigante do trompete fartou-se da dependência de estupefacientes e pô-lo a andar. Terá sido esse o ponto de viragem? Boa pergunta. O que é certo é que dizem que o jovem se encheu de coragem, se fechou em casa sozinho, e que venceu o síndrome de abstinência a custo de muito água.
Um novo Coltrane nascia. O Coltrane que se interessou pelas culturas africanas e orientais, o Coltrane que lia Einstein e discutia filosofia, o mesmo que se iniciou em leituras místicas. E que iniciou as suas primeiras sessões em nome próprio, com um tipo de seu nome Thelonious Monk, absolutamente delicioso sentado ao piano.
Miles achou que estava na hora de resgatar o prodígio. Mesmo a tempo para o incluir no “Kind of Blues” de 1959, no mesmo ano em que saiu o portentoso “Giant Steps” (vide 27 de Setembro de 2004).
A partir de 1960 surge sob a influência do modalismo. Provavelmente contagiado pelas sessões do “Kind of Blue”, surgiram obras como “My Favourite Things” e “Impressions”, uma paráfrase do “So What”. Com ele tinha um quarteto de luxo. McCoy Tyner ao piano, Elvin Jones na bateria, Davis e Jimmy Garrison, alternadamente, no contrabaixo.
Tudo acabou em 1965 com a obra-prima absoluta. “A Love Supreme” e a fase mística, religiosa do músico. A estrutura era muito pouco comum para o jazz daquela época. Quatro movimentos: “acknowledgement”, “resolution”, “pursuance” e “psalm”. A criação artística ao serviço da união com o elemento divino.
Daqui até a “Ascension” o caminho não foi longo. Onze músicos foram convidados para as gravações que pretendiam ser de um único trecho, extenso, sem qualquer tipo de estrutura, aleatório, profundamente livre. Eram os primeiros passos do free-jazz, com tipos da laia de Freddie Hubbard e Archie Shepp.
Mais experiências, mais álbuns (“Expressions”, “Interstellar Space”) e as cabeças dos colegas de profissão estavam a andar à roda. Em 1967, Coltrane morre vítima de um tumor do fígado. Em sete anos de carreira empregando o seu nome, demoliu barreiras, construiu novos limites. Marcou indelevelmente, redefiniu toda a linguagem do jazz.
Um dos melhores de todos os tempos.
Não durou muito a parceria. O gigante do trompete fartou-se da dependência de estupefacientes e pô-lo a andar. Terá sido esse o ponto de viragem? Boa pergunta. O que é certo é que dizem que o jovem se encheu de coragem, se fechou em casa sozinho, e que venceu o síndrome de abstinência a custo de muito água.
Um novo Coltrane nascia. O Coltrane que se interessou pelas culturas africanas e orientais, o Coltrane que lia Einstein e discutia filosofia, o mesmo que se iniciou em leituras místicas. E que iniciou as suas primeiras sessões em nome próprio, com um tipo de seu nome Thelonious Monk, absolutamente delicioso sentado ao piano.
Miles achou que estava na hora de resgatar o prodígio. Mesmo a tempo para o incluir no “Kind of Blues” de 1959, no mesmo ano em que saiu o portentoso “Giant Steps” (vide 27 de Setembro de 2004).
A partir de 1960 surge sob a influência do modalismo. Provavelmente contagiado pelas sessões do “Kind of Blue”, surgiram obras como “My Favourite Things” e “Impressions”, uma paráfrase do “So What”. Com ele tinha um quarteto de luxo. McCoy Tyner ao piano, Elvin Jones na bateria, Davis e Jimmy Garrison, alternadamente, no contrabaixo.
Tudo acabou em 1965 com a obra-prima absoluta. “A Love Supreme” e a fase mística, religiosa do músico. A estrutura era muito pouco comum para o jazz daquela época. Quatro movimentos: “acknowledgement”, “resolution”, “pursuance” e “psalm”. A criação artística ao serviço da união com o elemento divino.
Daqui até a “Ascension” o caminho não foi longo. Onze músicos foram convidados para as gravações que pretendiam ser de um único trecho, extenso, sem qualquer tipo de estrutura, aleatório, profundamente livre. Eram os primeiros passos do free-jazz, com tipos da laia de Freddie Hubbard e Archie Shepp.
Mais experiências, mais álbuns (“Expressions”, “Interstellar Space”) e as cabeças dos colegas de profissão estavam a andar à roda. Em 1967, Coltrane morre vítima de um tumor do fígado. Em sete anos de carreira empregando o seu nome, demoliu barreiras, construiu novos limites. Marcou indelevelmente, redefiniu toda a linguagem do jazz.
Um dos melhores de todos os tempos.
segunda-feira, outubro 25, 2004
Quão deprimente - podem fazer um belo mês de Outubro ser quando se resolvem por pôr enfeites, arcos nas ruas, árvores nas montras, músicas a passar. Precisam de olhar melhor para um calendário, estão ansiosos, querem chatear o próximo? Não sei. A única coisa que sei mesmo é que ainda faltam dois meses para o Natal.
Tenham dó
Tenham dó
domingo, outubro 24, 2004
Concorrente – Eu tenho a certeza que a resposta A não é, a C também não me parece. Estou indeciso entre a B e a D.
Jorge – Tem total certeza em relação às respostas A e C?
Concorrente – Sim… Eu penso que sim…
Jorge – Pensa ou tem a certeza?
(Concorrente solta risinho nervoso)
Jorge – Deixe-me fazer a pergunta doutra forma: neste momento, qual lhe parece ser a resposta certa?
Concorrente – Huuumm… Talvez a D, mas não tenho certeza.
Jorge – Depois de me ter dito isto tudo, não acha que é melhor gastar uma ajuda?
Concorrente – Eu não queria gastar…
Jorge – Olhe que eu já vi muitos que, por não querer gastar, saíram dessa cadeira mais depressa…
(Concorrente fica a pensar)
Jorge – O que é que vamos fazer…?
(Concorrente suspira)
Concorrente – Vou usar a ajuda do telefone.
Jorge – Vai então usar a ajuda do telefone para esta nona pergunta. Parece-me sensato uma vez que não tem certeza. Diga-me, a quem vamos então ligar?
Concorrente – Ao Jesus Cristo.
Jorge – É seu amigo, seu familiar…?
Concorrente – É um amigo meu.
Jorge – E o que é que ele faz?
Concorrente – É representante mundial duma associação com fins lucrativos.
Jorge – E ele é especialista neste assunto da pergunta?
Concorrente – Ele é especialista em tudo, tem uma cultura geral fantástica e uma memória do outro mundo.
(Ouve-se o telefone a chamar no estúdio)
Jorge – Vamos lá ver se ele o pode então ajudar.
Olá, ligou para o telefone de Jesus Cristo. De momento não posso atender a sua chamada, por favor, deixe recado após o sinal, entrarei em contacto consigo assim que puder.
(Burburinho no estúdio)
Jorge – Está com azar…!
Concorrente – Pelos vistos…
Jorge – A quem é que vamos ligar agora em substituição do seu amigo que tem o telefone desligado? Tem mais alguém entendido neste assunto?
Concorrente – Eeerrr, vou ligar ao pai dele, Deus.
Jorge – Pai dele…? Isto hoje fica tudo em família…!
Concorrente – É verdade
Jorge - E o que é que faz Deus?
Concorrente – É reformado
Jorge – E o que é que fazia antes de se reformar?
Concorrente – Foi fundador duma organização de prestação de serviços lúdicos.
Jorge – Vamos então ver se tem mais sorte desta vez com a sua ajuda telefónica.
(Concorrente aproveita para beber um gole de água enquanto se ouve o telefone a chamar)
Deus – Estou sim
Jorge – Deus?, olá, boa noite, fala Jorge do “Quem quer ser Miliotário”. Como está?
Deus – Eu sei que é você, Jorge. Eu estou bem, sempre bem.
Jorge – Sabia que era eu…?!?
Deus – Sim, Jorge sabia. Como está a mulher, os miúdos? Pergunta parva. Estão bem. Tem é de ter cuidado com um deles, aquele dente do siso pode infectar. Pode infectar….! Vai infectar mesmo, que estou para aqui eu a dizer! E avise a sua mulher para baixar o lume que não tarda tem o arroz todo queimado.
Jorge – Deus, vamos voltar ao que interessa. Vou-lhe pedir que se concentre, vai ter trinta segundos para falar com o seu amigo que está aqui e que precisa da sua ajuda para responder à nona pergunta e chegar aos dez mil euros.
Deus – Deixa-se disso, homem, não é preciso. É a resposta A.
Jorge – Mas como é que você sabe se ainda não ouviu a pergunta?
Concorrente – Deus, tens a certeza pá?
Deus – Claro que tenho, que raio de pergunta é essa. Então não te lembras que eu sei estas coisas todas…?
Concorrente – Obrigado. Depois pago-te um jantar.
Deus – Abraço e boa sorte para as próximas. É verdade, por falar nisso, decora aí: as próximas respostas são B D D A C. Apanhaste todas?
Concorrente – Sim, sim, pá, muito obrigado…!
Deus – Pronto, vá. Adeus. Boa noite, Jorge.
Jorge – Boa noite…
(Curto silêncio)
Jorge – É a primeira vez que me deparo com uma situação destas e já faço televisão há muito tempo.
(Concorrente manda uma valente gargalhada)
Jorge – Vai aceitar a resposta do seu amigo…?
Concorrente – Sim
Jorge – Mesmo depois de ter dito que tinha certeza que essa não era a resposta certa?
Concorrente – Eu confio nele. Ele sabe sobre muita coisa.
(Outra curta pausa em que Jorge fica a olhar nos olhos o concorrente)
Jorge – Vamos então bloquear a resposta A?
Concorrente - Sim
Jorge - Seja feita a sua vontade
Jorge – Tem total certeza em relação às respostas A e C?
Concorrente – Sim… Eu penso que sim…
Jorge – Pensa ou tem a certeza?
(Concorrente solta risinho nervoso)
Jorge – Deixe-me fazer a pergunta doutra forma: neste momento, qual lhe parece ser a resposta certa?
Concorrente – Huuumm… Talvez a D, mas não tenho certeza.
Jorge – Depois de me ter dito isto tudo, não acha que é melhor gastar uma ajuda?
Concorrente – Eu não queria gastar…
Jorge – Olhe que eu já vi muitos que, por não querer gastar, saíram dessa cadeira mais depressa…
(Concorrente fica a pensar)
Jorge – O que é que vamos fazer…?
(Concorrente suspira)
Concorrente – Vou usar a ajuda do telefone.
Jorge – Vai então usar a ajuda do telefone para esta nona pergunta. Parece-me sensato uma vez que não tem certeza. Diga-me, a quem vamos então ligar?
Concorrente – Ao Jesus Cristo.
Jorge – É seu amigo, seu familiar…?
Concorrente – É um amigo meu.
Jorge – E o que é que ele faz?
Concorrente – É representante mundial duma associação com fins lucrativos.
Jorge – E ele é especialista neste assunto da pergunta?
Concorrente – Ele é especialista em tudo, tem uma cultura geral fantástica e uma memória do outro mundo.
(Ouve-se o telefone a chamar no estúdio)
Jorge – Vamos lá ver se ele o pode então ajudar.
Olá, ligou para o telefone de Jesus Cristo. De momento não posso atender a sua chamada, por favor, deixe recado após o sinal, entrarei em contacto consigo assim que puder.
(Burburinho no estúdio)
Jorge – Está com azar…!
Concorrente – Pelos vistos…
Jorge – A quem é que vamos ligar agora em substituição do seu amigo que tem o telefone desligado? Tem mais alguém entendido neste assunto?
Concorrente – Eeerrr, vou ligar ao pai dele, Deus.
Jorge – Pai dele…? Isto hoje fica tudo em família…!
Concorrente – É verdade
Jorge - E o que é que faz Deus?
Concorrente – É reformado
Jorge – E o que é que fazia antes de se reformar?
Concorrente – Foi fundador duma organização de prestação de serviços lúdicos.
Jorge – Vamos então ver se tem mais sorte desta vez com a sua ajuda telefónica.
(Concorrente aproveita para beber um gole de água enquanto se ouve o telefone a chamar)
Deus – Estou sim
Jorge – Deus?, olá, boa noite, fala Jorge do “Quem quer ser Miliotário”. Como está?
Deus – Eu sei que é você, Jorge. Eu estou bem, sempre bem.
Jorge – Sabia que era eu…?!?
Deus – Sim, Jorge sabia. Como está a mulher, os miúdos? Pergunta parva. Estão bem. Tem é de ter cuidado com um deles, aquele dente do siso pode infectar. Pode infectar….! Vai infectar mesmo, que estou para aqui eu a dizer! E avise a sua mulher para baixar o lume que não tarda tem o arroz todo queimado.
Jorge – Deus, vamos voltar ao que interessa. Vou-lhe pedir que se concentre, vai ter trinta segundos para falar com o seu amigo que está aqui e que precisa da sua ajuda para responder à nona pergunta e chegar aos dez mil euros.
Deus – Deixa-se disso, homem, não é preciso. É a resposta A.
Jorge – Mas como é que você sabe se ainda não ouviu a pergunta?
Concorrente – Deus, tens a certeza pá?
Deus – Claro que tenho, que raio de pergunta é essa. Então não te lembras que eu sei estas coisas todas…?
Concorrente – Obrigado. Depois pago-te um jantar.
Deus – Abraço e boa sorte para as próximas. É verdade, por falar nisso, decora aí: as próximas respostas são B D D A C. Apanhaste todas?
Concorrente – Sim, sim, pá, muito obrigado…!
Deus – Pronto, vá. Adeus. Boa noite, Jorge.
Jorge – Boa noite…
(Curto silêncio)
Jorge – É a primeira vez que me deparo com uma situação destas e já faço televisão há muito tempo.
(Concorrente manda uma valente gargalhada)
Jorge – Vai aceitar a resposta do seu amigo…?
Concorrente – Sim
Jorge – Mesmo depois de ter dito que tinha certeza que essa não era a resposta certa?
Concorrente – Eu confio nele. Ele sabe sobre muita coisa.
(Outra curta pausa em que Jorge fica a olhar nos olhos o concorrente)
Jorge – Vamos então bloquear a resposta A?
Concorrente - Sim
Jorge - Seja feita a sua vontade
sábado, outubro 23, 2004
Já há cerca de três quinze dias - que os comentários dominicais, qual missa tardia, se foram. E eu sinto-me perdido. À deriva. Arrastado como um barco ao sabor da corrente, com a apatia de quem não sabe como inverter o rumo dos acontecimentos, de quem não sabe como se desenvencilhar.
Como vou agora poder ter uma opinião sobre os assuntos? Como vou poder ser um verdadeiro cidadão com o dever democrático de intervir na construção da sociedade em que me insiro? Eu que contava com aquelas palavras sábias, imparciais, críticas fundamentais, que bebia com entusiasmo de um aprendiz de feiticeiro. Qual relação de mestre aluno, avô neto.
A minha vida política morreu no dia em que o Professor se pisgou.
Como vou agora poder ter uma opinião sobre os assuntos? Como vou poder ser um verdadeiro cidadão com o dever democrático de intervir na construção da sociedade em que me insiro? Eu que contava com aquelas palavras sábias, imparciais, críticas fundamentais, que bebia com entusiasmo de um aprendiz de feiticeiro. Qual relação de mestre aluno, avô neto.
A minha vida política morreu no dia em que o Professor se pisgou.
sexta-feira, outubro 22, 2004
Muito bonitinhos - aparecem sempre eles naqueles instantes da conversa que reservam ao olhar muito pouco indiscreto das câmaras e dos jornalistas. Muito bem dispostos, sorridentes, amigáveis. Unha e carne, amigos de longa data.
Talvez por isso, uma questão de cortesia, ou talvez de acordo com aqueloutra interpretação, a da subserviência do país pequeno e complexado, o nosso Primeiro, cheio de coragem política, avançou com umas palavritas que, não parecendo totalmente improvisadas, ao mesmo tempo, pareciam à laia de desgarrada. Queria ele dizer que deseja que o nosso país e Alemanha sejam bons amigos. Foi assim:
Ich wünsche, dass Portugal und Deutschland sind guten Freunden
Aparte possíveis erros de declinação no adjectivo “gut” ou, quiçá, erro no tempo verbal de “sein”, a verdade é que não sei se deveria ser conjuntivo, há uma coisa da qual tenho absoluta certeza que só pode ter soado atrozmente aos ouvidos do chanceler, como soaria aos de qualquer alemão.
Caro Santana, uma das regras básicas, basilares do idioma: numa frase subordinativa, o verbo vai sempre, e este é um sempre sem qualquer margem para excepções, não estivéssemos nós a falar de germânicos, ao fim. Ou seja:
Ich wünsche dass Portugal und Deutschland guten Freunden sind
Eu sei que não dá jeito nenhum, que é completamente contra-intuitivo e descabido, mas é assim que os gajos acham que se deve falar. É esta a lógica dos caramelos.
Ou não fossem eles alemães.
Talvez por isso, uma questão de cortesia, ou talvez de acordo com aqueloutra interpretação, a da subserviência do país pequeno e complexado, o nosso Primeiro, cheio de coragem política, avançou com umas palavritas que, não parecendo totalmente improvisadas, ao mesmo tempo, pareciam à laia de desgarrada. Queria ele dizer que deseja que o nosso país e Alemanha sejam bons amigos. Foi assim:
Ich wünsche, dass Portugal und Deutschland sind guten Freunden
Aparte possíveis erros de declinação no adjectivo “gut” ou, quiçá, erro no tempo verbal de “sein”, a verdade é que não sei se deveria ser conjuntivo, há uma coisa da qual tenho absoluta certeza que só pode ter soado atrozmente aos ouvidos do chanceler, como soaria aos de qualquer alemão.
Caro Santana, uma das regras básicas, basilares do idioma: numa frase subordinativa, o verbo vai sempre, e este é um sempre sem qualquer margem para excepções, não estivéssemos nós a falar de germânicos, ao fim. Ou seja:
Ich wünsche dass Portugal und Deutschland guten Freunden sind
Eu sei que não dá jeito nenhum, que é completamente contra-intuitivo e descabido, mas é assim que os gajos acham que se deve falar. É esta a lógica dos caramelos.
Ou não fossem eles alemães.
quinta-feira, outubro 21, 2004
quarta-feira, outubro 20, 2004
Aquelas coisas - que ouvimos na primária e das quais, acaso do destino, nos lembramos (ou não, no caso do subconsciente), ficam para sempre tão grudadas em nós que são das leis que temos mais dificuldade em ver quebradas. Uma dessas leis é a impossibilidade de acentuar mais do que uma vez uma dada palavra portuguesa. Ou é aguda, ou é grave ou é esdrúxula. Neste último caso, tem de ser forçosamente acentuada.
É claro que, como boa regra que é, que se preze, tem as suas excepções. Que, como boas excepções que são, causam perplexidade, celeuma, assemelham-se-nos como totalmente e indiscutivelmente erradas. Assim de repente, algumas de que me lembro: órgão, bênção, Estêvão. E depois há também alguns nomes de terras: Piódão (perto da Covilhã), Sátão (perto de Viseu).
Tudo sonoridades diferentes
É claro que, como boa regra que é, que se preze, tem as suas excepções. Que, como boas excepções que são, causam perplexidade, celeuma, assemelham-se-nos como totalmente e indiscutivelmente erradas. Assim de repente, algumas de que me lembro: órgão, bênção, Estêvão. E depois há também alguns nomes de terras: Piódão (perto da Covilhã), Sátão (perto de Viseu).
Tudo sonoridades diferentes
terça-feira, outubro 19, 2004
segunda-feira, outubro 18, 2004
There on the street where I live
I met a neighbour, separated from her husband, she is living by herself
Besides being pretty, she’s a well of goodness
Seeing my car in the rain she offered her garage
She said no one uses it since he left me
Inside my garage spider webs he gathered
Put your car here otherwise it will rust
It’s a used garage but your car will like it
I put the car, I take the car at the time that I want
What a tight little garage, what a sweet woman
I take it out early, I put it at night and sometimes in the evening
I’m even changing the oil in the garage of the neighbour.
But my strong car has a beautiful trailer
That I use to sell coconuts to make some change
The garage is small, what shall I do now?
My car stays in and the coconuts stay out
My neighbour is good, of the garage I’ll take care
By the door the woods grew, I cut it off
The goodness of the neighbour is from another world
When I’m not using that of the front I use the back garage
I put the car, I take the car at the time that I want
What a tight little garage, what a sweet woman
I take it out early, I put it at night and sometimes in the evening
I’m even changing the oil in the garage of the neighbour.
I met a neighbour, separated from her husband, she is living by herself
Besides being pretty, she’s a well of goodness
Seeing my car in the rain she offered her garage
She said no one uses it since he left me
Inside my garage spider webs he gathered
Put your car here otherwise it will rust
It’s a used garage but your car will like it
I put the car, I take the car at the time that I want
What a tight little garage, what a sweet woman
I take it out early, I put it at night and sometimes in the evening
I’m even changing the oil in the garage of the neighbour.
But my strong car has a beautiful trailer
That I use to sell coconuts to make some change
The garage is small, what shall I do now?
My car stays in and the coconuts stay out
My neighbour is good, of the garage I’ll take care
By the door the woods grew, I cut it off
The goodness of the neighbour is from another world
When I’m not using that of the front I use the back garage
I put the car, I take the car at the time that I want
What a tight little garage, what a sweet woman
I take it out early, I put it at night and sometimes in the evening
I’m even changing the oil in the garage of the neighbour.
domingo, outubro 17, 2004
A jornada - começa por volta do meio-dia, meio-dia e meia no embarcadouro da Régua. Um barco estilo cacilheiro, mas sem laivos de cor-de-laranja, estende a sua escada, devidamente ornamentada com o slogan "cruzeiro de luxo", e vai acolhendo os nacionais e estrangeiros com reserva feita. Instalados numa mesa algo exígua, a paisagem estende-se pelos janelões que exibem águas, correntes, encostas de verde predominante.
A refeição não é nada má, as pessoas são simpáticas, o ambiente é descontraído. São três e picos as horas que nos levam até ao Pinhão, depois de passar pela comporta duma barragem. Segue-se uma prova de vinho do Porto, que entretem até perto das cinco horas, altura em que começa a ver-se ao fundo o fumo do próximo meio de transporte.
A mim fez-me lembrar filmes de outras épocas, fez-me lembrar particularmente de séries como o Poirot, em que, mais tarde ou mais cedo, aparecia um uma daquelas máquinas a vapor que trilhavam os carris. As carruagens são de madeira a condizer, bancos rijos mas confortáveis.
Não fosse a fuligem que se infiltra pela roupa adentro, que faz cócegas no nariz e no fundo da garganta, e até apeteceria aproveitar todo aquele carvão para um churrascozito. Quiçá, umas sardinhitas assadas à maneira. Ficamos é a pensar quantas vezes por ano pintarão a casa aqueles que moram mesmo rente à linha e os problemas respiratórios dos maquinistas que nem sequer máscara utilizam.
Tua à vista, pouco tempo depois. O problema é a linha única que serpenteia pela margem norte do rio de ouro. Obriga-nos a parar uma hora num café onde passa o jogo Alemanha-Irão enquanto não passa o outro comboio e nos desimpede a via. Sentido inverso, cerca de uma hora até regressar ao Pinhão. Até lá, música tradicional, castiça, provas de vinho, tudo a condizer com a ambiência.
A refeição não é nada má, as pessoas são simpáticas, o ambiente é descontraído. São três e picos as horas que nos levam até ao Pinhão, depois de passar pela comporta duma barragem. Segue-se uma prova de vinho do Porto, que entretem até perto das cinco horas, altura em que começa a ver-se ao fundo o fumo do próximo meio de transporte.
A mim fez-me lembrar filmes de outras épocas, fez-me lembrar particularmente de séries como o Poirot, em que, mais tarde ou mais cedo, aparecia um uma daquelas máquinas a vapor que trilhavam os carris. As carruagens são de madeira a condizer, bancos rijos mas confortáveis.
Não fosse a fuligem que se infiltra pela roupa adentro, que faz cócegas no nariz e no fundo da garganta, e até apeteceria aproveitar todo aquele carvão para um churrascozito. Quiçá, umas sardinhitas assadas à maneira. Ficamos é a pensar quantas vezes por ano pintarão a casa aqueles que moram mesmo rente à linha e os problemas respiratórios dos maquinistas que nem sequer máscara utilizam.
Tua à vista, pouco tempo depois. O problema é a linha única que serpenteia pela margem norte do rio de ouro. Obriga-nos a parar uma hora num café onde passa o jogo Alemanha-Irão enquanto não passa o outro comboio e nos desimpede a via. Sentido inverso, cerca de uma hora até regressar ao Pinhão. Até lá, música tradicional, castiça, provas de vinho, tudo a condizer com a ambiência.
sábado, outubro 16, 2004
Nunca é demais parabenizar -, para usar uma expressão que está muito na berra. É verdade, o Paulão deixou a CGD para trás e fez uma grande movimentação para o ICEP, onde irá fazer parte dum conjunto de trainees durante uma temporada, para depois, lá para início do ano que vem, ser integrado numa qualquer instituição ou empresa sedeada ou com ramos no estrangeiro.
Congratulations pour un fait bien accompli, mec. Je te souhaite des bonnes réussites, du bonheur et tout ce genre de choses. Surtout un bon placement, un endroit où tu ne sois pas dépaysé, et où je te puisse rendre une toute petite visite.
Congratulations pour un fait bien accompli, mec. Je te souhaite des bonnes réussites, du bonheur et tout ce genre de choses. Surtout un bon placement, un endroit où tu ne sois pas dépaysé, et où je te puisse rendre une toute petite visite.
A runião – para debater o pograma era para já ter começado. Mas ele tardava em não aparecer. Ficaram a olhar-se com impaciência, estranhando o facto de não estar pesente. Mesmo ciente da política anti-fumo nas salas e corredores, puxou ostensivamente do maço de king size e do esqueiro.
Até que o tefone tocou.
Até que o tefone tocou.
sexta-feira, outubro 15, 2004
“Quando a ouviu dizer que não era católica, embora cristã sim, a carinha redonda do padre empalideceu. Dando um pequeno saltinho, quis saber se isso significava que a senhora era protestante. Flora explicou-lhe que não: acreditava em Jesus mas não na Igreja, porque, no seu critério, a religião católica coarctava a liberdade humana devido ao seu sistema vertical. E as suas crenças dogmáticas sufocavam a vida intelectual, o livre arbítrio, as iniciativas científicas. Além disso, os seus ensinamentos sobre a castidade como símbolo da pureza espiritual exacerbavam os preconceitos que tinham feito da mulher pouco menos que uma escrava.”
In “O Paraíso na Outra Esquina”, Mário Vargas Llosa
In “O Paraíso na Outra Esquina”, Mário Vargas Llosa
quinta-feira, outubro 14, 2004
Empatar - com uns tipos que jogam à bola só nos tempos vagos, que são bombeiros e carteiros e polícias e jardineiros como ocupação principal, é terrível Mas, mais absurdo ainda, quando há um gajo de seu nome Petit resolve fazer o gosto ao pé e meter golaços, ainda por cima aos pares, está tudo dito, nada mais há a acrescentar. Vi-os há bocado nas notícias.
Sete a um é muita fruta…
Sete a um é muita fruta…
Pronto - , está tudo entendido. De repente fez-se luz e percebi tudo. A Academia Sueca resolve atribuir prémios a malta das Africas e de países moderadamente frios e depois faz a cerimónia lá para Dezembro.
Uma tentativa escandalosa de os demover de se deslocarem para reclamar o carcanhol.
Uma tentativa escandalosa de os demover de se deslocarem para reclamar o carcanhol.
terça-feira, outubro 12, 2004
Quando vieste
Para mim
Outra vez
Assim
Como quem
Porém
Nunca partira
E disseste
Voltei
Para ti
Outra vez
Senti
Como se
Nem sequer
Tivesses partido
Perguntei
Porquê
Para mim
Outra vez
Assim
Como quem
Porém
Nunca partira
Não disseste
Para mim
Outra vez
Assim
Como quem
Porém
Nunca partira
E disseste
Voltei
Para ti
Outra vez
Senti
Como se
Nem sequer
Tivesses partido
Perguntei
Porquê
Para mim
Outra vez
Assim
Como quem
Porém
Nunca partira
Não disseste
segunda-feira, outubro 11, 2004
Há coisas que foram feitas - para baralhar, confundir, trocas as voltas, pôr-nos a congeminar toda e qualquer hipótese que fundamente a sua existência. Querem exemplos? Tudo bem, eu chego-me à frente com coragem , garra, força de vontade e pujança e avanço com um tema que, confesso, por vezes me tira do sério e outras tantas, tira-me o sono. Os risos e gargalhadas nas séries cómicas.
Ora, todos nós sabemos que a maioria deste tipo de programas não são gravados com uma assistência a ver. Apenas uma ligeira minoria, como o velhinho “Príncipe de Bel-Air” ou o tão luso-brasileiro “Sai de baixo”. Ou seja, isto é equivalente a dizer que todos nós sabemos que o pessoal que se ri nas sitcoms não está efectivamente a rir-se daquela cena em particular, o mais certo é estar a rir-se doutra coisas e o seu som ter sido captado, ou estar simplesmente a provocar um riso sem piada que o fundamente.
Então, porque razão vivem estes programas destas demonstrações de consentimento humorístico se todos sabemos que são falsas? Será que somos incapazes de perceber as piadas e, portanto, precisamos de ouvir alguém começar a soltar a gargalhada lá do fundo para arrancarmos uma das nossas também?
A coisa é tão bem estruturada que até há diferentes níveis de riso. Há aquele que é aplicado a piadas medianas, simples, singelo, moderadamente curto, uma duas aceleradelas e já está. E depois há o registo das bandeiras despregadas, aquele que só se usa uma ou outra vez no episódio todo, que marca, indelevelmente, os portentos, as verdadeiras punchlines que tanto trabalho deram aos criadores dos textos.
Mas se, depois destes anos todos, continuam a ser usados, alguma razão deve haver.
Ora, todos nós sabemos que a maioria deste tipo de programas não são gravados com uma assistência a ver. Apenas uma ligeira minoria, como o velhinho “Príncipe de Bel-Air” ou o tão luso-brasileiro “Sai de baixo”. Ou seja, isto é equivalente a dizer que todos nós sabemos que o pessoal que se ri nas sitcoms não está efectivamente a rir-se daquela cena em particular, o mais certo é estar a rir-se doutra coisas e o seu som ter sido captado, ou estar simplesmente a provocar um riso sem piada que o fundamente.
Então, porque razão vivem estes programas destas demonstrações de consentimento humorístico se todos sabemos que são falsas? Será que somos incapazes de perceber as piadas e, portanto, precisamos de ouvir alguém começar a soltar a gargalhada lá do fundo para arrancarmos uma das nossas também?
A coisa é tão bem estruturada que até há diferentes níveis de riso. Há aquele que é aplicado a piadas medianas, simples, singelo, moderadamente curto, uma duas aceleradelas e já está. E depois há o registo das bandeiras despregadas, aquele que só se usa uma ou outra vez no episódio todo, que marca, indelevelmente, os portentos, as verdadeiras punchlines que tanto trabalho deram aos criadores dos textos.
Mas se, depois destes anos todos, continuam a ser usados, alguma razão deve haver.
domingo, outubro 10, 2004
Sempre - o intrigou a forma como aqueles olhos o olhavam. Agradava-lhe sentir-se analisado até certo ponto. Às vezes achava a incidência excessiva, desproporcionada. Sentia-se despido de tudo, escrutinado ao mais ínfimo detalhe. Ficava desconfortável. A reacção era fechar-se no casulo, fingir-se diferente, dar pistas e ideias contraditórias, baralhar.
Nem sempre o conseguia.
Nem sempre o conseguia.
sexta-feira, outubro 08, 2004
Hipoxia - Passar um dia fechado num ambiente climatizado, vulgo, ar condicionado à força toda, tem vantagens, sim senhor, não nego. É, possivelmente, a única forma dum gajo suportar a gravata sem estrebuchar de calor numa morte agoniante. Realmente, aqueles aparelhos conseguem criar pequenas “ilhas” onde a temperatura permanece estavelmente fresquinha, de tal forma que, quando saímos à rua, parece que saímos do avião num país tropical.
Porém, nem tudo são rosas, há o reverso da medalha. O ar fica de tal forma seco que todos lá dentro parecemos alpinistas. Daqueles da alta montanha, Everestes e coisas do género. A garganta começa a secar, o corpo respira fortemente, exala imenso dióxido de carbono, o que tem consequências sobre o nível de Ph do sangue. Várias coisas podem suceder-se, desde fadiga extrema a dores de cabeça, desorientação até, inclusive, edemas cerebrais.
A forma de lidar com este gravíssimo problema é estar constantemente a “fazer líquidos”, na terminologia dos homens da montanha. Os líquidos que se perdem têm de ser repostos. Beber água à grande e à valente, para que o sangue não fique espesso e a circulação nas extremidades corporais não se torne deficitária.
Senhor trabalhador em ambiente climatizado, não se esqueça da sua garrafinha de água.
Porém, nem tudo são rosas, há o reverso da medalha. O ar fica de tal forma seco que todos lá dentro parecemos alpinistas. Daqueles da alta montanha, Everestes e coisas do género. A garganta começa a secar, o corpo respira fortemente, exala imenso dióxido de carbono, o que tem consequências sobre o nível de Ph do sangue. Várias coisas podem suceder-se, desde fadiga extrema a dores de cabeça, desorientação até, inclusive, edemas cerebrais.
A forma de lidar com este gravíssimo problema é estar constantemente a “fazer líquidos”, na terminologia dos homens da montanha. Os líquidos que se perdem têm de ser repostos. Beber água à grande e à valente, para que o sangue não fique espesso e a circulação nas extremidades corporais não se torne deficitária.
Senhor trabalhador em ambiente climatizado, não se esqueça da sua garrafinha de água.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Para uma provocação sobre as presidenciais americanas, clique aqui
Era de um feminismo feroz - , acérrimo, desproporcionado. Parecia-se mais a um sentimento anti-masculino. E então dizia que o único defeito do pénis era trazer um homem agarrado.
É altamente provável - que o meu PC tenha sido afectado por um vírus. Não sei ainda. O que sei é que tenho muita dificuldade em correr o procedimento normal do site do blogger para pôr textos on-line. Fica aqui a curta explicação para a recente ausência prolongada.
Que, entretanto, espero que passe depressa, vou tentar resolver o assunto
Que, entretanto, espero que passe depressa, vou tentar resolver o assunto
quarta-feira, outubro 06, 2004
Um belo dia, andava eu algures parte incerta, a fazer não-sei-quê, quando me choveu a ideia de que há, por toda a parte, uma série de pessoas e de coisas que tiveram sucesso sem se perceber muito bem como nem porquê. Não sei se hei-de fazer disto uma rubrica qualquer coisa do tipo “estranhos casos de sucesso” ou se hei-de apenas chutar este texto que se segue, tudo dependerá do desenrolar das ideias. De qualquer das formas, aqui fica um “estranho caso de sucesso para hoje.
Golfinhos - O auge ocorreu há uns anos atrás, toda a gente tinha as músicas dos Delfins na ponta da língua. Houve o célebre concerto em Cascais lá para o distante ano de 1996, na baía, onde os tipos aproveitaram para celebrizar uma música originalíssima, com o mesmo nome do local do espectáculo.
Seria uma moda, algo bem publicitado, uma obra-prima, um verdadeiro case-study do marketing? Sempre tive uma enorme dificuldade em entender o que havia de tão especial na música deles. Exactamente porque nunca achei nada de especial. O Miguel Ângelo, chato e sofrível; o guitarrista, Fernando qualquer-coisa-que-agora-não-me-lembro, cinzentão e desengraçado à brava. Safavam-se os outros dois que seguravam as traves rítmicas.
Então, para quem lidava com pessoas que inclusivamente os conheciam porque cresceram ao lado deles em Cascais, andaram juntos na escola e essas coisas todas, era bem pior. Nem sempre podia dar azo à minha vontade de ser honesto e dizer aquilo que efectivamente pensava.
Agora desapareceram um bocado. Um concerto nos jardins do Casino Estoril na passagem de ano de há uns dois anos é tudo quanto sei deles. Será que finalmente temas como “não sejas silly, não sejas silicone” afastaram de vez as pessoas? Será que esgotaram totalmente o goodwill que tinham e ninguém mais tenha paciência para eles a não ser numa postura nostálgica do vamos lá só para relembrar como eles eram?
Melhor será ficar por aqui e não agitar as águas. Não vá acordar o monstro adormecido.
Golfinhos - O auge ocorreu há uns anos atrás, toda a gente tinha as músicas dos Delfins na ponta da língua. Houve o célebre concerto em Cascais lá para o distante ano de 1996, na baía, onde os tipos aproveitaram para celebrizar uma música originalíssima, com o mesmo nome do local do espectáculo.
Seria uma moda, algo bem publicitado, uma obra-prima, um verdadeiro case-study do marketing? Sempre tive uma enorme dificuldade em entender o que havia de tão especial na música deles. Exactamente porque nunca achei nada de especial. O Miguel Ângelo, chato e sofrível; o guitarrista, Fernando qualquer-coisa-que-agora-não-me-lembro, cinzentão e desengraçado à brava. Safavam-se os outros dois que seguravam as traves rítmicas.
Então, para quem lidava com pessoas que inclusivamente os conheciam porque cresceram ao lado deles em Cascais, andaram juntos na escola e essas coisas todas, era bem pior. Nem sempre podia dar azo à minha vontade de ser honesto e dizer aquilo que efectivamente pensava.
Agora desapareceram um bocado. Um concerto nos jardins do Casino Estoril na passagem de ano de há uns dois anos é tudo quanto sei deles. Será que finalmente temas como “não sejas silly, não sejas silicone” afastaram de vez as pessoas? Será que esgotaram totalmente o goodwill que tinham e ninguém mais tenha paciência para eles a não ser numa postura nostálgica do vamos lá só para relembrar como eles eram?
Melhor será ficar por aqui e não agitar as águas. Não vá acordar o monstro adormecido.
segunda-feira, outubro 04, 2004
Admirado - Uma semana inteira de procissões intermináveis, que bloqueiam ruas da cidade por completo e atraem pessoas do resto do país para as contemplar. Capuzes brancos na cabeça, a fazer lembrar Klu Klux Klan, cânticos surdos, graves, mórbidos, quase fúnebres. Iconolatria extrema, figuras de santas minuciosamente decoradas com flores e velas. Devoção, pessoas que passam o ano a preparar aquele momento, aquela semana, qual Carnaval do Rio.
É este o aspecto de muitas cidades espanholas por alturas da Semana Santa e uma das imagens que melhor guardo do país já aqui ao lado. Dedicação, fé, entrega, seja o que for que lhe chamemos, a Espanha, a par dos demais países latinos, continua a ter um grande apego à Igreja Católica.
A semana passada, o governo socialista de Zapatero aprovou uma lei que permite o casamento entre homossexuais, com a total equiparação de direitos em relação a casais heterossexuais, entre os quais, o direito à adopção de crianças. Uma mexida profunda deste tipo num país do norte da Europa não me impressionaria assim por aí além.
Agora já aqui ao lado, confesso que me impressionou.
É este o aspecto de muitas cidades espanholas por alturas da Semana Santa e uma das imagens que melhor guardo do país já aqui ao lado. Dedicação, fé, entrega, seja o que for que lhe chamemos, a Espanha, a par dos demais países latinos, continua a ter um grande apego à Igreja Católica.
A semana passada, o governo socialista de Zapatero aprovou uma lei que permite o casamento entre homossexuais, com a total equiparação de direitos em relação a casais heterossexuais, entre os quais, o direito à adopção de crianças. Uma mexida profunda deste tipo num país do norte da Europa não me impressionaria assim por aí além.
Agora já aqui ao lado, confesso que me impressionou.
sábado, outubro 02, 2004
Penso que é curiosidade geral querer saber o que pensam professores dos quais gostámos em relação a assuntos quentes da vida quotidiana. Aqui está um artigo de opinião de Luís Campos e Cunha que apanhei um dia destes n’O Público. Não consegui perceber se ele escreve regularmente para o jornal ou se foi participação pontual. Mesmo para aqueles que não o conhecem, não deixa de ser interessante dar uma olhadela.
«Sete medidas para um programa de esquerda – Estas sete propostas, naturalmente, não pretendem constituir um programa de governo, mas no seu conjunto teriam maior impacto no nosso futuro que muitos programas a que temos sido sujeitos. A maioria das medidas são, mais ou menos, conhecidas e até têm sido levadas a cabo nalguns países europeus. O que este texto tem de novo é a defesa articulada de medidas que poderiam ser o sal dum programa de esquerda para mudar o país. Obviamente, cada uma delas teria que ser devidamente enquadrada num conjunto mais vasto.
1. Acabar com o sigilo fiscal (a par de uma declaração de riqueza) constitui a minha primeira proposta, seguindo, aliás, a prática dos países escandinavos. O acesso geral aos rendimentos brutos de cada um seria uma forma muito eficaz de controlo pelos cidadãos da evasão fiscal. Este combate terá sempre um impacto pequeno na consolidação orçamental, mas por razões de moralidade e equidade é absolutamente necessário prosseguir essa luta. Acabar com o sigilo bancário é menos eficaz e teria efeitos muito negativos no sistema de pagamentos a retalho, actualmente um dos mais eficientes do mundo, com os correspondentes custos para o consumidor. Não deixa de ser exemplar o que se passou na vizinha Espanha, em que o fim do sigilo bancário para efeitos fiscais levou ao surgimento de “gangs” especialistas em extorsão (pelas contas bancárias fica-se a saber a vidinha de cada um…) e de acordo com os “rankings” mundiais a Espanha continua a ter níveis de corrupção semelhantes a Portugal. Note-se que o sigilo bancário para efeitos fiscais já foi muito suavizado no segundo governo socialista e, naturalmente, não existe para crimes graves como tráfico de droga, prostituição, lavagem de dinheiro.
2. A segunda medida proposta também teria impacto fundamental na moralização da vida pública portuguesa: alterar a lei da droga. A droga deveria ser distribuída gratuitamente por receita médica, acabando, assim, com a possibilidade de realização de lucros ao maior negócio provavelmente existente em Portugal. O marketing dos traficantes deixaria de existir, “dealers” deixariam de ter interesse em seduzir os nossos filhos, a sociedade e as instituições seriam menos corrompidas e todos estaríamos mais seguros. Neste aspecto o exemplo dos suíços – também eles são um pequeno país – deveria ser tomado como referência.
3. Na área partidária é fundamental acabar com o financiamento privado dos partidos. Esta terceira proposta de financiamento exclusivamente público, que há muito vem sendo falada, permitiria isolar os partidos de compromissos pouco claros e de conflitos de interesses a que estão sujeitos, ficando mais imunes a “lobbies” ilegítimos, quando não mesmo ilegais.
4. Mas é também necessário atrair mais e melhores pessoas para a actividade política. Há dias, por mero acaso, revi a lista dos deputados-constituintes de 1975-76. De facto, estava lá o melhor que o país tinha e, comparativamente, a situação actual é triste e paupérrima, pese embora o empenho de algumas andorinhas em fazerem a Primavera… Sugiro, assim, como quarta proposta, que o vencimento das pessoas em cargos públicos seja (apenas como exemplo) 50 por cento acima da média dos rendimentos do trabalho declarados em IRS nos 3 anos anteriores a tomar posse! Em cargos estritamente políticos é necessário remunerar a função, mas também a pessoa. Desta forma afastar-se-iam da política os menos honestos e poderíamos contar com pessoas mais qualificadas. O impacto na despesa pública seria mais que compensado pelos resultados na qualidade e transparência da governação do país.
5. Noutra área bem diferente, pelo menos aparentemente, seria fundamental acabar com a dependência do financiamento das câmaras em relação a novos projectos urbanísticos. Esta quinta proposta, seria essencial para acabar com a construção indiscriminada, em prejuízo da indústria do turismo de qualidade, da preservação do património arquitectónico e arruinando o ordenamento do território, já para não referir as mais que indesejáveis dependências (de partidos e câmaras) face a empresas de construção civil.
6. Simultaneamente, sexta proposta, seria levantado um imposto sobre a terra: meio cêntimo por metro quadrado, por exemplo. Este imposto seria muito fácil de cobrar e não prejudicaria os mais pobres, o que não deixa de ser muito interessante, pois a teoria económica ensina que os “melhores” impostos são também em geral socialmente injustos. Este caso é a excepção. Mas os efeitos secundários do imposto sobre a terra seriam muito mais importantes. As terras improdutivas seriam postas no mercado, naturalmente os preços cairiam o que beneficiaria o investimento no sector primário. O emparcelamento surgiria sem imposição estatal, o abandono das terras seria penalizado, a dita desertificação seria contrariada... e até os fogos de Verão teriam mais dificuldade em se propagar.
7. Por último, não posso deixar de referir uma medida que me é particularmente cara e que defendo há anos: introduzir o inglês na pré-primária. Já que outra linguagem ninguém ouve, saliente-se que esta é a forma mais barata para o Estado ensinar inglês. Mas muito mais importante, alteraria a prazo a especialização e as vantagens competitivas na localização da actividade económica, factor essencial no mundo globalizado de mobilidade de capitais. Há muito que se refere uma banalidade: “o modelo português de desenvolvimento está esgotado”!Mas a generalização, desde a pré-primária, do ensino de inglês faria mais pelo desenvolvimento que as dezenas de “pedipes” levadas a cabo nos últimos 30 anos! E mais barato, mais uma vez…
Um velho professor meu avisou-me um dia que nunca se põe mais de uma ideia num artigo. Eu ousei falar em sete, mas com a consciência de que cada uma delas merecia um artigo, em especial o problema do sigilo fiscal como contraponto ao sigilo bancário, a alteração das leis da droga e o imposto sobre a terra.
Mais ainda, a lista é manifestamente incompleta. Por exemplo, apenas para falar do ensino superior necessitaria de vários artigos.
No entanto, com estas sete medidas teríamos a prazo, mais ou menos curto, políticos, partidos e um Estado mais fortes e independentes para enfrentarem os grandes “lobbies” e as forças corporativas mais imobilistas. E elas são muitas, desde logo o poder económico, mas também os professores (incluindo os universitários), os juízes, os médicos, os jornalistas…
Um aviso importante: defendendo estas medidas, perder as eleições poderá ser uma honra, mas é também muito provável.»
In O Público, 5 de Setembro de 2004
«Sete medidas para um programa de esquerda – Estas sete propostas, naturalmente, não pretendem constituir um programa de governo, mas no seu conjunto teriam maior impacto no nosso futuro que muitos programas a que temos sido sujeitos. A maioria das medidas são, mais ou menos, conhecidas e até têm sido levadas a cabo nalguns países europeus. O que este texto tem de novo é a defesa articulada de medidas que poderiam ser o sal dum programa de esquerda para mudar o país. Obviamente, cada uma delas teria que ser devidamente enquadrada num conjunto mais vasto.
1. Acabar com o sigilo fiscal (a par de uma declaração de riqueza) constitui a minha primeira proposta, seguindo, aliás, a prática dos países escandinavos. O acesso geral aos rendimentos brutos de cada um seria uma forma muito eficaz de controlo pelos cidadãos da evasão fiscal. Este combate terá sempre um impacto pequeno na consolidação orçamental, mas por razões de moralidade e equidade é absolutamente necessário prosseguir essa luta. Acabar com o sigilo bancário é menos eficaz e teria efeitos muito negativos no sistema de pagamentos a retalho, actualmente um dos mais eficientes do mundo, com os correspondentes custos para o consumidor. Não deixa de ser exemplar o que se passou na vizinha Espanha, em que o fim do sigilo bancário para efeitos fiscais levou ao surgimento de “gangs” especialistas em extorsão (pelas contas bancárias fica-se a saber a vidinha de cada um…) e de acordo com os “rankings” mundiais a Espanha continua a ter níveis de corrupção semelhantes a Portugal. Note-se que o sigilo bancário para efeitos fiscais já foi muito suavizado no segundo governo socialista e, naturalmente, não existe para crimes graves como tráfico de droga, prostituição, lavagem de dinheiro.
2. A segunda medida proposta também teria impacto fundamental na moralização da vida pública portuguesa: alterar a lei da droga. A droga deveria ser distribuída gratuitamente por receita médica, acabando, assim, com a possibilidade de realização de lucros ao maior negócio provavelmente existente em Portugal. O marketing dos traficantes deixaria de existir, “dealers” deixariam de ter interesse em seduzir os nossos filhos, a sociedade e as instituições seriam menos corrompidas e todos estaríamos mais seguros. Neste aspecto o exemplo dos suíços – também eles são um pequeno país – deveria ser tomado como referência.
3. Na área partidária é fundamental acabar com o financiamento privado dos partidos. Esta terceira proposta de financiamento exclusivamente público, que há muito vem sendo falada, permitiria isolar os partidos de compromissos pouco claros e de conflitos de interesses a que estão sujeitos, ficando mais imunes a “lobbies” ilegítimos, quando não mesmo ilegais.
4. Mas é também necessário atrair mais e melhores pessoas para a actividade política. Há dias, por mero acaso, revi a lista dos deputados-constituintes de 1975-76. De facto, estava lá o melhor que o país tinha e, comparativamente, a situação actual é triste e paupérrima, pese embora o empenho de algumas andorinhas em fazerem a Primavera… Sugiro, assim, como quarta proposta, que o vencimento das pessoas em cargos públicos seja (apenas como exemplo) 50 por cento acima da média dos rendimentos do trabalho declarados em IRS nos 3 anos anteriores a tomar posse! Em cargos estritamente políticos é necessário remunerar a função, mas também a pessoa. Desta forma afastar-se-iam da política os menos honestos e poderíamos contar com pessoas mais qualificadas. O impacto na despesa pública seria mais que compensado pelos resultados na qualidade e transparência da governação do país.
5. Noutra área bem diferente, pelo menos aparentemente, seria fundamental acabar com a dependência do financiamento das câmaras em relação a novos projectos urbanísticos. Esta quinta proposta, seria essencial para acabar com a construção indiscriminada, em prejuízo da indústria do turismo de qualidade, da preservação do património arquitectónico e arruinando o ordenamento do território, já para não referir as mais que indesejáveis dependências (de partidos e câmaras) face a empresas de construção civil.
6. Simultaneamente, sexta proposta, seria levantado um imposto sobre a terra: meio cêntimo por metro quadrado, por exemplo. Este imposto seria muito fácil de cobrar e não prejudicaria os mais pobres, o que não deixa de ser muito interessante, pois a teoria económica ensina que os “melhores” impostos são também em geral socialmente injustos. Este caso é a excepção. Mas os efeitos secundários do imposto sobre a terra seriam muito mais importantes. As terras improdutivas seriam postas no mercado, naturalmente os preços cairiam o que beneficiaria o investimento no sector primário. O emparcelamento surgiria sem imposição estatal, o abandono das terras seria penalizado, a dita desertificação seria contrariada... e até os fogos de Verão teriam mais dificuldade em se propagar.
7. Por último, não posso deixar de referir uma medida que me é particularmente cara e que defendo há anos: introduzir o inglês na pré-primária. Já que outra linguagem ninguém ouve, saliente-se que esta é a forma mais barata para o Estado ensinar inglês. Mas muito mais importante, alteraria a prazo a especialização e as vantagens competitivas na localização da actividade económica, factor essencial no mundo globalizado de mobilidade de capitais. Há muito que se refere uma banalidade: “o modelo português de desenvolvimento está esgotado”!Mas a generalização, desde a pré-primária, do ensino de inglês faria mais pelo desenvolvimento que as dezenas de “pedipes” levadas a cabo nos últimos 30 anos! E mais barato, mais uma vez…
Um velho professor meu avisou-me um dia que nunca se põe mais de uma ideia num artigo. Eu ousei falar em sete, mas com a consciência de que cada uma delas merecia um artigo, em especial o problema do sigilo fiscal como contraponto ao sigilo bancário, a alteração das leis da droga e o imposto sobre a terra.
Mais ainda, a lista é manifestamente incompleta. Por exemplo, apenas para falar do ensino superior necessitaria de vários artigos.
No entanto, com estas sete medidas teríamos a prazo, mais ou menos curto, políticos, partidos e um Estado mais fortes e independentes para enfrentarem os grandes “lobbies” e as forças corporativas mais imobilistas. E elas são muitas, desde logo o poder económico, mas também os professores (incluindo os universitários), os juízes, os médicos, os jornalistas…
Um aviso importante: defendendo estas medidas, perder as eleições poderá ser uma honra, mas é também muito provável.»
In O Público, 5 de Setembro de 2004
sexta-feira, outubro 01, 2004
Não tenho nada contra a pessoa - tenho contra a falta de profissionalismo. Mário Augusto, aquele gajo que tem um programa sobre cinema na SIC Notícias. Fala sobre as estreias da semana, o que há-de vir mais tarde, os filmes que estão na forja em Hollywood, enfim, tudo aquilo que seria de esperar dum programa do género.
E, depois, claro está, há as entrevistas. A maioria são compradas, standard, e traduzidas. Uma ou outra são feitas por ele, o que lhe deve dar um gozo brutal. O único problema é que, para alguém que aparentemente gosta de fazer entrevistas a cromos da sétima arte, a esmagadora maioria dos quais inglês falante, nem que seja como segunda língua, não sabe construir uma pergunta no referido idioma. Exemplos ilustrativos da realidade:
You like working with…? You think it’s good to have…?
Caro Mário Augusto, rogo-lhe, por favor, um curto momento da sua atenção. As interrogações em inglês são diferentes das nossas. Aliás, como na maioria das línguas de raízes germânicas. Não basta dizer uma afirmação com acentuação ou ênfase interrogativo. O verbo troca com o sujeito da frase e surge em primeiro lugar. No caso anglo-saxónico, emprega-se o verbo “to do”, auxiliar. Os mesmos exemplos corrigidos:
Do you like working with…? Do you think it’s good to have..?
É que, repare, isto é a sua profissão. Se não fosse da sua responsabilidade levar a cabo estas entrevistas, enfim, não seriam tão marcantes as incorrecções. Agora, a partir do momento em que se trata de conduzir entrevistas desse calibre, fica bastante mal.
E hoje em dia toda a gente fala…
E, depois, claro está, há as entrevistas. A maioria são compradas, standard, e traduzidas. Uma ou outra são feitas por ele, o que lhe deve dar um gozo brutal. O único problema é que, para alguém que aparentemente gosta de fazer entrevistas a cromos da sétima arte, a esmagadora maioria dos quais inglês falante, nem que seja como segunda língua, não sabe construir uma pergunta no referido idioma. Exemplos ilustrativos da realidade:
You like working with…? You think it’s good to have…?
Caro Mário Augusto, rogo-lhe, por favor, um curto momento da sua atenção. As interrogações em inglês são diferentes das nossas. Aliás, como na maioria das línguas de raízes germânicas. Não basta dizer uma afirmação com acentuação ou ênfase interrogativo. O verbo troca com o sujeito da frase e surge em primeiro lugar. No caso anglo-saxónico, emprega-se o verbo “to do”, auxiliar. Os mesmos exemplos corrigidos:
Do you like working with…? Do you think it’s good to have..?
É que, repare, isto é a sua profissão. Se não fosse da sua responsabilidade levar a cabo estas entrevistas, enfim, não seriam tão marcantes as incorrecções. Agora, a partir do momento em que se trata de conduzir entrevistas desse calibre, fica bastante mal.
E hoje em dia toda a gente fala…